Cultura

“Os lobos não podem esperar”, na sua essência, fornece matéria abundante para a apreensão da escrita de autoria feminina. Ainda, determina a possibilidade de um olhar crítico sobre a condição da mulher e assume-se como um veículo onde há preponderância de vozes e personagens femininas, definindo o lugar de onde se fala, uma questão essencial em toda a obra.

Este livro põe também em prática uma construção alegórica e procura ter um papel de intervenção. A preocupação maior com os contos é sempre de ordem temática e conteudística. Através de várias personagens femininas, a autora destaca e dá voz a quem, remetido para um lugar subalterno, estava limitado ou até impedido de falar em nome próprio, isto é, em nome da condição social e existencial de mulher.

Trata-se de um conjunto de textos que retratam temas variados, onde a mulher é a personagem central na maioria deles, e através delas, temas como a violência de género, o abuso sexual de menores, a repressão social e sexual, a depressão e a solidão, e o machismo são denunciados, como são os casos, por exemplo, dos contos “quando os tigres silenciam”, “marca indelével”, “batom vermelho” ou ainda do conto que dá nome ao livro “Os lobos não podem esperar”.

Mas há igualmente contos que abordam aspetos do quotidiano e através dos quais a autora lança um olhar critico, muitas vezes disfarçado com um tom mais humorístico, como os rituais da morte, a ambição desmedida pelo poder, a pedofilia, a delinquência juvenil versus insegurança urbana, os preconceitos, entre outros, presentes nos contos Monalisa Smile, político adiado, os lobos não podem esperar (conto que dá título ao livro), Nike air florescente, e Adão sem Eva.

Ainda, a autora presta um tributo ao poeta Corsino Fortes, com o conto Encontro com o poeta, conto que surgiu após um encontro, a entrada de um elevador, entre a autora e o poeta; e igualmente aos canizades da ilha do Fogo, com o conto Um canizade vencido pelo amor.

A obra será lançada na quinta feira, 4, às 18 horas, na Assembleia Nacional e terá como apresentadoras as escritoras Euridice Monteiro e Augusta Evora Teixeira.

SOBRE A AUTORA

Natacha Magalhães, cabo-verdiana, é licenciada em Ciências da Comunicação e mestranda em Políticas Publicas e Desenvolvimento Local. Trabalha na área da Comunicaçao Institucional, foi jornalista e cronista no jornal A Nação, no portal Sapo.cv e colaboradora de Cabo Verde, na Revista Africa XXI, entre 2009 e 2015.

Em 2009 estreou-se na literatura infanto-juvenil com a coletânea “Mãe, conta-me uma história” e em 2014 publicou “Sete Contos ao luar e outras estórias”. Em 2017 pulicou a coletânea infanto juvenil “A Viagem mais fantástica do mundo” e escreveu ainda dois contos “O segredo partilhado”, para o ICCA e “O coração das ilhas” para o grupo CVT. Participou ainda nas antologias “Ser mulher” (Portugal) e “Mulher e seus destinos (Cabo Verde).

É também uma contadora de histórias, tendo já representado Cabo Verde no festival de contos africanos na Costa do Marfim, em 2010 e nos Açores, em 2015. É mediadora de leitura, ativista cultural, tendo fundado o projeto de promoção e incentivo á leitura “Mala de contos”, que já foi implementado em Pico Leão (Ribeira Grande de Santiago) e São Francisco (Praia).