A juventude cabo-verdiana, especialmente na Ilha do Sal, tem dado sinais claros de comprometimento com o ambiente. Cabe agora às autoridades públicas fortalecer esse protagonismo com políticas inclusivas, investimentos estruturantes e uma aposta séria na educação ambiental. Promover a cidadania ambiental é também um ato de justiça intergeracional — é preparar hoje os líderes ambientais de amanhã. É dar às comunidades as ferramentas para protegerem aquilo que têm de mais precioso: os seus recursos naturais, a sua identidade ecológica, o seu futuro.
Resumo
Este artigo reflete sobre a relação entre juventude, ambiente e políticas públicas na Ilha do Sal — um dos destinos turísticos mais procurados de Cabo Verde. O texto destaca o papel fundamental dos jovens na proteção do meio ambiente e na promoção do desenvolvimento sustentável. Diante dos desafios ambientais enfrentados pelo arquipélago, defende-se que políticas públicas mais inclusivas e estruturadas podem impulsionar o protagonismo juvenil e garantir um futuro mais verde, justo e resiliente. Afinal, não se pode falar em economia azul ou verde sem proteger, valorizar e conservar as nossas riquezas naturais. Como em muitas partes do mundo, a maioria das atividades turísticas ocorre em áreas protegidas e reservas naturais — habitat de espécies endêmicas e nativas que, além de desempenharem funções ecológicas cruciais, são também atrações para visitantes. Isso exige uma gestão eficiente e fiscalização contínua dessas zonas.
Cabo Verde, como arquipélago insular, é especialmente vulnerável aos impactos das mudanças climáticas, enfrentando fenómenos como a desertificação, a escassez de água e a erosão costeira. Nesse contexto, a juventude emerge como agente estratégico de transformação: mais de 40% da população cabo-verdiana tem menos de 25 anos. Especificamente na Ilha do Sal, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), 14,5% da população pertence à faixa etária dos 15 aos 24 anos, e 19,8% está entre os 25 e 34 anos. Diante disso, este artigo propõe um olhar atento às políticas públicas nacionais, analisando como elas têm abordado a interseção entre juventude e meio ambiente e propondo estratégias para ampliar e fortalecer o engajamento juvenil.
Juventude e Sustentabilidade Ambiental
A juventude da Ilha do Sal tem demonstrado, nos últimos anos, uma crescente consciência ecológica. Através de ações como campanhas de limpeza costeira, atividades de reflorestação, formações em educação ambiental e programas de sensibilização, os jovens têm ocupado um lugar relevante na linha da frente da conservação.
Exemplo notável disso é o trabalho desenvolvido pela Associação Projeto Biodiversidade, que, com o programa “Jovens Embaixadores pelo Ambiente”, tem capacitado jovens líderes ambientais e envolvido a juventude local em programas de conservação marinha e terrestre. Esses jovens tornam-se multiplicadores de conhecimento e ação em suas comunidades. No entanto, apesar do entusiasmo e dedicação, a falta de recursos financeiros, de apoio institucional contínuo e de reconhecimento por parte das estruturas públicas ainda limita o impacto dessas iniciativas.
Políticas Públicas Ambientais em Cabo Verde
Cabo Verde tem implementado políticas importantes no campo ambiental, como o Plano Nacional de Gestão Ambiental (PNGA) e o Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas (PANA). Ambos os documentos sinalizam compromissos sérios com a proteção do ambiente e com a resiliência climática.
Entretanto, ainda se nota uma ausência de mecanismos sólidos que garantam a participação efetiva da juventude nesses processos. Faltam plataformas permanentes de escuta ativa e de consulta pública que envolvam os jovens na formulação, implementação e monitoramento das políticas ambientais. Trata-se de uma lacuna estratégica, especialmente num país onde a força e criatividade da juventude poderiam representar um enorme diferencial na defesa do meio ambiente.
Educação Ambiental: Pilar para o Futuro do Pais e do Sal
Defendo com convicção que a Educação Ambiental deve ser parte integrante do sistema educativo cabo-verdiano, desde os primeiros anos de escolaridade. As crianças e adolescentes precisam aprender desde cedo sobre a biodiversidade das suas ilhas, sobre as espécies endémicas, nativas e introduzidas, e sobre os conceitos-chave relacionados à conservação e sustentabilidade.
Acredito que quem conhece bem, protege melhor. Ao incorporar temas de sustentabilidade ambiental nos currículos escolares, estaremos não só formando cidadãos mais conscientes, mas também promovendo uma verdadeira cultura ecológica. A educação é, sem dúvida, uma das ferramentas mais poderosas para garantir que o futuro deixe de ser uma ameaça para tornar-se uma oportunidade.
Conclusão
A juventude cabo-verdiana, especialmente na Ilha do Sal, tem dado sinais claros de comprometimento com o ambiente. Cabe agora às autoridades públicas fortalecer esse protagonismo com políticas inclusivas, investimentos estruturantes e uma aposta séria na educação ambiental.
Promover a cidadania ambiental é também um ato de justiça intergeracional — é preparar hoje os líderes ambientais de amanhã. É dar às comunidades as ferramentas para protegerem aquilo que têm de mais precioso: os seus recursos naturais, a sua identidade ecológica, o seu futuro.
Comentários
FRANCISCO FERNANDES TAVARES, 16 de Abr de 2025
As iniciativas da Associação Projeto Biodiversidade constituem uma boa prática e devem contaminar os jovens de outros Concelhos. Que se aproximem dos poderes públicos para o dialogo e procura de recursos e parcerias para continuar com uma agenda sólida tendo em atenção a capacidade de carga da ilha.
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FRANCISCO FERNANDES TAVARES, 16 de Abr de 2025
As iniciativas da Associação Projeto Biodiversidade constituem uma boa prática e devem contaminar os jovens de outros Concelhos. Que se aproximem dos poderes públicos para o dialogo e procura de recursos e parcerias para continuar com uma agenda sólida tendo em atenção a capacidade de carga da ilha.
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