Vítima de agressão física por parte do seu companheiro, Arlindo Gomes Semedo, no dia 18 de Novembro de 2017, Júlia Filomena Gonçalves Rodrigues (Julinha Rodrigues), fraturou a tíbia da perna esquerda, até este momento anda de muletas, faz fisioterapia diariamente e recebe acompanhamento psicológico com ajuda da Associação Cabo-Verdiana de Luta Contra a Violência Baseada no Género.
Julinha Rodrigues, 47 anos e mãe de dois filhos, uma menina e um rapaz, todos maiores de idade, conta ao Santiago Magazine que, na tarde de 18 de Novembro de 2017, no final de uma festa de batizado no bairro de Eugénio Lima, na Praia, foi empurrada pelo seu companheiro, Arlindo Gomes Semedo, um agente prisional conhecido por Lindo Barra.
Na sequência desta agressão, Julinha terá perdido os sentidos e só veio a dar por si nos serviços de urgência do hospital Agostinho Neto, para onde terá sido levada por agentes da Polícia Nacional.
Os exames preliminares detetaram “traumatismo severo do joelho, com impotência funcional absoluta do membro inferior esquerdo”.
Do relatório médico conta “fratura tibial externo esquerdo, dor a nível do joelho esquerdo com derrame intra-articular. Deformidade da perna esquerda com equimose. Crepitação óssea ao flexionar o joelho”.
A agressão de que foi vítima por parte do seu companheiro, com quem vivia há cerca de quatro anos, terá surgido de uma questão banal, segundo as palavras de Julinha, alegadamente “motivada por ciúmes”.
Tendo ficado imediatamente internada no hospital Agostinho Neto, no dia 29 de Novembro seria operada ao joelho, e ali permaneceu durante 17 dias. Neste momento, Julinha suporta seis parafusos e três placas na sua perna esquerda.
“Nem desculpas ele me pediu. Até este momento, a única coisa que ouvi da boca dele é: Julinha tu és frágil”, afirma, acrescentando que está a viver de “apoio de famílias e amigos”.
Julinha diz que sempre foi verbalmente violentada por Lindo Barra, mas que violência física foi a primeira vez.
O caso está sob a alçada das autoridades judiciais. Só em Fevereiro é que Julinha conseguiu apresentar queixa, devido, em parte, ao facto de ter estado fisicamente incapacitada de o fazer antes por causa das dificuldades de locomoção.
Esta senhora, que reside com um filho de 19 anos – a filha de 27 anos vive em Inglaterra -, no bairro de Terra Branca, afirmou a este diário digital, que logo depois da alta hospitalar, o seu agressor começou a frequentar a sua casa, pedindo para voltarem a viver juntos, porém ela recusou.
“Desde esta altura, ele não mais apareceu aqui”, remata, para dizer que já não consegue viver “com uma pessoa tão agressiva assim”.
“Ele agrediu-me e deixou-me abandonada na rua. Fui socorrida por estranhos que chamaram a Polícia. Eu podia ter morrido como um cão”, acusa.
Recorde-se que este Arlindo Gomes Semedo é o mesmo homem que, em Fevereiro de 2009, teria agredido a jornalista da RTC, Margarida Moreira, com quem vivia na ocasião.
Santiago Magazine não conseguiu chegar à fala com o alegado agressor de Julinha, apesar de várias tentativas para o efeito, inclusive junto dos seus irmãos, para ouvir a sua opinião sobre este assunto, tendo em conta o estado em que a vítima se encontra.
Dados da Polícia Nacional dão conta que a Violência Baseada no Género (VBG) foi o crime contra pessoas mais cometido no primeiro semestre do ano passado, representando 26% do total de ocorrências. Atingindo a cifra das três mil ocorrências, esta revelação da PN aconteceu no mesmo dia em que a organização "Laço Branco" realizava uma marcha na cidade da Praia contra a violência, com destaque para a VBG, o tipo de crime que mais flagela mulheres e crianças.
O relatório anual sobre o estado da justiça referente ao 2016/2017, apresentado pelo Conselho Superior do Ministério Público, regista uma entrada de 2 mil 592 processos de crimes de VBG. Como tinham vindo transitado do ano anterior – 2016/2016 – 8 mil 409 processos, resulta que o Ministério Público ficou com 11 mil e um processos de VBG para resolver durante o ano judicial de 2016/2017. Esses mesmos dados mostram que foram resolvidos apenas 3 mil 880 processos, o que significa que transitaram para no ano judicial em curso 7 mil 121 processos de VBG.
O caso da Julinha Rodrigues é mais um que irá juntar-se aos milhares de processos que as autoridades judiciais deste país vão ter que resolver ao longo dos próximos anos.
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