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Cadê o patriotismo?
Colunista

Cadê o patriotismo?

Viva Cabo Verde! Apetece-me dizê-lo, assim a abrir, porque no fim é isto que interessa. Cabo Verde e txau!

Hoje o país completa 42 anos de vida. Sim, o meu arquipélago está grisalho. E dou palmas aos que bateram o pé para que hoje possa dizer com orgulho: sou cabo-verdiano de papel passado e tudo.

Os acontecimentos destes dias – com muito radicalismo ao ponto de se falar em divisionismo – nos obriga a reflectir, de novo, sobre o país que nos sustenta. O momento exige ponderação e sobretudo um sentido patriótico. Creio que o que falta a esta geração é precisamente a ausência de noção de pátria. Ver e ser o todo e não partes incompletas de um sistema-país.

Pois é, Cabo Verde é um país extraordinário, conquistado à bala e à sorte. Discursos divisionistas e egoístas retrocedem no tempo e no saber, estrangulam a independência e esfolam a liberdade colectiva. Não existe Cabo Verde sem Espinho Branco, sem Caleijão, sem Fajã, sem Barreiro, sem Ponta Verde, sem Calhau, sem Ponta do Sol, sem Palmeira e sem Praia.

Então vamos esquecer essas tretas, sem perder a noção de pátria. A memória é fundamental para eternizar momentos. Bons ou maus. Mas esquecer, ou pelo menos ter essa capacidade, é essencial para a saúde do cérebro e, consequentemente, para o jeito como se encara a vida. Por isso, hoje esqueço muita porcaria que já vi acontecer em Cabo Verde. E sim, lembrar que este arquipélago fintou o destino da inviabilidade para ser hodiernamente um país de desenvolvimento médio.

É claro que isso é mera estatística, porque na prática ainda há pessoas a padecer, vidas que enganam a fome, a miséria, a angústia, para poder somente existir - em Furna ou Picos. Mas o facto é que, globalmente, há muito mais coisas para vibrar do que para reclamar. Cabo Verde é, pois, um país vencedor. E de um modo peculiar. Porque se os que foram ao mato na Guiné-Bissau são heróis na conquista da independência, a geração que agarrou o touro (entenda-se um arquipélago teimosamente atípico) pelos cornos é campeã na conquista da liberdade e democracia. Construiu um país que o mundo não acreditava. A todos eles a minha vénia.

Mas creio que os maiores heróis, no fundo, somos nós todos, nós os anónimos, que batendo o pé ou aplaudindo, bajulando ou conquistando, temos estado a garantir, cada um à sua maneira, que estas dez jangadas cabo-verdianas não percam definitivamente o rumo e Cabo Verde seja efectivamente este país vivível. Sim, o meu país, já grisalho, é isso: extraordinário. Uno e indivisível.

Viva o 5 de Julho, o dia que nos fez um só país, uma só nação. A Pátria amada.

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine