Setembro Amarelo: Psicólogo enaltece avanços na saúde mental e o poder da escuta
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Setembro Amarelo: Psicólogo enaltece avanços na saúde mental e o poder da escuta

O psicólogo clínico Oliver Ribeiro defendeu hoje que a campanha Setembro Amarelo representa uma oportunidade estratégica para aprofundar o debate sobre saúde mental e prevenção ao suicídio, destacando que o silêncio nunca protegeu ninguém.

Em entrevista à Inforpress, o especialista em psicoterapia EMDR, que é uma abordagem terapêutica reconhecida internacionalmente no tratamento de traumas emocionais, afirmou que o lema deste ano, “Amar é o Elo”, representa um chamado colectivo à escuta, à empatia e à construção de redes de apoio que salvam vidas.

“O Setembro Amarelo não é um ponto de chegada, mas o início de uma longa caminhada. Nunca tantas pessoas procuraram ajuda como hoje, e isso é um avanço. O tabu está sendo quebrado aos poucos, e isso tem gerado mobilização em escolas, igrejas, comunidades e redes sociais”, sublinhou.

Segundo a mesma fonte, embora os índices de sofrimento emocional ainda sejam “preocupantes”, é possível perceber avanços no acesso à informação e na procura por ajuda.

O psicólogo sublinhou que pedir apoio não deve ser visto como fraqueza, mas como um acto de coragem e maturidade.

“Os problemas da vida se resolvem em vida. Falar não é fraqueza, é coragem. Todo ser humano precisa de descanso e de alguém que o escute. A tua dor não define o teu futuro, e o silêncio não é solução”, disse.

Para o especialista, a dor emocional está muitas vezes associada a factores internos, mas também estruturais, como o desemprego, a falta de oportunidades e a ausência de apoio comunitário.

Por isso, defende uma resposta integrada, que una o tratamento clínico, políticas públicas e solidariedade social.

“Se os factores se somam para gerar sofrimento, também podem se unir para gerar vida. A resposta não está em escolher entre o individual ou o colectivo, mas em unir forças para cuidar do ser humano por inteiro”, acrescentou.

De acordo com dados da Direcção Nacional da Saúde, Cabo Verde registou uma média anual de 47 suicídios entre 2018 e 2022, com maior incidência entre jovens.

As mulheres apresentam mais tentativas, mas os casos consumados são mais frequentes entre os homens.

O país também registou 650 internamentos por distúrbios mentais em 2020, sendo 69% dos casos do sexo masculino.

Cerca de 3.000 pessoas com patologias mentais estão actualmente referenciadas nos cuidados de saúde primários.

Em resposta à gravidade do cenário, o Governo declarou 2024 como o Ano da Saúde Mental, com o lema “Saúde Mental, prioridade e compromisso de todos”, visando ampliar os serviços, reduzir o estigma e integrar acções entre saúde, educação, segurança social e comunidade.

Durante o mês de Setembro, várias instituições têm promovido actividades de sensibilização em escolas, centros de saúde, comunidades religiosas e plataformas digitais.

A campanha visa reforçar a valorização da vida e encorajar as pessoas a procurarem ajuda quando enfrentam sofrimento emocional.

Para Oliver Ribeiro, manter o tema vivo é essencial para criar uma cultura em que pedir ajuda seja sinal de força, e não de fraqueza.

“Quando partilhamos a nossa luta, abrimos espaço para recomeçar. Viver de verdade — vale a pena”, concluiu.

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