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A Educação, o Professor e o 23 de abril   
Colunista

A Educação, o Professor e o 23 de abril  

Em Cabo Verde, estranhamente, o Professorado é pouco valorizado! Fica-se com a sensação de que as autoridades têm-no considerado mais uma tarefa do que uma profissão, quando, na verdade, é a PROFISSÃO MAIOR, pois é preciso perceber que, se a educação vai mal, todo o resto falha! Neste ponto, vale a pena termos em conta o famoso relatório de um estudo sobre o estado da educação nos EUA, realizado em 1983, cuja conclusão originou o título de “A Nation At Risk” (Uma Nação em Risco), tendo como uma das passagens a seguinte: “As fundações educacionais da nossa sociedade estão a ser corroídas por uma crescente maré de mediocridade que ameaça o nosso próprio futuro como nação e como povo.” Será este o caso de Cabo Verde?

A educação é o processo pelo qual nos tornamos humanos, seja a educação familiar (informal), seja a educação escolar (formal), constituindo-se num processo que faz distinguir o ser humano dos restantes.

No séc. XIX, a educação formal foi assumida, em larga escala, pelos Estados e a escola e o sistema educativo se configuraram no formato que os conhecemos hoje, com a função de educar pessoas por via do conhecimento. Tendo o conhecimento como diferencial, em relação à educação familiar (mais baseada na tradição e nos costumes), a figura do Professor entra como fator-chave. É através do conhecimento que o Professor e a escola educam a nova geração, servindo-se, para o efeito, de um conjunto de disciplinas (conhecimentos) estruturadas em planos curriculares, mas também de atitudes e práticas comportamentais exemplares, tudo, num ambiente educativo próprio. Deste ponto de vista, a função, por exemplo, de um Professor de Matemática não é ensinar a Matemática, mas sim a de EDUCAR, através de Matemática.

Sendo assim, ser Professor não pode ser compreendido como algo que esteja ao alcance de qualquer um, ainda que se aparenta minimamente preparado, e o Estado não pode tratar essa profissão com uma certa indiferença, como acontece em Cabo Verde.  Em muitas partes do mundo, hoje, os cuidados que se têm na seleção de candidatos a formação de Professores; nos processos de formação (inicial e contínua); e na inserção na vida profissional são muito semelhantes aos dos médicos. E, não é por caso! As duas funções são muito semelhantes. Ambas exigem um elevado grau de qualificação, alto senso de responsabilidade e cuidado, uma grande capacidade de autonomia profissional, espírito de entrega e ajuda.

É fundamental que em Cabo Verde o Estado reconsidere a sua visão e o seu conceito de Professor. Se se deseja, de facto, o progresso para este povo e se se está consciente de que não há progresso e pessoas com um alto nível educacional, sem o conhecimento, então, valorizemos o Professor! Pois, honestamente falando, não há outra alternativa de se promover e conseguir o progresso, amiúde propalado nas retóricas dos discursos políticos.

Estudos internacionais, como o de McKinsey & Company, têm demonstrado que o Professor é o fator-chave para uma educação de qualidade e, consequentemente, o determinante principal para elevados padrões de desempenhos educacionais, por exemplo, em países como Singapura, Coreia do Sul, Finlândia e Japão. Nesses países, os Professores são muito valorizados e gozam de um alto prestígio social. São considerados “Construtores da Sociedade”, por serem a classe social que maior contributo dá à sociedade. Importa observar que, no caso da Coreia do Sul, os Professores fazem parte da classe social mais rica. E não é por acaso que aquele país, onde nos anos 50 se morria de fome por causa da miséria, hoje, é um dos mais avançados, tecnologicamente, possuindo marcas como SAMSUNG, KIA, HYUNDAI, LG, etc.

Em Cabo Verde, estranhamente, o Professorado é pouco valorizado! Fica-se com a sensação de que as autoridades têm-no considerado mais uma tarefa do que uma profissão, quando, na verdade, é a PROFISSÃO MAIOR, pois é preciso perceber que, se a educação vai mal, todo o resto falha! Neste ponto, vale a pena termos em conta o famoso relatório de um estudo sobre o estado da educação nos EUA, realizado em 1983, cuja conclusão originou o título de “A Nation At Risk” (Uma Nação em Risco), tendo como uma das passagens a seguinte: “As fundações educacionais da nossa sociedade estão a ser corroídas por uma crescente maré de mediocridade que ameaça o nosso próprio futuro como nação e como povo.” Será este o caso de Cabo Verde?

Uma das lacunas graves no nosso sistema educativo é a ausência de uma  Política Nacional para a Docência, ou seja, orientações políticas que, a par da Política para a Educação e com a qual deve alinhar-se, definem, de forma integrada: (i) o recrutamento e a retenção de professores; (ii) a formação inicial e contínua; (iii) a colocação e integração de novos professores; (iv) as estruturas/planos de carreira; (v)  as condições de trabalho; (vi) remunerações e recompensas; (vii) normas profissionais; (viii) e responsabilização, gestão de desempenhos e avaliação.

Reporto que a UNESCO vem insistindo para que os países definam as suas Políticas Nacionais para a Docência, como instrumento essencial para a promoção da qualidade na educação, a partir de valorização do Professor e fazer dos Professores atores principais das reformas educacionais.

Em Cabo Verde, foi instituído há vários anos o “Dia do Professor Cabo-Verdiano” (23 de abril) e é comemorado com alguns convívios entre a classe, mas não chega! É fundamental uma profunda reflexão e reforma sobre o Professorado em Cabo Verde, ou se quisermos, sobre a Docência, num exercício conjunto que envolve Políticos, Professores e toda Sociedade, pois o nosso futuro depende, em grande medida, do que nós fomos capazes de fazer, hoje, na Educação.

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