Vivemos num contexto estranho, onde ser melhor entre os piores é uma grande virtude e onde as estatísticas se fazem com conversa fiada e enganação. Mas, do mal o menos: chegamos a um ponto onde estas narrativas servem apenas para fidelizar uma reduzida bolha de fiéis… como se viu pelos resultados de 01 de dezembro.
Não sei que orgulho se possa ter em ser o melhor dos piores, tão-pouco acho curial que alguém possa pensar que esta narrativa entusiasme mais do que um restrito grupo de gente tola ou fanatizada.
Nos últimos dias, surgiram, nas redes sociais, postagens com um gráfico comparativo do salário mínimo entre países africanos de língua oficial portuguesa.
Bem destacado no gráfico, Cabo Verde surge como o campeão dos melhores dos piores, sem que os seus autores se apercebam do ridículo da narrativa, tão-pouco da imagem pouco lisonjeira com que fica o governo que pretendem defender e elogiar.
O ridículo é de tal ordem que, alguns deles, oportunamente avisados, já apagaram as postagens, fazendo de conta que não têm nada a ver com o assunto.
Mas, não é positivo o aumento do salário mínimo? Claro que é, o problema é que fazer comparações por baixo não me parece ser o melhor meio para aumentar a autoestima das pessoas e transmitir confiança no futuro de país.
Conversa fiada e enganação
Parece haver uma estratégia organizada, construída entre a conversa fiada e a enganação. E é só estar atento às narrativas dos prosélitos do governo Ulisses/Olavo.
Desde logo, a questão do crescimento económico: pesem os números oficiais e os estudos atamancados (e por encomenda) do INE, a verdade é que o tal crescimento não se faz sentir nos bolsos da imensa maioria das cabo-verdianas e dos cabo-verdianos, muito por razão da acentuada queda do poder do consumo, decorrente do galopante aumento do custo de vida.
A fazer-se sentir (?!), os dividendos do aumento da economia vão, cirurgicamente, parar aos bolsos dos mesmos de sempre: os bancos e uma parasitária elite que cresceu à sombra dos partidos e do Estado.
Deixá-los a falar sozinhos
Ademais, que dizer de uma economia e de uma sociedade onde mais de 60 porcento das pessoas diz expressamente que, tendo oportunidade, pretende emigrar?!
Até parece haver uma vontade coletiva de abandonar o país e deixar os governantes e comensais do sistema a falar sozinhos nesta imensidão de pedras, torreira e bruma seca…
Quantos já emigraram, quantos estarão neste momento a vender a sua força de trabalho além-fronteiras, deixando os precários trabalhos em aberto para serem, por cá, ocupados pelos mais empobrecidos e ajudando ao empolamento das estatísticas da criação de empregos?
Vivemos num contexto estranho, onde ser melhor entre os piores é uma grande virtude e onde as estatísticas se fazem com conversa fiada e enganação.
Mas, do mal o menos: chegamos a um ponto onde estas narrativas servem apenas para fidelizar uma reduzida bolha de fiéis… como se viu pelos resultados de 01 de dezembro.
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