Uma Remodelação de Sobrevivência : Do Cosmético ao Político
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Uma Remodelação de Sobrevivência : Do Cosmético ao Político

Diante da crescente insatisfação, a aposta foi na reconfiguração do núcleo de poder para evitar uma desintegração mais rápida. A história mostra que líderes que se preocupam mais com sua própria sobrevivência do que com o bem-estar da população acabam por ter desabores. O jogo político pode garantir mais alguns meses de estabilidade, mas a longo prazo, essa estratégia pode se revelar o golpe fatal para a estrutura atual. Afinal, a população caboverdeana já demonstrou em diversas ocasiões que não se deixa enganar por manobras eleitorais. Resta saber se será possível manter essa estratégia até o fim ou se será engolida pelas próprias contradições.

A recente remodelação governamental em Cabo Verde revela uma verdade incontornável: o foco não está na melhoria da gestão pública, mas sim na tentativa desesperada de manter o controle político. A estratégia adotada sugere um esforço calculado para os proximos embates politicos, enquanto nos bastidores tudo é feito para evitar o inevitável. O regresso de figuras que no passado se afastaram do partido, chegando a formar movimentos alternativos para enfraquecê-lo, mostra o quão fragilizada está a atual liderança. A necessidade de trazer de volta antigos dissidentes, outrora críticos ferozes da estrutura partidaria, é um sinal claro de desespero. Essa reaproximação não se dá por afinidade ideológica, mas sim por uma necessidade urgente de reforçar a linha de frente nos próximos 15 meses. Nas eleições legislativas passadas, recorreu-se a um grande artifício eleitoral: a quitação de dívidas de energia, água e propinas estudantis, além da criação de um aparato cosmético nos últimos meses de mandato. Dessa vez, o expediente foi diferente, mas a intenção é a mesma: assegurar a permanência no poder. A inclusão de nomes de peso em ataques politicos na nova estrutura governamental demonstra uma tentativa de blindagem contra a crescente insatisfação, não só da oposição, mas também dentro do próprio partido.

O Manual de Ulisses

John P. Kotter, um dos mais respeitados especialistas em liderança e gestão política, afirma que "líderes inseguros frequentemente optam por reforçar seu círculo de confiança, mesmo que isso signifique sacrificar a diversidade e a competência". Essa é precisamente a tática utilizada: cercar-se de nomes combativos que possam conter a erosão da popularidade e garantir que a estrutura política permaneça intacta. No entanto, essa estratégia pode ter um efeito contrário, exacerbando ainda mais a divisão interna.

O Governo Mais Político da História Democrática de Cabo Verde

Desde a democratização do país, jamais houve uma estratégia tão explicitamente política. Essa remodelação não foi pensada para responder às necessidades dos cidadãos, mas sim para assegurar que a atual liderança tenha condições de chegar até o fim do mandato com algum nível de controle sobre o partido e sobre o cenário político nacional. Como afirmou o analista político Fareed Zakaria, "democracias frágeis frequentemente veem seus líderes transformarem processos governamentais em estratégias de autopreservação, e não de serviço público". O caso de Cabo Verde não foge a essa regra. Em vez de apresentar soluções concretas para os desafios do país, optou-se por uma movimentação que apenas fortalece a posição política e enfraquece ainda mais a confiança na administração pública.

O Que Esperar do Resto do Mandato?

Estamos diante de um cenário onde as movimentações políticas indicam que se trata de uma última cartada. A remodelação governamental não é um gesto de renovação, mas um ato de desespero estratégico. Diante da crescente insatisfação, a aposta foi na reconfiguração do núcleo de poder para evitar uma desintegração mais rápida. A história mostra que líderes que se preocupam mais com sua própria sobrevivência do que com o bem-estar da população acabam por ter desabores. O jogo político pode garantir mais alguns meses de estabilidade, mas a longo prazo, essa estratégia pode se revelar o golpe fatal para a estrutura atual. Afinal, a população caboverdeana já demonstrou em diversas ocasiões que não se deixa enganar por manobras eleitorais. Resta saber se será possível manter essa estratégia até o fim ou se será engolida pelas próprias contradições.

 

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Comentários

  • Casimiro centeio, 4 de Fev de 2025

    Caro Amigo, Ulisses faz política de "CADEIRA DE BALANÇO". A cadeira de balanço não vai para lugar nenhum.Oscila, fingindo -se que vai, mas não vai. É o movimento imaginário.Não sai do lugar.Análago ao pêndulo de um relógio.
    Em vez de usar o Poder para servir, usa o Poder para se servir, para embair os lhanos. Esta (re) modelação de argila, demonstra o protótipo do governo (a cadeira de balanço) no qual pretende manter-se sentado.

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