
Um dos mais reconhecidos e premiados escritores da Lusofonia, o moçambicano Mia Couto considerou esta sexta-feira, na cidade da Praia, ser a literatura uma importante ferramenta para a afirmação cultural e o conhecimento e reconhecimento de um povo, e nos processos de independências, em particular no contexto africano e moçambicano em específico, sendo que ao contrário dos discursos políticos que propõem uma versão da verdade, a literatura “é um lugar onde as verdades podem conversar”
Para o autor, a literatura permite “colocar em diálogo as várias versões e as várias realidades”, neste caso, dos processos de independência dos países, pois que esta “não tem a pretensão de “apresentar uma versão da verdade”.
Na sua reflexão, este cita o exemplo dos seus romances da trilogia sobre Gungunhana, um antigo Rei que chegou a dominar grande parte do que viria a ser Moçambique. Baseado numa história verídica, a trilogia cruza as versões das histórias “dos vencedores e vencidos”.
Relacionado a Moçambique, isso bem pode-se atribuir a Cabo Verde, Couto considera que as pessoas conhecem muito pouco a história dos seus países e essa trilogia foi uma forma de contribuir para o conhecimento e dignificação da história de Moçambique.
Este refletiu ainda sobre o seu percurso pessoal, o processo de escrita, a sua paixão pela biologia, a sua área de formação e contou sobre um período em que deu aulas de arquitetura, abordou o seu ingresso na Frelimo e no processo de luta, sempre com tanto de humor quanto de perspicácia e ainda refletiu sobre as formas de se promover a literatura e o hábito da leitura em sociedades de fortes tradições orais como as nossas.
Para Couto no ensino da literatura o mais importante deveria ser avaliar a capacidade das pessoas de contar uma estória muito mais do que a qualidade do português e, assim como em um dos seus livros, põe em causa o ensino formal que a seu ver faz exatamente o contrário, valorizando mais o escrever corretamente do que a capacidade de contar estórias. E recorda um antigo professor que lhe ensinou que “quem não sabe contar estórias é uma pessoa pobre” e que terá sido esse o aprendizado que viria a fazer dele um escritor.
Uma qualidade essencial para quem escreve, diz Couto, é “saber escutar”, aconselha, pois muitas vezes é no escutar o que as pessoas têm para dizer é que o escritor poderá achar a sua inspiração para uma boa estória.
Estas foram algumas das considerações de Mia Couto que ainda refletiu sobre as diferenças das gerações atuais e aquelas que viveram as lutas pelas independências, sobre algumas das atualidade mundiais e ainda antes do debate refletia à comunicação social sobre a necessidade de uma aproximação e trocas ainda maiores entre os povos africanos de língua portuguesa que se conhecem ainda muito pouco.
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