Tenho tentado perceber. Cada vez mais acredito que a política é uma guerra estranha e violenta contra um inimigo real ou imaginário. Sem ver a meios, o que interessa mesmo, o que garante a sobrevivência do político, é a destruição do outro. Num meio pequeno como o nosso, a presença do outro perturba o brilho e ameaça aquele que deseja sobreviver, ascender na hierarquia política e social e ter direito exclusivo a palavra.
E guerra é guerra! Todos os meios servem, desde que os desiderandos sejam plenamente atingidos.
Só assim se entende a perseguição que é movida contra os membros do Governo anterior. Ao invés de capitalizada no plano nacional e internacional, para o bem do país, a experiência dos ex-governantes é vilipendiada , todos os dias, na praça pública, para gáudio dos indefectíveis.
Nos últimos tempos, fake news tem sido, na política doméstica, uma arma mortífera.
Os seus autores criam-na sem qualquer pudor e dessiminam-na por todos os canais, utilizando os mais sofisticados mecanismos, fazendo crer, por via de intensiva repetição, que é verdade a mentira que deveras contam.
O Governo de Cabo Verde tem dito, por exemplo, que conseguiu o alargamento da Parceria Especial Cabo Verde/União Europeia a mais três pilares. Nada de mais falso. Houve, sim, a assinatura de um Memorandum que, no quadro existente, preconiza o reforço da cooperação, com a inserção de mais áreas de trabalho comum. O acréscimo de mais pilares teria de passar pela Comissão e pelo Parlamento Europeu, num processo longo e complexo de negociações. Mas aqui nas ilhas, o Governo tem vendido o memorandum como algo que não é. Fake news institucional.
Ontem, um conhecido publicista das redes sociais lançou mais uma notícia falsa. Que o Governo Português garante-me segurança e viatura, em Portugal, com o beneplácito do Governo MPD. Tudo falso. A questão não foi considerada, eventualmente por a minha presença em Lisboa não comportar riscos de segurança, ainda que vários especialistas, incluindo portugueses, estranhassem o facto. Todos, todavia, me aconselharam cuidados redobrados.
Tudo falso, escrevia.
Em primeiro lugar, já há cerca de seis meses que resido em Cabo Verde. Em segundo lugar, durante quase um ano que residi em Lisboa, em nenhum momento tive segurança, garantida por Portugal ou Cabo Verde, ou viatura. Vivi como cidadão comum, deslocando-me em transportes públicos, como podem testemunhar os meus amigos e colegas.
Desde que saí do Governo, sempre considerei que devo levar uma vida de cidadão comum. Disse ao Governo atual, no que se refere à segurança, que deve o Estado garantir-me o que os serviços policiais competentes considerarem necessário. E tenho à minha disposição um sistema mínimo de segurança, aqui no país, como aliás tem sido garantido aos outros ex Chefes do Governo.
Espero que tenha sido por decisão da Polícia Nacional, após avaliar os riscos, que o Dr. Carlos Veiga levou segurança de Cabo Verde para os Estados Unidos, onde agora reside como Embaixador em Washington.
Ainda não consegui entender as razões de mais esse fake news.
Só que, depois disso, temo muito mais pela minha segurança.
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