FAO inscreve Cabo Verde na lista dos países com emergência alimentar. O primeiro ministro, Ulisses Correia e Silva, diz que houve interpretação errónea do relatório, desmente este importante organismo internacional, e nega que o nosso país esteja a enfrentar emergência alimentar. Logo a seguir, aparece o ministro da Agricultura, Gilberto Silva, a desmentir o chefe do Governo, afirmando que foi Cabo Verde a pedir a sua inclusão na lista da FAO.
O que vem a ser isto? Alguém entendeu a posição do chefe do Governo e do seu ministro em relação a este assunto? É possível entender isto? Um governo cujos membros falam do que querem, como querem e ninguém consegue colocar ordem nas coisas que dizem e afirmam. Um governo anárquico, a dirigir um país á beira do precipício social, económico e político! Um governo que não é nem gato, nem rato. Ou seja, um governo ora gato, ora rato!
E assim, num jogo do gato e do rato preocupante, e institucionalmente inaceitável, vamos enfrentando uma governação aos trambolhões, e sem rumo á vista, porque o jogo do gato e do rato nunca deu certo. Nem mesmo nos desenhos animados, ou nas ilustrações lúdicas para instrução de crianças. Porque isto de passar perna ao outro, driblar, esquivar, ou fingir que tudo vai bem para tirar proveito conjuntural sobre uma situação concreta, ou imaginária, cheira sempre a esturro, quando não se abalroa para contradições e prejuízos, a uns e a outros, mesmo que seja em ambientes de experimentação ou de mera formulação de hipóteses.
Entendeu a sabedoria popular aceitar que a vida é um jogo. Um jogo onde se ganha e se perde, tudo dependendo dos objectivos, das metas e dos resultados, numa relação bivalente, onde o que é verdadeiro e o que é falso estão devidamente identificados e aclarados.
Uma vez aceite como verdadeira a crença popular acima definida, temos que toda e qualquer acção humana passa a ser vinculada a este binómio ganhar e perder, vincando, em toda a linha e dimensão, a separação entre o verdadeiro e o falso, entre a afirmação e a negação, entre o sucesso e o insucesso, entre o sim e o não.
É, em absoluto, a separação de águas. Entre águas e águas. Porque, quando um ganha, o outro perde. Naturalmente. Não pode haver aqui nenhum outro resultado, não havendo lugar a qualquer arranjo, seja de que natureza for. Porque aqui, a soma das partes jamais representará o todo.
O processo governativo, sendo estruturalmente de natureza humana, acaba umbilicalmente ligado a este jogo, onde a vida humana entendeu vincular-se. Só que o jogo da vida humana é muito diferente do jogo do gato e do rato. E, logo, o processo governativo é também muito diferente do jogo entre felídeos e roedores. Pelas regras, pelos objectivos, pelas metas e pelos resultados.
Com efeito, governar um país exige dos protagonistas políticos muita seriedade, sentido de estado, espírito de missão, entre outras valências incompatíveis com posturas de fingimentos, de desresponsabilização, ou, sendo extremo, de esconder atrás de discurso de ocasião, quase sempre ocos de conteúdo, ou distanciados da realidade social, política, cultural e económica que o país atravessa, ou vai atravessar.
O país precisa de mais responsabilidade no processo governativo. A situação que hoje as famílias cabo-verdianas atravessam exige organização, foco, prudência e visão na aplicação dos recursos e nas relações institucionais, internas e externas. O jogo de felídeos e roedores nunca deu certo. Cabo Verde exige que se ponha ordem nisto. O primeiro ministro deve responder a esta exigência nacional, afinal foi eleito para governar.
A direcção
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