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A morte lenta do desporto em Santa Catarina
Ponto de Vista

A morte lenta do desporto em Santa Catarina

As portas que o desporto foi abrindo, ao longo da viagem através da sua história mais recente, em estreita ligação com o progresso social, tem proporcionado a visão idílica de um outro mundo, hipoteticamente diferente, para melhor daquele que vivemos.

De entre todas as razões que motivaram o progresso do desportivo em várias paragens do mundo, nos nossos tempos, goza de destaque as profundas transformações que causa na sociedade. Não é por acaso que aqueles que estudam o desporto contemporâneo consideram-no um fenómeno social devido ao seu poder “metamorfoseador” da sociedade.

O desporto dos tempos atuais é um elemento que auxilia os humanos na construção de uma sociedade suficientemente homogênea. Lembremo-nos que Durkheim (1973) nos ensina que a sociedade só pode viver se entre os seus membros existir uma suficiente homogeneidade. O desporto perpetua e reforça essa homogeneidade, fixando desde cedo na alma da criança e do adolescente as semelhanças essenciais que a vida colectiva supõe.

Existem ainda aqueles que vão mais longe, advogando que o desporto, a par da educação, convenientemente entendidos, constitui a chave do progresso de uma civilização. Ele está inevitavelmente ligado à questão da inserção social, fomenta laços sociais, para além de desenvolver os bons hábitos saudáveis. Sendo assim, e tendo em conta que o Desporto é uma forma privilegiada de comunicação, podemos concordar que o seu desenvolvimento constitui um elemento chave para alcançar a igualdade de oportunidades e progresso social. Ele deve ser um projecto social, de um país e de uma localidade e ao mesmo tempo é um factor cultural indispensável na formação global da pessoa humana e no desenvolvimento da sociedade

Se o desporto é um assunto do Estado, é necessário que seja definida uma política desportiva séria e plausível. Uma política suportada numa ideologia que tenha a ver com os princípios sob os quais se organiza e desenvolve a própria sociedade; Que sejam traçadas políticas norteadoras da sua promoção e seu desenvolvimento. E, não apenas como vem sendo feito por algumas gestões camarárias, como é o caso de Santa Catarina de Santiago. Neste caso concreto, como é que o poder local vem aplicando a “política” do DESPORTO em Santa Catarina? Quais os avanços, que inovações nos últimos 12 anos?

No concelho parece-nos que o DESPORTO vai na contramão do que se deseja para o seu investimento, promoção e desenvolvimento. É notório o descontentamento generalizado dos vários grupos desportivos organizados e individualidades/entidades que tentam melhorar a situação do DESPORTO no concelho e, consequentemente, o seu desencanto. Sem se ter a lente (óculos ou binóculos) descortina-se uma MORTE lenta do DESPORTO em Santa Catarina, resultante de uma má gestão, incompetência dos responsáveis, falta de sensibilidade para com a área, muitas ações paliativas, visão retrógrada e falta de uma leitura mais diagnóstica e prognóstica da real situação.

Não obstante os orçamentos atribuídos anualmente à essa área (2017 – 35.500.000; 2018 – 50.800.000; 2019 – 70.500.000) são bastantes satisfatórios e indicativos de “dias melhores”, mas, na prática, o que vem acontecendo? Assiste-se localmente ações que muito pouco contribuem para o desenvolvimento global do desporto no concelho, com insidência maior sobre realizações de torneios nas épocas festívas, como Nha Santa Catarina, 13 e 31 de Maio, etc. pequenos incentivos aos atletas de “cores”, retoques nas infraestruturas desportivas, como pinturas, colocação de cadeiras, etc, ou seja, ações isoladas/avulsas vistas como gastos correntes e não como investimentos. Assim, pergunto: essas ações, “políticas” e manobras conseguem fazer com que a desporto local se desenvolva? Penso que não. A falta de uma política mais pensada, estruturante e promotora do desenvolvimento do desporto a nível local é bem visível, demonstrando assim a existência de alguma displicência e desnorte na intervenção desportiva cá na região.

O panorama atual do nosso desporto é desolador, sem previsão para necessários “demarches” suscetíveis de tirar o nosso desporto deste cenário sombrio, sem “cabeças-pensantes” capazes de pensar e desenhar políticas de desenvolvimento e promoção do DESPORTO local e, consequentemente, o DESPORTO em Santa Catarina está tendo uma MORTE LENTA. E esta morte lenta está espelhada na degradação das redes de infra-estruturas existentes e no descontentamento dos atletas e grupos desportivos. Precisa-se de um ponto de virada e mudanças nos mecanismos de governança que terão impactos direto nos resultados e, naturalmente salvar o DESPORTO em Santa Catarina.

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Redação