“Hão de concordar comigo que o desafio é hercúleo e que as próximas eleições autárquicas, por serem as primeiras do próximo ciclo eleitoral, devem ser rigorosamente preparadas, porque o desempenho do PAICV nessas eleições, ditará em boa medida o seu desempenho nas eleições subsequentes. Hão de concordar comigo ainda , que o partido pode já estar bastante atrasado na sua preparação e, eventualmente, com prioridades trocadas”.
Em 2020, daqui a menos de um ano, realizar-se-ao as eleições autárquicas, as primeiras do próximo ciclo eleitoral. Estas eleições serão uma espécie 1ª volta de um “jogo”, que se o partido não ganhar, terá pelo menos de fazer um bom resultado, o que significa empatar ou perder por pouco, para que possa aumentar as suas chances de virar o “jogo” na 2ª mão (lê-se legislativas). Mas, se deixar sofrer uma nova “goleada”, como a que sofreu em 2016, quando ficou reduzido a apenas 2 municípios, num universo de 22, será muito difícil, para não dizer quase impossível, virar o resultado na 2ª mão, embora na política nada seja impossível e “até ao lavar dos cestos é vindima”.
Hão de concordar comigo que as próximas eleições autárquicas, por serem as primeiras do próximo ciclo eleitoral, devem ser rigorosamente preparadas, porque o desempenho do PAICV nessas eleições, ditará em boa medida o seu desempenho nas eleições subsequentes. Hão de concordar comigo ainda , que o partido pode já estar bastante atrasado na sua preparação, agravado pelo facto de que, provavelmente, até Março de 2020, estará concentrado em disputas internas e no seu rescaldo, para além de estar a dar sinais de estar com prioridades trocadas, isto é, mais preocupado com “jogo” que tem depois (legislativas), antes de preparar muito bem, jogar e ganhar o próximo “jogo” (autárquicas).
Para o PAICV, a matemática das próximas autárquicas é mais ou menos a seguinte: se vencer entre 03 a 07 câmaras, supera-se a si mesmo e aos resultados que obteve em 2016. Se ganhar 08 câmaras repõe o número de câmaras que tinha conquistado há 08 anos atrás, em 2012. Se ganhar mais do que 08 câmaras, fará crescer quantitativamente o partido a nível do Poder Local, 08 anos depois. Para ganhar as eleições autárquicas terá não só, de quantitativamente ganhar um número relevante de câmaras (não necessariamente mais câmaras que o adversário), mas recuperar alguns municípios fortes e estratégicos do ponto de vista político eleitoral, como Praia, São Vicente, Santa Catarina de Santiago, Sal e São Filipe do Fogo, um desafio hercúleo, diga-se de passagem, mas mais ou menos a façanha que o Partido protagonizou nas autárquicas de 2000, quando, sob a liderança de Pedro Pires, o PAICV com José Maria Neves recuperou o Município de Santa Catarina de Santiago, com Felisberto Vieira recuperou o da Praia e com Orlando Sanches, o de Santa Cruz, outrora bastiões do MPD.
Os Estatutos do PAICV regulam que “compete à Comissão Política Regional propor à Comissão Política Nacional as candidaturas ao cargos de Presidentes de Câmara e de Assembleias Municipais e aprovar os demais integrantes das listas de candidaturas aos órgãos das autarquias locais, sob proposta dos Conselhos de Sector ou Grupos de Base” (Artigo 70º, na alínea d) . E “sempre que houver mais do que um candidato a disputar a indicação do Partido para o cargo electivo de Presidente da Câmara Municipal, poderá a Comissão Política Nacional, ouvidos o Conselho de Sector ou a Comissão Política Regional, aprovar a realização de eleições primárias para a escolha dos candidatos do Partido a essas eleições, devendo estabelecer desde logo o calendário eleitoral respectivo” (Artigo 28º, nº1).
O grande desafio do PAICV reside pois em disputar e ganhar as próximas eleições autárquicas num contexto altamente adverso, que é o de virar um resultado extremamente desfavorável (de 20 a 02) e ante um adversário (MPD) que já deu provas de ser muito aguerrido e competitivo nessas disputas, mesmo quando confrontados com os piores prognósticos (sondagens) antes do “jogo”. Não é por acaso que o PAICV sempre enfrentou enormes dificuldades na eleições autárquicas, mesmo no período que conquistou três maiorias absolutas consecutivas nas legislativas e esteve 15 anos (2001 - 2015) a liderar o Poder Executivo em Cabo Verde. Embora se deva realçar o facto de até 2016, nunca ter deixado escapar para o adversário os municípios da emblemática Ilha do Vulcão e de, nesse período, ter gerado outras dinâmicas a nível do poder local, com a conquista dos municípios do Paúl e de Porto Novo, da outrora impenetrável Ilha das Montanhas.
Daí que, preparar a tempo e horas e com muito rigor essas eleições, escolher os melhores candidatos, com critérios objectivos e sem preferências pessoais ou de grupos, abrir-se a personalidades e candidaturas de independentes, construir as melhores equipas, ter agenda e propostas alternativas para a governação local e cumprir escrupulosamente o que reza os Estatutos, nomeadamente o respeito pelo papel das Estruturas Regionais e Locais do Partido no processo de escolha dos candidatos autárquicos de modo a evitar conflitos e divisões profundas a nível local, como aconteceu nas autárquicas de 2016, afiguram-se como prioritários e estratégicos do ponto de vista político-eleitoral para o PAICV.
* Artigo originalmente publicado pelo autor na sua página no facebook
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