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O PGR nosso de cada dia, amém!
Colunista

O PGR nosso de cada dia, amém!

 Nero, imperador romano do primeiro século depois de Cristo, era bom a tocar harpa. Enquanto Roma estava a arder num voraz incêndio, ele, Nero, continuava a sorrir e a tocar o seu instrumento de cordas predilecto. Quem ainda dança a fúnebre melodia de Nero? O PGR e o Primeiro-Ministro, alheios ao fedor de carne assada de gente que morre.

Ponto prévio: não pretendo aqui fazer a minha defesa do vil ataque que a Procuradoria Geral da República intenta contra a imprensa cabo-vediana, com a constituição do jornal de que sou director e eu mesmo enquanto jornalista num processo de violação de segredo de justiça

Mas, por honra e dignidade, posso e devo retrucar, ou contra-atacar, colunas de ataque que, por flancos desencobertos desferem golpes à imprensa - o caso do Orlando Rodrigues (TCV vs STJ, já era sintomático) - na tentativa de se furtarem ao cerne do imbróglio, para debitarem culpas a quem tem o tríplice dever de se informar, ser informado e informar.Vitória na guerra.

O último despacho do Ministério Público que recebi estes dias é por demais evidente de quão trapalhão é este processo e procedimento da Procuradoria Geral da República. Se o digo assim abertamente estarei, eventualmente, a ser vítima de novo draconiano processo.

Ora bem, esta histriónica postura da Procuradoria Geral da República, demonstra, sem o mínimo nexo intelectual, que não percebe o seu próprio processo em que brincam com ‘nosostros’ ao estilo do ‘jogo da morte’.

Sim, há um homem morto – não interessa se é assassino de aluguer ou suspeito de crime agravado, até porque não se fez prova de nada disso ainda - e um ministro referido no processo de investigação, além de mentiras postuladas e públicas de instâncias judiciais e investigativas (PJ) que configuram, obviamente, crime público, do Estado. A corporação PJ, estatal, está indiciada de matar alguém, criminoso ou não, indefeso.

Com tudo isso, o ilustre PGR leva as mãos à cara e  tapa os olhos apontando para a lua, enquanto, sob seu desígnio e ‘métier’, vai alterando os magistrados que investigaram o dossier ‘morte de Zezito denti d’Oru’, permitindo insinuar e infirmar que procura procuradores, passe o pleonasmo, da sua estipe.

Para já, e isto é cristalino, há uma evidente protecção do MAI, pela procuradoria geral da república quando, depois de sete anos sem dizer e fazer nada sobre a investigação à morte de Zezito denti d’Oru, na qual o ex-espião de Cabo Vede, Paulo Rocha, é tido e achado, segundo os seus próprios colegas inspectores da PJ, com os quais, hoje, já não morre de amores.

A mim se me afigura uma clara tentativa de proteger o MAI, que depois de ser o principal informador do ex-PM, José Maria Neves -  enquanto director do SIR – foi estranhamente promovido a ministro da Administração Interna no governo do MpD e a seguir cabeça de lista pelo partido ventoinha por São Vicente.

O PGR, o PM e o ex-director nacional da PJ tentam, a todo o custo, proteger o ministro Paulo Rocha.

E o PGR, que terá lido, julgo, o posicionamento de UCS , e sobretudo de Carlos Reis, terá porventura visto e reparado que este último (não que seja ou esteja directamente implicado nesta estória que unilateralmente seu subordinado, Paulo Rocha, lhe opõe indirectamente a colete de força),  também violou o segredo de justiça, sendo parte do problema? Reis terá sido enganado? Sabia ou sabe de algo? Pode ser que não, conhecendo a pessoa.

Mas o nível de protecção ao MAI alcança patamares tais que o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, não pensou duas veses para adossar o seu incondicional apoio ao ministro ex-espião, sem se acautelar que esse amparo lhe pode ser ser nefasto para voltar a se eleger, como, se calhar cogita, como primeiro-ministro.

O PGR teve ou tem a mesma determinação no caso da Máfia dos terrenos da Praia? Da morte de um policial por outro policial? Da suposta corrupção que envolveu o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Luis Filipe Tavares?

Efectivamente, o Governo e o MpD – por arrastamento das declarações dos deputados que tem na Assembleia Nacional – podem e, provavelmente, sairem beliscados e puxados para baixo por causa deste assunto. Ou demite Paulo Rocha, para estrangular quaisquer responsabilidades do Governo e do partido nesta estória evitando cálculos de votos em 2024, ou mantém a confiança no ministro se arrisca a ser vilipendiado pelo voto popular.

A meu ver, a primeira hipótese seria a mais sensata, porque, ao fim e ao cabo, este caso começou em 2013, no governo PAICV. Logo, o actual PR estará, eventualmente, também implicado. Mas, é UCS, lider do partido do governo e que detém a maioria que vai negando esta trama na Casa Parlamentar, que tem o dever de segurar a trelha deste bicho-papão. Caso contrário...

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine