"Emigração Massiva dos Jovens Cabo-verdianos. A falácia da Liberdade de Circulação e de facilitação de vistos - I." de José Sanches é uma paródia de contradições que mais parece ser uma coscuvilhice de bar, do que uma análise Cientifica
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"Emigração Massiva dos Jovens Cabo-verdianos. A falácia da Liberdade de Circulação e de facilitação de vistos - I." de José Sanches é uma paródia de contradições que mais parece ser uma coscuvilhice de bar, do que uma análise Cientifica

Só uma ajudinha: se o autor quisesse fazer uma análise mais honesta e contextualizada, poderia reconhecer que, fruto de 50 anos de desenvolvimento progressivo, Cabo Verde tornou-se hoje, inclusive, destino de imigração para cidadãos de países que no passado foram procurados por cabo-verdianos em busca de melhores condições de vida. Poderia também admitir que muitas pessoas estão a emigrar porque isso faz parte de um projeto pessoal de vida — e não por absoluta falta de alternativas no país. Essa realidade contradiz o próprio autor, que, numa das várias contradições assinaláveis no seu texto, afirma que funcionários públicos estão a emigrar, mesmo quando alguns desses profissionais auferem salários superiores ao salário mínimo em Portugal [por exemplo].

Lido o artigo do nobre cidadão José Sanches, no jornal Santiago Magazine, à primeira leitura percebe-se que o texto é uma bela redação de argumentos que se anulam de forma descarada.

Logo nas primeiras linhas, o autor começa a refutar todas as explicações que justificam a migração dos jovens para os EUA e EU (Portugal, principalmente), por inexistência de estudos. Mas, para construir a sua narrativa, justifica-se com base em qual estudo? Ou seja, para o autor, o "achismo" dele é ciência — até que a ciência prove o contrário. De inicio, percebemos que o texto é uma paródia; não pode ser levado a sério, porque, na falta de estudo científico, o autor recorre à Bíblia e a palpites pessoais para fundamentar a sua primeira narrativa. O uso da frase “quem não se lembra da história bíblica...” ou “todos os dias jovens querem emigrar” são narrativas intuitivas, sem fundamentação analítica. Na verdade, aqui o autor procura o fundamento da emoção e do apelo à religiosidade [a nova onda da Extrema Direita. Ainda haveremos de ver cabo-verdianos pedindo a saída de muçulmanos do país].

Num dos seus parágrafos, reconhece que a emigração é um direito e, no caso de Cabo Verde, uma fatalidade histórica. No entanto, essa mesma realidade parece, subitamente, deixar de ser histórica e se tornar um fracasso atual — apenas por desejo e determinação do próprio autor.

A pergunta que se impõe é: desde quando Cabo Verde passou a ser mais rico do que a União Europeia e os Estados Unidos — destinos predominantes da emigração cabo-verdiana, atualmente? E por que razão o facto de Cabo Verde não ser mais rico do que os EUA ou a UE seria considerado, por si só, um fracasso governamental?

Podíamos ficar aqui a apontar um saco de contradições e argumentos que se anulam no texto. Vamos ficar com estes porque o autor vai escrever a segunda parte. E, nesta, talvez traga algo mais.

Só uma ajudinha: se o autor quisesse fazer uma análise mais honesta e contextualizada, poderia reconhecer que, fruto de 50 anos de desenvolvimento progressivo, Cabo Verde tornou-se hoje, inclusive, destino de imigração para cidadãos de países que no passado foram procurados por cabo-verdianos em busca de melhores condições de vida. Poderia também admitir que muitas pessoas estão a emigrar porque isso faz parte de um projeto pessoal de vida — e não por absoluta falta de alternativas no país. Essa realidade contradiz o próprio autor, que, numa das várias contradições assinaláveis no seu texto, afirma que funcionários públicos estão a emigrar, mesmo quando alguns desses profissionais auferem salários superiores ao salário mínimo em Portugal [por exemplo].

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SOBRE O AUTOR

Rony Moreira

Poeta, escritor, sociólogo, cronista