Os critérios de aprovação de empréstimos às empresas tornaram-se ligeiramente mais restritivos em Cabo Verde no segundo trimestre deste ano, particularmente para os créditos de longo prazo, segundo dados oficiais consultados hoje pela Lusa.
De acordo com o inquérito ao mercado de crédito publicado pelo Banco de Cabo Verde (BCV), entre abril e junho, as expectativas menos favoráveis quanto à atividade económica em geral foi um dos fatores que justificaram o ligeiro aumento da restritividade dos critérios de aprovação de empréstimos para as empresas.
Contribuíram, ainda, o nível de incumprimento, as perspetivas para setores de atividade específicos e os riscos associados às empresas sem contabilidade organizada.
“Para os particulares, os critérios mantiveram-se praticamente inalterados”, constatou o regulador bancário cabo-verdiano.
No período em análise, o banco central concluiu que os bancos inquiridos registaram uma ligeira redução da procura de crédito por parte das empresas.
Essa redução é justificada pelo recurso a fontes de financiamento alternativas, nomeadamente, empréstimos de instituições financeiras não bancárias, emissão/reembolso de títulos de dívida, bem como à menor necessidade de financiamento para investimento.
Em sentido contrário, registou-se um ligeiro aumento da procura de crédito por parte dos particulares, tanto para aquisição de habitação, como para o consumo, refletindo a “maior necessidade” de financiamento para as despesas de consumo relativas a bens duradouros.
“No entanto, a procura de crédito para outros fins, de acordo com os bancos, registou um ligeiro decréscimo”, afirma o BCV, justificada pela menor necessidade de financiamento para investimento e outros fatores não especificados.
Para os próximos três meses, o banco central prevê que os bancos antecipem a aplicação de critérios ligeiramente menos restritivos na aprovação de empréstimos para as empresas, enquanto para os particulares permanecerão praticamente inalterados.
“Os bancos perspetivam, ainda, um ligeiro aumento da procura de crédito pelas empresas e pelos particulares”, traçou o Banco de Cabo Verde, que concluiu que a proporção de pedidos de empréstimos rejeitados pelos bancos, tanto das empresas como dos particulares, diminuiu ligeiramente.
Em agosto, no seu relatório de estabilidade financeira, o BCV considerou que o sistema financeiro cabo-verdiano continuou resiliente em 2022, mas alertou para o “elevado nível” de crédito em incumprimento por parte das instituições bancárias, embora a proporção em relação ao total de crédito tenha vindo a diminuir desde o ano de 2017.
“Apesar da tendência de redução da proporção de créditos em incumprimento em relação ao total de crédito, para níveis de um dígito, o rácio em Cabo Verde ainda se mantém acima da média das pequenas economias insulares”, deu conta o banco central.
Segundo o BCV, os níveis de crédito em incumprimento em Cabo Verde continuam a ser mais elevados do que os valores observados nas Maurícias e Seicheles.
“O alto custo do risco de crédito continua a condicionar o nível de intermediação financeira, a solidez e a rentabilidade do setor bancário”, alertou.
No seu relatório do estado da economia de Cabo Verde, o BCV revelou que o crédito à economia cabo-verdiana cresceu 5,3% em 2022, mas apresentando um ligeiro abrandamento de 0,8 pontos percentuais face ao aumento de 6,1% registado em 2021.
Lusa/fim
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