A temática do COVID19 pode ser analisada através de vários pontos de vistas e certamente nenhum deles tem à partida uma conclusão simples ou até objetiva. O certo é que nenhum país no mundo estava preparado para esta ‘’guerra’’, em termos sanitários e hospitalares, económicos, sociais, profissionais.
Existe uma retórica, na minha perspetiva errada, passando a ideia de que “estamos todos no mesmo barco”. Se é verdade que estamos todos a viver a mesma tempestade, a verdade é que não estamos todos no mesmo barco. Os barcos de cada um são bem diferentes. Há os que estejam a viver esta pandemia em cruzeiros, muitos em botes e tantos outros em velhas pirogas.
Sem vacina ou outros fármacos específicos para COVID19, a única proteção verdadeiramente segura é ficar em casa e lavar as mãos quando por ‘’ironia do destino o maldito vírus morre facilmente com água e sabão’’.
O confinamento acaba por ser uma das principias medidas adotadas pelas autoridades sanitárias em quase todos os países excetuando aqueles que definiram métodos diferentes e outras estratégias para esse combate ao vírus.
Cabo Verde tem 35 por cento da sua população na pobreza. Mais de 170 mil pessoas são consideradas pobres e outros 50 mil em pobreza absoluta. E a pergunta que não se quer calar é: como podemos pedir a uma vendedeira para ficar em casa e a cumprir as normas do Ministério da Saúde e da OMS, se o dinheiro que fez na venda de ontem é que pagou o pão que colocou hoje na mesa? Obrigar certas pessoas a ficar em casa é, consequentemente, condená-las à fome, sobretudo quando sabemos que grande parte do rendimento de muitas famílias depende do sector informal.
Felizmente temos uma nação resiliente e solidária. Uma tremenda onda de solidariedade invadiu o país em grande parte dos bairros da ilha com também forte apoio da diáspora. Iniciativas de todos tem contribuído para evitar que a situação de muitas famílias principalmente as mais vulneráveis fosse pior. Tem havido ações socias de todo o tipo e género, e de muita boa gente, incluindo os que preferem o anonimato.
O covid-19 trouxe vários combates. O esperado é que quando passar esta pandemia, pelo menos os nossos países ganhem uma maior consciência global e espírito comunitário, ficando claro de uma vez por todas que nenhum país é uma ilha, e que a única forma de garantirmos que não vamos passar dentro de poucos tempo pelo mesmo é garantir que todos nos país tenham acesso a cuidados sanitários primários, água potável, saneamento básico, energia elétrica e claro uma habitação condigna.
Todos nós devemos olhar este combate a pandemia Covid19 para fazermos dela o guia dos trilhos que percorremos para um o futuro mais solidário, inclusivo e humano. E, isso não depende apenas dos órgãos governativos ou de quantias significativas de dinheiro. São preciso projetos simples, mas que mostrem que todos somos capazes de provocar mudanças e colocar em prática os objetivos, muitas vezes com pouco dinheiro mais com muita “carolice” e “teimosia” de levar o barco a bom porto.
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