Essa falta de visão prejudica não apenas a ilha, mas todo o país. Enquanto o governo central e o poder local se concentram em estratégias de manutenção no poder, torna-se impossível pensar em soluções de médio e longo prazo. No entanto, apenas com um planeamento estratégico sustentado será possível preparar o Sal para competir com destinos turísticos verdadeiramente de excelência e o mais importante ainda é o seu reflexo na qualidade de vida da população.
A ilha mais turística de Cabo Verde, responsável por uma contribuição superior a 500 milhões de euros anuais para o PIB nacional apenas através do turismo, mereceria outro tipo de prioridade e visão estratégica.
A ausência dessa visão é o principal obstáculo ao desenvolvimento sustentável da ilha, impedindo que os benefícios do crescimento económico se reflitam de forma clara tanto a nível local como nacional.
Essa falta de visão prejudica não apenas a ilha, mas todo o país. Enquanto o governo central e o poder local se concentram em estratégias de manutenção no poder, torna-se impossível pensar em soluções de médio e longo prazo. No entanto, apenas com um planeamento estratégico sustentado será possível preparar o Sal para competir com destinos turísticos verdadeiramente de excelência e o mais importante ainda é o seu reflexo na qualidade de vida da população.
Todos os que visitam a ilha percebem, sem necessidade de fotografias promocionais, o estado de abandono e a ausência de estratégias a que esta chegou. Uma simples caminhada matinal, por vezes imposta pelo coro insistente de latidos, é suficiente para constatar como a ilha ficou parada no tempo.
Projetos com contornos claramente populistas são rapidamente desmascarados, pela sua execução apressada, falta de planeamento adequado e manutenção. Um exemplo é a asfaltagem desordenada das cidades, frequentemente interrompida por escavações para instalação de cabos ou tubagens. A entrada dos Espargos, outrora embelezada pelo jardim da câmara municipal, encontra-se hoje degradada, tal como a praça que circunda o anfiteatro e a Praça 19 de Setembro.
O lixo acumula-se nos passeios e nos terrenos por construir. Casas inacabadas multiplicam-se, sinal claro de que o programa de apoio à autoconstrução falhou, sobretudo na zona norte dos Espargos e de Santa Maria( Alto Santa Cruz, Chã de Matias, zona da IFH, Norte de São Paulo e A70), onde se observa a consolidação de guetos urbanos, fruto da ausência de uma política urbanística clara e eficaz.
A zona norte, dos Espargos, assemelha-se cada vez mais a áreas de segregação social, desprovidas de instituições ou equipamentos públicos que poderiam dinamizar a vida comunitária e oferecer um mínimo de conforto e segurança aos seus residentes. A ausência de instituições e o complexo desportivo da A70, completamente abandonado, é um símbolo gritante desse esquecimento.
O Complexo Habitacional "Casa para Todos" e o realojamento de Alto Santa Cruz transformaram-se em autênticos bairros de lata “em betão”, marcados pelo abandono, pela ausência de manutenção, pela falta de limpeza e por sinais evidentes de degradação e segregação social. Tudo isto resultou de uma tentativa de resolver um problema social sem um plano concreto a médio e longo prazo.
Faltou, desde o início, uma equipa multidisciplinar(formada por especialistas) dedicada exclusivamente ao apoio aos moradores, bem como uma figura responsável por garantir o cumprimento das regras por parte dos moradores. Essa figura teria como função "patrulhar" regularmente todos os edifícios, assegurando que a manutenção fosse feita atempadamente e que as normas de convivência fossem cumpridas.
Trata-se de uma função presente em bairros de todas as classes sociais, mas que aqui foi ignorada ou considerada desnecessária. Esquecemo-nos, ou simplesmente não nos importámos, com o “depois do alojamento”, e o resultado está hoje à vista de todos.
Os nossos decisores precisam urgentemente de estudar a teoria da janela quebrada e, mais importante ainda, de aplicá-la.
O problema dos resíduos e do saneamento tornou-se, de forma trágica, a principal “atração” exótica da ilha do Sal.
A proliferação de bicicletas e motorizadas pelas ruas das cidades, frequentemente em acrobacias e sem a devida iluminação, bem como o alastrar do chamado “alarme natural”, os cães nos terraços das casas, são reflexos claros da perceção de insegurança que se instalou na ilha. Importa sublinhar que a perceção de insegurança não significa, necessariamente, a existência de uma insegurança real, mas sim que as pessoas se sentem inseguras.
A ausência de uma boa iluminação pública em várias ruas da cidade, especialmente em Santa Maria, só agrava essa perceção. E, no entanto, continuamos a afirmar que queremos atrair turistas para visitarem as cidades, sobretudo à noite.
Este sentimento de insegurança afeta negativamente os negócios locais situados fora das zonas turísticas, em especial os restaurantes, que são, na sua esmagadora maioria, geridos por nacionais. A falta de confiança no ambiente urbano desincentiva o fluxo de turistas para estas áreas, limitando assim as oportunidades de desenvolvimento económico local.
O sinal mais evidente desta perceção de insegurança é a colocação de arames de proteção na residência oficial do vice-presidente da Câmara Municipal do Sal, uma medida simbólica que fala por si.
A verdade é que a decomposição acelerada da ilha não é apenas fruto do tempo, mas sobretudo da ausência de liderança, de estratégia e de visão de futuro por parte de quem deveria geri-la com responsabilidade. Não existe uma estratégia clara para o turismo, setor que é a principal fonte de rendimento da ilha. Não há projetos estruturantes, nem planos que preparem o Sal para os desafios de um destino turístico moderno e sustentável. Até hoje, ninguém consegue apontar com clareza quais foram, ou são, as obras, os investimentos ou as estratégias concretas dos governos local e nacional. Quando faltam ideias, surgem as desculpas. E quando não há rumo, instala-se o abandono. E é esse abandono que, lentamente, corrói a ilha por dentro, à vista de todos.
"O norte no Sal, perdeu-se pelo desnorte. Norte de Espargos e norte de Santa Maria guetos da vergonha que se tornaram a cara da liderança da ilha."
Comentários
Zé da mata, 9 de Jun de 2025
Mas flam cusa, Luis Pires? Porcaria, falta de higiene e civismo de população é culpa de governo? É preciso por polícia na rua pá fla povo pá cá degrada fachadas de prédios? Por favor, cá bu seja sima Francisco carvalho, que pá el governa é construi só casas de banho. N tem certeza má maioria de ques casas de banho, cá sta em condições de usa. Populismo, basta e chega. Governo e câmaras é cá santos, má como deputado que bó bu é, faze midjor.
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Évora, 9 de Jun de 2025
Osvaldino, que dizer daqueles que viveram no Sal dos anos 1960/1070 ? Mesmo os funcionários
COITADOS !!!
Pergunto quem ainda está vivo.
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