“Este caso está a ser transformado numa novela na comunicação social, com cartas, artigos, declarações, tentando levá-lo para o campo político ‘tout court’ [simplesmente]. O Governo de Cabo Verde faz questão de não entrar no elenco da novela”, acrescentou.
Alex Saab, 48 anos, foi detido em 12 de junho pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos Estados Unidos da América (EUA), que o consideram um testa-de-ferro do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Entretanto, o Tribunal da Relação do Barlavento, na ilha de São Vicente, a quem competia a decisão de extradição formalmente requerida pelos Estados Unidos, aprovou esse pedido em 31 de julho, mas a defesa de Saab recorreu para o Supremo Tribunal do país.
Durante a fase administrativa do processo de extradição, antes de seguir para decisão judicial, o Governo cabo-verdiano, através do Ministério da Justiça, autorizou esse pedido com base num parecer da Procuradoria-Geral da República.
Ulisses Correia e Silva garante que a posição do Governo é inequívoca: “O caso está entregue à Justiça e é a Justiça que deve decidir em última instância”.
Os Estados Unidos acusam Alex Saab de ter branqueado 350 milhões de dólares para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, através do sistema financeiro norte-americano, enquanto a defesa do empresário colombiano, que inclui o escritório de advogados do ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, afirma que este viajava com passaporte diplomático, enquanto “enviado especial” do Governo da Venezuela e que por isso a detenção foi ilegal.
A defesa insiste ainda que Cabo Verde está a ceder à pressão dos Estados Unidos neste processo.
No início de setembro, Alex Saab denunciou em carta citada pelo El Mundo que “os Estados Unidos têm quatro empregados naturais de Cabo Verde” que o estão a torturar na prisão onde está detido, no arquipélago.
“Os Estados Unidos têm quatro empregados que entram na minha cela todas as noites e me espancam para que faça declarações falsas contra [Nicolás] Maduro”, de acordo com a carta enviada por Saab.
“Sou um enviado especial da Venezuela à Rússia e ao Irão, tenho imunidade diplomática e exijo a minha libertação”, insiste o empresário colombiano.
Alex Saab afirma que “o objetivo destes criminosos”, os alegados quatro homens que o torturam, é que “assine a sua extradição voluntária para os Estados Unidos”, assim como que faça declarações falsas contra Maduro.
Por outro lado, em agosto foi noticiado nos Estados Unidos que dois responsáveis cabo-verdianos viajaram para Caracas como emissários do Governo e reuniram-se com o Presidente Nicolás Maduro, para abordar o processo de Alex Saab.
O Governo desmentiu esta versão, negando que tivesse enviado qualquer missão à Venezuela e dias depois afastou do cargo de presidente do conselho de administração da empresa pública de medicamentos Emprofac, Fernando Gil Évora, um dos dois cabo-verdianos que viajaram para Caracas, alegando “violação dos deveres inerentes ao gestor público e desvio da finalidade das funções”, tendo a Procuradoria aberto uma investigação a este caso.
Com Lusa
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