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E o Sol brilhou mais intensamente
Ponto de Vista

E o Sol brilhou mais intensamente

“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados: perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados, abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos.

E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por AMOR de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal.”

(…)

“Ora, em recompensa disso (falo como a filhos), dilatai-vos também vós. Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a Luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo.

Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada de imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo Poderoso.

Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus.”

Segunda epístola de Paulo aos Coríntios

Agora os meninos dizem:

- Estória, estória…

No meu tempo era:

- Era uma vez uma história…

Não importa como se começa a narrar a história, o princípio foi quando tanto quis caminhar na estrada da ciência da vida - com o conhecimento e arte que tinha alcançado - que fiquei à porta da porta estreita do Amor de Jesus. Leve como uma borboleta, vi perante mim, em redor e em mim, a Palavra, a Misericórdia e a Justiça do que fez todas as coisas.

A ciência advém da mente humana, estabelece-se sobre dogmas, métodos, criatividade, fórmulas e leis que o homem fez. Há muito que parte do progresso fantástico da ciência deixou de ser para nosso bem – no imediato ou a longo prazo – mas sim para lucro material sem ética ou estética. O homem dá nesses casos testemunho de como o seu génio despreza a Criação e a harmonia do maravilhoso fenómeno perfeito da vida querendo elevar-se ao estatuto de Deus. Ficamos perante a miséria da existência humana, servil às abominações, mergulhada na perversidade pela sua compensação financeira. A inveja corrosiva e a obcessão mentirosa pelo poder contaminaram o raciocínio. As línguas temperadas pelo enxofre de satanás são hienas que, cobardemente, andam de noite para roubar e a mim tudo roubaram.

No meu espiríto, vejo Jesus sorrir com o renovar do meu perdão a mim própria e aos outros, do meu coração recto que cantou até o vulcão trágico do meu passado adormecer. Mas, mesmo nesse passado contaminado, cheirava-me a rosas numa terra onde não as havia porque elas estavam dentro de mim. Fora de mim explodia um outro vulcão mas a sua lava não me queimava.

Quando o vulcão do meu passado em possessão adormeceu, a que não existe nem se pode dizer, fez a sua casa com a benignidade dos primeiros dias. Do mar, ergueu-se um anjo com asas de coral e corpo etéreo semelhante à espuma das ondas. Esse anjo que habita na nascente dos oceanos brilha como o Sol e o seu sorriso dissipa-se em milhões de estrelas.

Quando o vulcão fatídico adormeceu, na sua cratera, as águas que vêm do céu formaram um lago onde as borboletas foram beber segredos do Reino da Luz. Indiferentes ao engenho humano, as suas asas tornaram-se mapas com as côres e padrões das veredas do Reino Celeste. Na côr a Palavra, no padrão a Justiça, no voo a Liberdade, na fragilidade a Força e na metamorfose o Conhecimento. No seu todo a Revelação Divina.

Quando o vulcão adormeceu e ela fez a sua casa, dançou ao pôr-do-sol as canções em glória do Rei dos Reis, o Pai que fez a vida; o Altíssimo criador do mundo. As noivas que se tinham casado em terras estrangeiras, atravessaram desertos escaldantes, selvas negras e cidades putrefactas para chegar à sua casa do futuro. Nas mãos levavam um enxoval de uma peça só; a cruz. No coração, levavam a arca do tesouro com o seu manancial de delícias. Na mente, guardavam a responsabilidade e o perigo da liberdade de consagrar a vida ao que todos negam existir. Na alma, onde está o mais precioso dos cofres, reservavam unicamente o Amor de Jesus. E, por vontade d’Ele, as três noivas libertaram a quarta. O que o Altíssimo selou, nenhum tempo reescreverá nem apagará. Nem a morte o destruirá.

O que amei germinou nas searas do Pai depois da morte da semente. O que amo alimenta-me a cada dia pois é o fruto da semente passada, lançada à terra com o trabalho das minhas mãos. Aqui, no mundo, as sementes douradas soltam-se da espiga ao respirar do Mestre do Vento que vive na corte da rainha do norte. Antes, houveram mares cristalinos, montanhas virgens, desertos áridos e pessoas felizes, como eu! Existiram casas do Bem que podiam viver segundo a cultura da sua telha porque o Reino do Pai tem muitos palácios. Tudo o que era da Criação, estando sob os mandamentos do Senhor, foi aniquilado na Terra mas vive e a sua raiz que está lá. E também lá é ignorado o que está aqui na iníquidade, como um programa mau que há tanto tempo está na televisão que já perdeu toda a audiência. Tornou-se macabro o filme da humanidade quando chegaram os vampiros e depois os abutres que acompanham o principe das trevas. Os morcegos – servos sedentos da maldade – pararam os ventos do sul e por muito tempo os pássaros não puderam voar. As árvores foram cortadas, os rios transformaram-se em esgotos e as flores em lixo plástico. Tão morta ficou a terra com os homens a traficarem-se, as famílias a assassinarem-se, o sexo perverso a corromper os espíritos e as armas a fabricarem-se. O Amor depois de tudo conhecer escondeu-se num beco escuro da babilónia e todos o viam mas ninguém o encontrava porque ninguém o procurava com o coração limpo.

Um dia, como num sonho, escutei o Pai falar ao Amor e vi os campos de martírio que os homens tinham lavrado, os tornados de perseguição, o labor do escândalo arrazando a excelência do silêncio inocente. Do banco invisível para o cadafalso, sem crime cometido, vai o cristão. A Justiça sorriu pois tão previsíveis e inconsequentes são os homens perante o plano do Senhor.

A minha mão nunca se aparta do meu Pastor nem os meus pés cessam de trilhar o caminho da Sua Palavra. Ainda que tropeçando e caindo, eles saltam para o seu Amor, rumam para a sua Luz. A minha mente envenenar-se-ia se fosse contaminada pela ganância ou pela maldade. Ela renova-se continuamente no doce leito do rio da minha aldeia, que é o mais lindo do mundo, ainda que a minha aldeia não tenha rio mas sim um mar cheio de plástico. Mas tudo lavei nas águas desse rio, com as minhas mãos benignas, o sabão do meu perdão e a misericórdia de Deus que caíra sobre o meu ser. Não há em mim rancor ou mágoa porque o mesmo anjo do Senhor que me trouxe a misericórdia levou a dor nas suas asas para a transformar em Luz. Então, que importância poderão ter os julgamentos dos que com má fé espreitam a minha intimidade? O que podem gerar os corações mortos que destinaram para mim um pântano infecto de mentira e perdição? Sou indiferente a tais criaturas pois os seus propósitos e os meus sobre cada um de nós recaem. O meu conforto nunca virá de algum mal que tenha feito.

Livre o Amor, abriu as asas e delas saíram outras asas que acolheram os antigos mistérios de um mundo belo. Dessas asas ancestrais saíram de novo outras, e outras ainda, e uma vez mais. Cinco pares, dez asas que dançaram no cosmos como véus de alegria e todos os galos da terra cantaram. Enquanto dançava, via o mundo dos vivos e os outros que os olhos da cara não podem ver. E falou, falou tanto para não dizer nada mas sim para escutar o que não se diz. Viu um mundo onde é sempre noite mas não existe lua, apenas a expressão negativa da vida. O Amor havia de viver todas as coisas para compreender o que está tão fora da sua natureza. Mas não compreendeu porque ninguém pode explicar o prazer destruidor de satanás, a insaciável fome por poder a que não pode escapar um único homem. No fim, sorri porque o meu coração continuava a voar muito para além do universo, para além da muralha da condição humana.

Uma noite, o Amor convidou a Paixão para vir viver consigo. Acamparam naquela fresca nascente onde cresceu uma roseira que tem, permanentemente, duas rosas vermelhas. A erva fresca é como um leito viçoso e o tempo é ali um patriarca lânguido que se espreguiça sem princípio nem fim porque o martírio de Cristo renova-se a cada dia no amor do cristão. Tudo até ao nada e nada até ao tudo, com inteligência e permanente regeneração nos braços da paixão pela vida.

Uma manhã, quando acordou, o Amor foi visitar uma rainha do sul. Como todos os que temem e amam o Altíssimo, ela também tem asas e no fremir das suas plumas pode ouvir-se o coro dos serafins. Sentaram-se a beber vinho sob uma acácia vestida de gala com as suas flores vermelhas e adornada com as aves do paraíso. Há muito tempo atrás, quando a violência engoliu o mundo com o chicote da ignorância, a rainha encontrou na carne que anda pela vida o fogo que cegara os seus ouvidos. Embora surda e vulnerável, não se deixou arrastar pela boca dos predadores nem enganar pela depressão. Nunca confiando nos homens mas esperando no Senhor, percorreu uma estrada dourada até encontrar um reino à beira mar.

Todas as manhãs ela se levantava para escrever Amor no areal. A nortada soprava até apagar as letras mas a cada manhã ela reescrevia. Tantas vezes o fez que mesmo perante a perseguição e a morte um dia as letras permaneceram, tornaram-se em granito. Tão magnifico foi o milagre que, ao mesmo tempo, uma só palavra falou em todas as línguas do Universo; Amor. Uma tartaruga saiu do mar com a sua energia sábia e antiga, trazia os segredos da Natureza gravados na sua carapaça. Juntou-se ao Amor e à rainha e no silêncio perfumado pelo cantar do oceano oraram ao Pai. Rogaram pela salvação dos corações humanos e pelo resgate da criação do Pai. Agradeceram a maravilha da salvação porque Jesus é o caminho, a luz e a vida.

Ainda que ventos negros tivessem querido arrancar os seus cabelos, partir as suas pernas e roubar a sua alegria para a sepultar na loucura, os seus pés não pisaram a estrada lamacenta que leva ao trono de satanás. Os espíritos imundos - que fomentam a perversão e o crime em nome da inveja e do dinheiro - não a incluíram na geração da era da iniquidade e impunidade. Não seria hiena e abutre num só ser, escrava do anti-cristo para uma vida onde se comungam horrores.

Sublinhou a sua fidelidade ao Rei da Glória aliando-se à Arte, a qual, erguendo os braços aos céus também orou:

- Eis-me aqui Senhor, a Arte como comunhão do Amor e da Inteligência para glória do vosso Santíssimo Nome. Do vosso sublime trono volvei a mim os vossos divinos olhos, salvai-me da ganância com que me querem trancar em cofres e dos venenos com que me moralizam por ser expressão símplice da vossa inspiração no homem. Depositada a vossos pés, sou obra para o vosso louvor, sou testemunha dos dons que, Pai zelozo e protector, dais ao homem. Nada seria, não existiria a Arte sem a vossa Luz nem esperança sem a vossa inspiração. Seja eu viva pelo engenho criativo que deste aos homens pois é apenas através da arte que o homem pode colocar singela obra na vossa magnifica criação. Vossas são todas as coisas, assim me afirmo eu.

E também a rainha falou de viva voz:

- Perdoai Senhor, vós que sois o alfa e o ómega, Senhor de Todos os Exércitos, Deus Vivo e Único, guiai aos que têm a certeza da vossa existência pois rezamos e oramos pela conversão dos corações. Guardai-nos do assolador e iluminai os nossos caminhos que se dirigem para o vosso Reino. Olhai para os bons para que percebam a vossa magestade e recebam a vossa misericórdia. Que a vossa ira se comova perante a cabeça do justo que se abriga sob os vossos mandamentos; protegei-nos dos que não crêm que estás em nós e aí, no vosso Santo Tabernáculo, eternamente.

E o Sol brilhou mais intensamente!

Os anjos que andam entre os homens puseram uma mesa de banquete no cume da montanha, junto ao lago. Estenderam uma longa toalha de linho branco que no centro tinha bordado um peixe, bordado feito com frutas e legumes, queijos e pão sem fermento cozido nessa noite. O vinho estava numa bilha sobre o lombo de um burrinho e a água pura do lago parecia trepidar nas taças de cristal. Sentaram-se os amigos; o Amor, a Paixão, a Rainha, a Arte, a Inteligência, a Fidelidade, a Natureza, a Fé e a Esperança. Os anjos cantavam salmos e as aves vinham apanhar pedaços de pão que levavam às crianças e aos que procuravam consolação.

Subitamente, um corvo pousou sobre uma rocha e a sua asa negra apontou para o outro lado da montanha. Avistaram então terras de gelo onde se destruíam a machado todos os sonhos. Uma enorme besta, rodeada por demónios, fazia também o seu banquete; mastigava os filhos dos homens que vinham buscar sacos de ouro, poder, escravos e perversões. Os que partiam arrastando os sacos, eram como máquinas de carne e osso a caminho de um futuro pela besta deliberado. Os anjos elevaram os seus cânticos e alegraram-se os amigos no cume da montanha porque o Senhor não lhes pedia sacrifícios nem holocaustos e eles amavam-se como amavam a si próprios. Mais ainda, amavam a Jesus que viera para ensinar e morrer na cruz para que os homens tivessem um caminho para a salvação que os levaria ao Pai e não à boca da besta. As ovelhas que percorriam os caminhos daquela montanha sagrada não pastavam em obscuros rituais a idolos para mastigarem a culpa. O Bom Pastor que guardava estes amigos daria a vida por elas e mantinha alva a sua lã.

Assim, todos oraram, meditaram e cantaram aos pés do altar do Senhor que o Amor tem dentro de si. O Reino de Deus estava assim dentro deles em consciência e não se pode comprar ou vender pois já está dentro de todos os homens.

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Redação