
Podemos amar a pátria e, ao mesmo tempo, recusar este enredo vergonhoso encenado por quem ocupa os mais altos cargos de gestão da Nação. Se ainda querem público, ofereçam um espectáculo digno, com visão, diálogo, respeito e valores. Nesta fase, a pergunta já não é “quem vai vencer as próximas eleições?”, mas uma muito mais inquietante: Quem, no meio deste caos, ainda merece representar Cabo Verde?
Há dias em que evito abrir as redes sociais, não por falta de curiosidade (essa nunca me faltou), mas porque o que lá se serve deixou de ser informação para se tornar fast-food emocional, ruidoso, indigesto e vazio.
Novamente nas eleições internas do PAICV, repetem-se suspeitas, acusações e tumultos em torno dos cadernos eleitorais. Quando um partido que aspira governar não consegue resolver divergências internas com maturidade, a mensagem para o país é simples, se não dialogam entre si, como pretendem dialogar com Cabo Verde?
Do outro lado, o MpD transforma cada fragilidade da oposição, num palco de propaganda, numa coreografia previsível de quem prefere alimentar-se do erro do adversário em vez de elevar o debate.
Multiplicam-se “sondagens” artesanais, tão artificiais quanto infantis, como se o eleitor fosse ingénuo ao ponto de acreditar em algo sem credibilidade.
Nas redes, militantes de ambos os lados confundem democracia com guerra tribal, onde não se discutem ideias, atacam-se as pessoas que ousam questionar. Erguem bandeiras de liberdade enquanto assassinam carácteres.
Esquecem que democracia também é saber ouvir, reconhecer limites, discordar sem destruir.
E nós, a diáspora, chamada sempre que é preciso exaltar patriotismo, enviar remessas, organizar galas e carregar o país às costas nos discursos oficiais, somos servidos com um espectáculo pobre, deprimente e, por vezes, vergonhoso.
Querem que aplaudamos, mas ignoram o custo emocional e moral deste bilhete.
A verdade é esta, a diáspora já não assiste com orgulho, assiste com desalento. A política tornou-se um circo de vaidades que está a perder público.
Se acreditam que estaremos sempre disponíveis para financiar, promover, apagar fogos e reabilitar reputações, iludem-se…
Amar Cabo Verde não implica pactuar com este descalabro partidário.
Podemos amar a pátria e, ao mesmo tempo, recusar este enredo vergonhoso encenado por quem ocupa os mais altos cargos de gestão da Nação.
Se ainda querem público, ofereçam um espectáculo digno, com visão, diálogo, respeito e valores. Nesta fase, a pergunta já não é “quem vai vencer as próximas eleições?”, mas uma muito mais inquietante:
Quem, no meio deste caos, ainda merece representar Cabo Verde?
Não me peçam aplausos.
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