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Empreendedorismo e formação: a cortina de fumo da falência de políticas públicas para a juventude
Editorial

Empreendedorismo e formação: a cortina de fumo da falência de políticas públicas para a juventude

Incapaz de atacar os problemas de fundo, impotente em dar novo impulso a uma economia estagnada, que só apresenta crescimento para os bolsos de muito poucos e é incapaz de fazer crescer o consumo, o governo recorre à estratégia da emigração forçada (por necessidade imperativa de sobrevivência), transformando os jovens cabo-verdianos numa espécie de exilados económicos…

As duas grandes bandeiras do governo de Ulisses Correia e Silva, em matéria de políticas públicas para a juventude, têm sido o empreendedorismo e a formação, uma autêntica cortina de fumo que procura camuflar a inexistência de uma clara estratégia para dar combate ao desemprego e intentar novos rumos de desenvolvimento e de progresso social para o País, contando com a força criativa da nossa juventude.

À partida, o conceito oficial está inquinado pela base, já que manifesta uma bizarra confusão entre o que é, de facto, o empreendedorismo e essa outra coisa que é a necessidade de sobrevivência.

Isto é, muito daquilo que é apresentado pelo governo não é mais do que decorrência de necessidades imediatas de sobrevivência e não atividades de tipo empresarial que buscam em determinada faixa de mercado oportunidades de investimento e de negócios, como decorrência do chamado “espírito empreendedor”.

Por detrás deste conceito deturpado – e desonesto, porque intencional -, está uma lógica enviesada de manipulação dos níveis de desemprego no país, em particular junto dos jovens, procurando transformar recursos imediatos para fugir à fome, em supostas criações de negócio e de autoemprego, permitindo despencar (de forma artificial) os níveis de desemprego.

Estas supostas manifestações de empreendedorismo, têm, aliás, como nos ensina a vida e o conhecimento da economia, existência efémera, não raras vezes sendo antecâmara para uma mais sustentada alternativa de sobrevivência, que é o recurso à emigração, normalmente em busca de trabalho precário e sem direitos nos países do sul da Europa, em particular Portugal.

E isto leva-nos à segunda bandeira do governo, que é a da formação. Neste particular, procura-se passar a ideia, também inquinada, de que se trata de formação qualificada e instrumento fundamental de busca de emprego além-fronteiras.

A verdade, porém, é que a última leva de emigração, apresentada como uma espécie de fluxo de quadros, não é mais do que mão-de-obra barata destinada aos trabalhos menos qualificados que, aliás, justificam as reiteradas afirmações de que a Europa precisa de emigrantes.

Pudera, com baixa de níveis demográficos preocupantes, trazendo por arrasto o envelhecimento das populações, é preciso ter alguém à mão que esteja disposto – a troco de muito pouco, mas bem mais do que nos países de origem -, em meter a mão nos trabalhos mais desqualificados, como sejam as limpezas, as obras e o “baixo clero” da restauração e da hotelaria, entre outras.

Incapaz de atacar os problemas de fundo, impotente em dar novo impulso a uma economia estagnada, que só apresenta crescimento para os bolsos de muito poucos e é incapaz de fazer crescer o consumo, o governo recorre à estratégia da emigração forçada (por necessidade imperativa de sobrevivência), transformando os jovens cabo-verdianos numa espécie de exilados económicos…

A Direção,

 

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Comentários

  • Domingos Ramos Cardoso, 11 de Ago de 2024

    O país que se prese não pode permitir que a sua juventude seja objecto de injúria e escárnio dos poderes públicos. O governo e MpD devem rever a sua posição em relação ao aos jovens cabo-verdianos