Em jeito de defesa. Ou de uma tentativa de desvendar o mistério do BMW X5
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Em jeito de defesa. Ou de uma tentativa de desvendar o mistério do BMW X5

O senhor presidente da Câmara Municipal de São Miguel escreveu uma nota de esclarecimento sobre a compra de um carro de luxo para seu uso pessoal, onde me acusa de estar de conluio com Carla Carvalho, para, enquanto colaborador do diário digital Santiago Magazine, atacá-lo.  

É verdade que o presidente da Câmara Municipal de São Miguel tem assumido posições as mais escabrosas sobre pessoas, sobre as suas funções e sobre a vida política do seu concelho, mas confesso que fiquei espantado com esta sua tirada sobre a minha pessoa.

Na verdade, tem sido difícil para mim entender como é que Herménio Fernandes conseguiu ver-me, eu, Domingos Cardoso, envolvido neste negócio do seu BMW X5. E mais, como é que ele conseguiu ver-me envolvido na notícia sobre o carro de luxo que ele comprou?

É facto que Herménio Fernandes comprou um BMW X5 para seu uso pessoal, enquanto presidente da Câmara Municipal de São Miguel. Ele diz que pagou 6 mil e 400 contos pela máquina. A página do BMW em https://www.bmw.pt/pt/all-models/x-series/X5/2015/at-a-glance.html, diz que o preço da versão base de um BMW X5 é 80 mil 210 euros.

É facto que BMW é tido como carro de luxo em qualquer parte do mundo. Se não for, aqui em Cabo Verde é!

É facto que em nenhum momento a peça informativa de Santiago Magazine, objecto da nota de esclarecimento emitida por Fernandes, fala de Domingos Cardoso, seja enquanto fonte de informação, seja enquanto autor da mesma.

Ora, como foi que este político me viu envolvido neste embriólogo do seu carro de luxo?

Eu gostaria muito que o senhor presidente da Câmara Municipal de São Miguel me respondesse estas questões, assim como gostaria também de entender o mistério deste BMW X5 do mais jovem e mais votado edil do país.

Aliás, creio que existem muitos mistérios nas decisões deste político que precisam ser desvendados.

São Miguel é um dos concelhos mais pobres do país. É facto. Por isso, nada a acrescentar. Aqui o mistério é entender como é que um dos concelhos mais pobres do país consegue alimentar um dos presidentes de Câmara que tem dado sinais de ser dos mais luxuosos de Cabo Verde.

Uma das residências oficiais mais emblemáticas dos municípios nacionais é a de São Miguel. Herménio Fernandes recusou morar nela, alegando que se encontra em mau estado. Ora, sendo verdade, uma gestão eficiente e eficaz recomendaria obras de benfeitoria. O que fez Fernandes? Em vez de obras na residência oficial - o edificio está lá adegradar-se aos pedaços -, alocou 70 mil escudos de subsídio de renda de casa mensal para os seus bolsos, lesando as famílias de São Miguel em 840 mil escudos anuais, que poderiam ser empregues em obras sociais.

Este político profissionalizou todos os seis vereadores a tempo inteiro, sob o argumento de que precisa deles com total disponibilidade para abraçar os desafios de desenvolvimento do concelho.

No momento seguinte tirou uma deliberação delegando, de uma assentada, 19 competências da Câmara Municipal, enquanto órgão colegial, para pessoa do presidente da Câmara Municipal, enquanto órgão singular do município. Ou seja, esvaziou as competências da Câmara Municipal e dos vereadores, tornando-se senhor absoluto e todo-poderoso.

Para amainar os ânimos, fez aprovar uma deliberação atribuindo aos eleitos um subsídio de transporte no valor de 10 mil escudos mensais. Este subsídio  - para além de ilegal - representa um encargo financeiro de cerca de 720 mil escudos anuais, num concelho com uma das mais elevadas taxas de abandono escolar, provocadas, em grande medida, por carência de meios financeiros para suportar os encargos da educação.

Na sua nota de esclarecimento sobre BMW X5, saca de uma deliberação em que a Assembleia Municipal terá aprovado a aquisição de quatro viaturas para renovar o parque automóvel. Antes disso, ensaiou andar na sua viatura pessoal para passar a imagem de que as viaturas da Câmara estavam velhas, e que ele, num gesto de altruísmo pessoal, estaria a utilizar a sua própria viatura em serviço oficial.

Tal manobra foi sol de pouca dura, porque imediatamente denunciado pela oposição.

Porém, mais grave que as habilidades altruístas e teatrais do homem, é a ilegalidade da dita deliberação da Assembleia Municipal, uma vez que esta não tem competências nesta matéria, o que anula os seus efeitos. Ou melhor, esta deliberação da Assembleia Municipal é nula e de nenhum efeito.

Um outro mistério é o valor do BMW. Se o preço for o que ele diz que é, tudo indica que beneficiou de um tratamento diferenciado no negócio. Se assim for, a que se deve este tratamento?

Antes de terminar, remarco que escrevi estas breves notas em jeito de defesa. Ou de uma tentativa de desvendar o mistério do BMW X5 de Herménio Fernandes e o meu alegado envolvimento no negócio e na notícia a que deu origem.    

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SOBRE O AUTOR

Domingos Cardoso

Editor, jornalista, cronista, colunista de Santiago Magazine

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