Política

Ulisses Correia e Silva reiterou esta quinta-feira, 20, o mais recente pacote de promessas feitas aos jovens. Falando na abertura do Fórum Nacional da Juventude, que acontece na cidade da Praia, e já com olhos postos nas eleições legislativas de 2026, o primeiro-ministro apontou medidas de qualificação, apoio ao ensino, empreendedorismo e acesso à habitação.

Afirmando que apenas 23 porcento (%) dos jovens têm formação superior, Ulisses defendeu a necessidade de elevar esse número para valores acima de 25% e, nesse sentido, reiterou o anúncio de mais 500 bolsas para o ano letivo 2025/2026.

O primeiro-ministro destacou, ainda, as dificuldades enfrentadas pelos estudantes deslocados, nomeadamente no alojamento, alimentação e aquisição de livros, e explicou que o Governo criou uma iniciativa de trabalho remunerado, flexível e adaptada ao horário académico, para reforço do rendimento.

“Temos muitos jovens que estudam com bolsas, mas o valor não é suficiente” disse o chefe do Governo, adiantando que esta iniciativa permitirá um acréscimo de rendimentos para os jovens”.

Ulisses Correia e Silva apresentou, igualmente, medidas ligadas às residências universitárias e à formação profissional ao longo da vida. E referiu que os licenciados podem ampliar competências com cursos específicos em áreas digitais e línguas, aumentando o leque de oportunidades e sublinhando que a qualificação profissional é inclusiva, com acesso para jovens de baixos rendimentos, através da isenção de propinas.

O primeiro-ministro abordou o ecossistema de apoio criado para jovens empreendedores, que inclui assistência técnica, financiamento com bonificação de juros, garantias e benefícios fiscais. E disse que vários jovens já criaram empresas e postos de trabalho graças a estas condições.

Oportunidades que nunca mais acabam

Nunca referindo dados concretos, Ulisses Correia e Silva enumerou oportunidades na economia digital, desde comércio eletrónico à programação e exportação de serviços, com empresas instaladas no Parque Tecnológico da Praia e em São Vicente.

Segundo o primeiro-ministro, a economia azul, a agropecuária e os serviços de apoio à produção agrícola são áreas onde os jovens têm criado negócios.  

Considerando que os resultados das seleções nacionais em modalidades como futebol, basquetebol e andebol representam exemplos de superação e atitude, Ulisses relacionou esses sucessos a políticas do seu governo que reforçam a formação desportiva.

“Pouca gente acreditava que chegaríamos a mundiais, mas hoje é uma realidade”, disse o chefe do executivo, frisando que o desporto mostra que a atitude de ultrapassar dificuldades faz a diferença.

Sobre a habitação jovem, o Ulisses referiu-se ao aumento da bonificação da taxa de juro de 2 para 5,5% e a introdução de uma garantia pública de 15% para responder à exigência dos bancos na entrada, indicando que estas medidas reduzem encargos e facilitam o acesso ao crédito.

Por último, o primeiro-ministro aproveitou o momento alertando para o impacto da avalanche de informação nas redes sociais e exigiu leitura crítica face a conteúdos falsos, manipulados ou que provoquem comportamentos de risco entre os jovens.

Críticas à organização

Inicialmente previsto para acontecer na Boa Vista, o Fórum Nacional da Juventude 2025 foi transferido para a cidade da Praia, com o Instituto do Desporto e da Juventude (IDJ) a alegar “motivos logísticos” relacionados com a época alta do turismo naquela ilha.

Tal decisão do IDJ resultou numa “quebra significativa” de representatividade da juventude da Boa Vista. É que, dos 39 jovens inicialmente selecionados na ilha, apenas 19 conseguiram reorganizar-se e participar no fórum, resultando numa diminuição de cerca de metade da delegação da ilha.

O impacto provocado pelo anúncio da mudança da ilha anfitriã do fórum, deu lugar a críticas sobre a falta de planeamento e o sentimento de centralização das políticas para a juventude.

Nivaldo Moura, jovem residente na Boa Vista que desistiu da participação, expressou a sua “indignação e tristeza”, considerando que a comunicação tardia e falhas na logística criaram um sentimento de exclusão.

"O impacto é negativo porque cria uma sensação para os jovens de que estão sendo ignorados e não estão sendo ouvidos. E essa indignação acaba criando algum tipo de revolta," afirmou Nivaldo.

No mesmo sentido se posicionou Nilton Tavares, um jovem ativista desportivo que conseguiu participar, após de ter negociado as suas férias no local de trabalho.

Confirmando a quebra na participação, Nilton considerou a justificação do IDJ como uma "desculpa" para a falha em planear um evento de relevo nacional na ilha da Boa Vista, que, ironicamente, detém o título de Capital da Juventude 2025.

"Seria um marco importante na ilha, sabendo que foi dado o título, mas que, devido aos problemas logísticos, acabou por não se realizar," lamentou Nilton Tavares.

Nas redes sociais, a transferência do fórum para a Praia também está a suscitar polémica. É o caso do jovem Cleudir Rocha, que escreveu no seu perfil da rede social Facebook: “Mais uma vez, a ilha da Boa Vista é empurrada para o canto do palco nacional, aquele canto onde se colocam as promessas esquecidas e os planos que nunca saem do papel. O Fórum Nacional da Juventude 2025, anunciado com pompa para acontecer na ‘capital cabo-verdiana da juventude’, muda agora de cenário: sai da Boa Vista e instala-se, confortavelmente, na Cidade da Praia. O argumento? “Motivos logísticos’”.

O Fórum Nacional da Juventude, que se prolonga até sexta-feira, 21, conta com a participação de mais de 200 jovens de todas as ilhas e inclui workshops temáticos, sessões dinâmicas e visitas a centros de formação profissional.

Foto: Facebook/P-M