São os 45 trabalhadores do hotel Riu Karamboa, cujos testes ao covid-19, realizados no dia 12 de abril, teriam sido positivos. Passados mais de 3 meses, o grupo escreve uma carta à Entidade Reguladora Independente da Saúde (ERIS), onde manifesta sua incredulidade em relação aos resultados dos testes, exigindo a abertura de um inquérito para averiguar a verdade dos factos, bem como uma indemnização pelos danos psicológicos, financeiros e familiares causados.
A carta, cujo teor Santiago Magazine teve acesso, diz claramente que o grupo “acha que os factos desenvolvidos na Boa Vista não têm uma explicação lógica”, sobretudo tendo em atenção o facto de terem estado durante 3 dias com a família, quando finalmente foram libertados do confinamento do hotel, a partir de uma manifestação sem que, no entanto, um único elemento da sua família tenha ficado infetado.
“Sofremos um isolamento inútil, com falta de medicamentos, assistência médica e psicológica, sentido de abandono, total descontrolo por parte das instituição responsável, que todo o país foi colocado em uma situação de emergência nacional quando não era ainda necessário, que os protocolos de seguração não foram aplicado e que para nossa sorte, ninguém ficou doente, e que as nossa economia, família, filhos com escolas e jardim fechado, sofreram inutilmente uma situação de medo e de trastorno psicológico muito pesado”, escrevem os 26 trabalhadores que assinaram a carta, uma vez que os restantes 19 já não se encontram na ilha, embora, garantem os assinantes, estão de acordo com tudo o que vem na carta.
Neste contexto, o grupo solicita a ERIS e INSP, que abram um inquérito, “para averiguar os factos e identificar as responsabilidades, porque esta situação que afetou fortemente a economia e a vida social da ilha e de todo o país, deve ser clarificada, em respeito à verdade e principalmente para ser preparada para um eventual surto futuro, visto que agora o vírus circula em Cabo Verde, e muito provavelmente, vai infetar também Boa Vista”, ilha que, dizem, até agora não teve a circulação do vírus.
Para esclarecer as suas dúvidas e alertar as autoridades nacionais, a carta, cuja cópia seguiu também para Instituto Nacional da Saúde Pública (INPS), Embaixada a União Europeia, Procurador da República da Comarca da Boa Vista e Deputado Nacional, Walter Évora, faz uma excursão às ocorrências desde 19 de março, quando foi declarado o primeiro caso de covid-19 na ilha da Boa Vista.
Factos
Assim, temos que no dia 19 de março, foi declarado positivo a COVID19 a um turista Inglês que ficou 7 dias hóspede do Hotel Riu Karamboa, mais de 500 turistas e mais de 200 funcionários, do primeiro turno de manha, (hotel trabalha com 3 turnos) foram colocado em isolamento colectivo.
No dia seguinte, ou seja, 20 de março, mais uma turista Holandesa foi declarada positiva a COVID19, mais de 105 funcionários, do primeiro turno de manha, do hotel Riu Palace, (que trabalha com 3 turnos) foram colocados em isolamento colectivo até 18 de abril, e sem nenhum tratamento medico e medicamentoso não lhes foi feito nenhum teste, e sem sintomas, foram libertados do Hotel.
No dia 23 de março, foi declarado que o turista Inglês, que estava intubado com ventilação no hospital de campanha, faleceu por motivos de complicações respiratórias devido ao Covid-19.
No dia 26 de março, informa o grupo, um funcionário dos serviços de manutenção do Hotel Riu Karamboa, devido a confinamento, não tinha roupa para trocar, tomou banho em água quente e dormiu com ar condicionado ligado, sendo que não estava costumado, no dia seguinte acusou um pouco de febre, foi logo colocado em isolamento em um “hospital de campanha”. Dois dias depois, a 28 de março, o seu teste PCR deu positivo, e no dia 1 de abril era colocado em isolamento no Hotel Royal de Cameron, e embora já não tinha febre, estava bem, mesmo assim foi obrigado a experimentação com Hidroxicloroquina por 14 dias.
No dia 9 de abril, um outro funcionário, devido problemas de asma e gastrite, foi submetido ao teste PCR, e três depois era declarado positivo, tendo sido submetido ao isolamento no Hotel Royal de Cameron. Embora estivesse bem, mesmo assim foi obrigado a experimentação com Hidroxicloroquina para 10 dias, e agora sofre de dor devido aos efeitos do fármaco.
No dia de domingo 12 de abril, os funcionários do Hotel Karamboa, pedem mais uma vez à Proteção Civil para fazer o teste de forma a irem para casa, a resposta foi que deviam esperar mais de uma semana pelos resultados, e perdendo a paciência, organizam uma pequena manifestação, as autoridades, para evitar conflito, decidem realizar rapidamente o teste RT-qPCR a todos e permitir o regresso a casa. 48 horas mais tarde, ou seja, a 14 de abril, chega a noticia de 45 resultados positivos. Logo no dia seguinte o bairro de Boa Esperança é isolado pela polícia e forças armada, e cerca de 40 pessoas são obrigadas a um novo isolamento no Hotel Royal de Cameron. A seguir, nos dias 16, 19 e 20, mais 4 pessoas, de Sal-Rei e de Boa Esperança foram reconduzidas para o isolamento no Hotel Royal De Cameron.
Ora, a carta regista que os 45 positivos conviveram dois ou mais dias com esposa, família, filhos e amigos e milagrosamente não conseguiram infetar seus contactos. Todos os 45 infetados nunca sofreram nenhum sintoma típico do coronavírus, somente os dois casos tratados com hidroxicloroquina, todos os outros receberam só vitamina C, sendo certo que muitos recusaram de tomar a “vitamina C” com medo de ser algo perigoso.
Desconfianças
Acontece que, no dia 20 de maio, o Centro de Saúde da Boa Vista iniciou os testes rápidos IgG para detetar os anticorpos, e todos 45 do grupo do Riu Karamboa foram contactados para se dirigirem ao hospital a fim de serem testados, tendo sido acusados negativos, sem que lhes fossem emitidas as competentes declarações, como, de resto, seria de esperar.
Uma semana depois, ou seja, a 28 de maio, alguns elementos do grupo foram pedir a declaração, e apenas 6 deles conseguiram. O Centro de Saúde recusou emitir mais declarações, mesmo aquelas que foram solicitadas por carta assinada.
E as desconfianças aumentaram ainda mais, quando no dia 7 de junho, no noticiário da noite da TCV, a Presidente do INSP, Maria da Luz Lima, declarava que se uma pessoa é negativa a teste rápido IgG, dos anticorpos, significa que nunca teve nenhum contacto com o Covid-19.
Nessa sequência, no dia 26 de junho, a delegada de Saúde da Boa Vista, declarava que foram realizados centenas de testes rápidos na ilha e que todos acusaram negativo, reafirmando que não há nenhum teste rápido que na Boa Vista resultou positivo aos anticorpos do Covid-19, incluindo todos 45 funcionários do hotel Riu Karamboa que no dia 14 de abril haviam sido declarados positivos.
Neste momento, os subscritores da carta aguardam resposta das entidades sanitárias, concretamente a ERIS e o INSP.
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