Em nome da unidade e luta, na praça pública
Colunista

Em nome da unidade e luta, na praça pública

O futuro de um país não se constrói com retalhos de ambição mal cosida. Cabo Verde merece mais e o PAICV também. Mas, para isso, alguém terá de desligar o megafone, calar o orgulho e fortalecer os alicerces antes que a casa desabe de vez… e os inquilinos se mudem para a casa do vizinho da ventoinha.

Há famílias que lavam a roupa suja em casa e há o PAICV, que parece ter transformado a sua sede num estendal a céu aberto, onde cada camisola amarrotada representa uma mágoa antiga, cada lençol exposto é uma má decisão e cada toalha torcida um golpe de bastidor. Tudo em nome de uma suposta transparência, que mais não é do que um teatro de sombras encenado à luz do dia.


O outrora partido da unidade e da reconstrução nacional parece hoje uma casa grande, onde ninguém fala com ninguém sem intermediar recados por terceiros. Os “melhores filhos desta terra” já não se sentam à mesma mesa. Preferem trocar farpas públicas, como se estivessem numa rixa de condomínio.
A liderança, agora vaga após a retirada de Rui Semedo, é disputada como se fosse o último lugar numa sala de espera. A cadeira nem é confortável, mas muitos a querem.
O que realmente falta é visão clara e, principalmente, a arte de discordar sem destruir; discutir sem desonrar; divergir sem transformar o partido numa peça de teatro pobre, com actuações forçadas, textos mal ensaiados e aplausos de cortesia.
Aliás, os aplausos mais ruidosos vêm do partido no poder, que se diverte e se ri como hienas esfomeadas, à espera que o partido escorregue e tombe na sua própria “basofaria”.


A militância, perplexa, assiste à degradação moral do projecto político como quem vê um incêndio alastrar lentamente pelas divisões da casa: primeiro a cozinha, depois a sala, agora os quartos. Ninguém se entende sobre quem acendeu o fósforo, mas todos têm teorias e todos querem liderar os bombeiros. Porque a verdade é esta: enquanto o PAICV se ocupa em amputar os próprios braços e pernas, tornando-se numa massa amorfa, o país segue, órfão de alternativa sólida, olhando para este teatro de horrores com um misto de vergonha e desilusão.

A plateia já não ri nem chora… apenas desvia o olhar, como quem assiste a um naufrágio anunciado, em silêncio. Já não se critica, sussurra-se. Já não se espera, resiste-se teimosamente.


Se o partido quiser, de facto, reencontrar-se com o povo, terá de começar por reconciliar-se consigo mesmo. E isso exige mais do que reuniões de emergência sem resultados. Exige humildade, escuta, e sobretudo, uma interrupção do ruído interno que tem abafado qualquer hipótese de pensamento colectivo ou de unidade.


Talvez seja tempo de lembrar que as casas sólidas não se constroem com guerras de egos, mas com pilares comuns. Que a autoridade não se impõe com brigas, “riolas” e  de constantes “Lives” de influencers incendiários, mas sim com coerência; que a roupa suja, por mais manchada que esteja, não se esfrega no meio da rua, mas entre paredes, com água limpa, sabão de barra e lixívia para as nódoas mais persistentes.
A história não se escreve com intrigas e dos fracos não reza a história.

O futuro de um país não se constrói com retalhos de ambição mal cosida. Cabo Verde merece mais e o PAICV também. Mas, para isso, alguém terá de desligar o megafone, calar o orgulho e fortalecer os alicerces antes que a casa desabe de vez… e os inquilinos se mudem para a casa do vizinho da ventoinha.

FORTE APLAUSO

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Comentários

  • pedro amado, 14 de Abr de 2025

    NUitas das vezes já ouvimos que vem do outro lado que nuito bem conhecemos.Quem pensa que o paicv já acbou em nada são pessoas que n8nca aprende com a historria,e esttao a lebrar ques malditos fizeram o enterro de pedro piris,

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  • Caboverdiano, 14 de Abr de 2025

    Deus que nos livre de um.governante faccioso, populista e regionalista.
    Queremos gente equilibrada , com sentido de estado e que não utilize patrocinios a festivais para angariar votos e satisfazer certa franja da população para só criar e fomentar vicios - passa sa...bi.

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  • Adam Norcan, 14 de Abr de 2025

    Engracado ! O meu amigo,camarada e conterraneo foguense NUIAS SILVA,tem uma chance enorme de ganhar a corrida interna,por razoes que nao vou dizer aqui,mas que todos podem adivinhar,MAS,mas MUITO dificilmente o PAICV saira' vencedor das proximas legislativas,tendo o meu camarada NUIAS como presidente.O Francisco pode ganhar a eleicao interna do PAICV a' rasquinha,mas com ele como presidente,a chance de o partido da independencia ganhara' as proximas legislativas com muita facilidade e maioria.

    • Adam Norcan, 14 de Abr de 2025

      Mais acrescento que,este desgaste que esta' sendo provocado dentro do partido,causara' uma certa cisao e divisao entre militantes,que acabara' por trazer consequencias nefastas,como aquelas bem conhecidas de todos,aquando das presidenciais de Aristides Lima e Inocencio.Sim,tanto O Francisco como o Nuias perderao votos de muitos militantes que sao ferrenhos e que so' veem o partido a' frrente (ala).Mas o Francisco acabara' por conquistar votos alheios (MPD,independentes e outros fora da orbit PAI
    • Adam Norcan, 14 de Abr de 2025

      Dos quatro candidatos,so' o Francisco garante aquilo que uma estrondosa maioria de caboverdianos quer e deseja neste momento:MUDANCA ! Mas nao e' aquela simples mudancinha a que estamos habituados.E' uma mudanca seria e profunda que vai mexer com TUDO o que tem a ver com a administracao do pais na economia,financas,seguranca,JUSTICA,educacaosaude,transportes etc.Gostaria de destacar a pesca,turismo e agricultura de forma clara e diferenciadas.Deus e' pai !!!
    • Mário Gomes da Costa, 14 de Abr de 2025

      Mudança profunda do tipo da que está fazendo Donald Trump, nos EUA?

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  • Adonis Vilela, 13 de Abr de 2025

    Unidade e luta de quê e para quê? Esta de unidade e luta não deu em nada. É só olhar para Guiné e Cabo Verde, do tempo de Cabral. O primeiro a ser eliminado pela ganância foi o próprio despertador das consciências e fundador da ideia de unidade e luta, isto é, Amilcar Lopes Cabral. Depois, a saga malfeitora atingiu próprio irmão Luís Almeida Cabral e tudo acabou em profunda merda ralada. Portanto, se alguém pretende lutar que vá sozinho. Eu, Adonis, ao lado dos outros, nunca .

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  • Casimiro centeio, 13 de Abr de 2025

    Any, a sua análise merece UMA PROFUNDA , SÉRIA E DESAPAIXONADA reflexão !!!!!
    Mas como fazê-la ? Ai é que está a chave da questão ! E tem que ser uma chave nova porque a chave velha já não abre nenhuma fechadura nova.
    As minhas felicitações pelo talento e contribuição em apreço.
    Gostei !!!!!

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  • Joaquim carvalho, 13 de Abr de 2025

    A minha sugestão é que um grupo de Militantes se reúna e convoque os dois Candidatos ...para um tête-a-téte, com a participação de proeminentes figuras do Partido, visando um acordo de cavalheiros...ou uma escolha direta e secreta...

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  • José Maria Fernandes, 13 de Abr de 2025

    Concordo 100%.
    Tudo o que está acontecer, no PAICV, é por causa ganância desmedida.
    Se não sentarem à mesa urgente, o PAICV perderá feio, às eleições Legislativas

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  • Ary, 13 de Abr de 2025

    Entendo que o alerta da articulista vem mesmo a calhar.
    Não tapemos o sol com a peneira .

    Apolitico.

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  • Benvindo, 13 de Abr de 2025

    Isto é uma crónica sem enredo!
    Simplesmente mais uma que procura protagonismo a custa das eleições internas do PAICV.
    Vai pela LUZ!

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  • Terra, 13 de Abr de 2025

    Mesmo verdade/ as poca vergonha dos dirigente ja são mal para os militantes?

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  • Ary, 13 de Abr de 2025

    PAICV dja caba na nada.. Jogo do poder.
    Mais parece um clube de futebol.
    É pena!!!
    Desejo melhorias .

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  • Manuel J.Pires, 13 de Abr de 2025

    Excelente alerta ou, chamada de atenção, para dentro do PAICV, caso estejam realmente interessados em disputar as próximas Eleições com espírito ganhador a bem do País e do POVO.
    Essa luta fraticida só beneficia, e bastante o MPD que, do alto do poleiro, estará batendo palmas.

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