Cabo Verde, todas estas dez maravilhosas ilhas do atlântico medio, esta nação inteira, tem “ Alma Grandi”, derivado duma autenticidade cultural universal. Sim a nossa cultura é a grande força motriz da resiliência cabo-verdiana, e impôs-se naturalmente protegendo-nos no existencialismo da nossa sobrevivência contra fome, crises sanitárias diversas, tais como dengue, paludismo e o colonialismo e mais outras “pragas”...
A Cultura aqui se confunde com a Historia e devido á sua grande importância simbólica para a identidade coletiva, não podemos aceitar nem deixar-se enrolar na onda de destruição deliberada de locais ou monumentos culturais que quer queiramos ou não fazem parte de nós mesmos como Nação Global e não saberemos apagar a historia com actos e decisões primários naïfs (ingénuos) Agindo doutro modo estaríamos simplesmente a ressuscitar praticas levianas e incoerentes coloniais que negava manifestações, actividades e direitos culturais populares desprezando, por exemplo a festa da TABANCA, tentando, em vão provocar uma “limpeza cultural”, não sabendo eu se o propósito não era senão, efetuar ou introduzir estratégia de limpeza étnica…gerando conflitos de identidade...
A “Claridade”, ou o nascimento da literatura moderna em Cabo Verde inaugurou com firmeza a transcendência autóctone da homogeneidade socioétnica e cultural do povo das ilhas emergindo uma literatura autêntica universal cabo-verdiana. Os autores “claridosos” souberam descrever uma visão socialmente real da autenticidade, e do universalismo, da alma crioula como nação…
Verificamos, há vários testemunhos, que a destruição do património cultural, tornou-se uma estratégia de guerra, aplicada por actores violentos, para realizar seus objectivos políticos. Para UNESCO, “… A proteção do património e da diversidade cultural é essencial, não apenas para mitigar a vulnerabilidade, mas também para quebrar um ciclo de violência em que os ataques á cultura ajudam a promover ainda mais o ódio, sectarismo e fragmentação da sociedade, alimentando instabilidade e conflito contínuos … ”
Assumimos desde a noite dos séculos a nossa crioulidade, através do seu veículo de comunicação, por excelência que é a nossa Língua Materna e pessoalmente acredito e verifico (não sou especialista da área) que somos possuidores de uma e única língua, falada no quotidiano das nossas vidas em todas as ilhas deste arquipélago, enriquecida naturalmente pelas variantes locais estruturantes, originadas por fenómenos vários socio culturais e talvez económicos. Qualquer cabo-verdiano falando na sua própria variante socio cultural, é compreendido por qualquer outro cidadão de uma ilha qualquer diferente e o discurso pode ser completado sem acesso a qualquer língua exterior, mormente o português que serviu sempre como base de comunicação oficial e obrigatória.
Comunicamos todos entre nós sem se restringir a uma suposta dualidade textual entre um idioma de origem e um idioma de destino. O Crioulo como língua é uno e universal comunicamo-nos todos e perfeitamente em linguagem oral, a escrita foi e é ainda dificultada dado que foi-nos renegado o suporte escolar mas a formalização efectuou-se intensamente através da música em toda a sua diversidade nem vale a pena imaginar Batuco, Tabanca, Morna cujas forças de comunicações atinge o máximo quando manifestados na língua que os viu nascer e sabemos todos que Batuco Tabanca e Finason são mais resilientes e talvez inadaptáveis a outras línguas e penso que esta conclusão é tudo menos etno-centrista.
A nossa Língua, como meio de comunicação, tem sem pejorativo, algum uma acção social forte e parte dessa acção, é a sua própria recepção intencional como um produto da nossa própria industria cultural, visível na musica, teatro, historias, contos, poemas e poesias …etc., e atinge as esferas económicas, politicas, sociais, participando como melhor ferramenta de comunicação nestas ilhas.
O seu papel transcultural é relevante na mídia por causa da natureza globalizante da informação e da própria imprensa, pois elas moldam a visão e a compreensão dos factos tanto cabo-verdiano como do mundo...
Quero com isso dizer que o Crioulo como língua nacional destas ilhas, nos coloca no mundo inteiro, ultrapassa as nossas fronteiras e transforma-se no factor chave da sociedade cabo-verdiana. Qualquer estrangeiro que aprendeu o português, para poder comunicar aqui em Cabo Verde, fica mais bem integrado quando passa a falar o crioulo, esquecendo o português que no dia-a-dia não lhe é indispensável…
E num mundo cada vez mais globalizado, onde as relações internacionais fazem parte de nossa vida quotidiana e, apesar da preponderância do inglês como língua franca, de negócios e da ciência a nossa língua materna embora, a pequenez do seu impacto na rede global, ela está também no centro do funcionamento da economia mundial. Cesária provou-nos isso com “Sodad” e a ainda rainha da música pop Madonna, levou também ao mundo o “Crioulo” com a sua tournée “Batuka”… O sucesso das negociações econômicas, culturais e políticas depende também da qualidade da comunicação intercultural que oferecemos aos nossos parceiros ou interlocutores, na nossa língua autóctone…
A nossa linguagem é rica e intensa e interage com sonorizações guturais como a forma peculiar de afirmar ou negar com dois sons diferentes (não consigo escreve-los), são fórmulas culturais diferentes de comunicação que nas culturas diferentes, não coincidem, mas são: actos de fala, palavras sobrepostas ou silêncios que não têm o mesmo valor em Cabo Verde, Espanha ou Brasil…
Quando negociamos produtos típicos haverá sempre necessidade de mediadores, para favorecer a interpretação ou tradução tanto na fase de negociação como publicitária de um produto típico, porque favorece e muito a internacionalização das empresas… como traduzir “Grog” ou “Batuku” …!!
José Valdemiro Lopes
miljvdav@gmail.com
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