Morreu Robert Mugabe, o homem que governou o Zimbabwe com mão-de-ferro durante 37 anos
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Morreu Robert Mugabe, o homem que governou o Zimbabwe com mão-de-ferro durante 37 anos

Herói da luta pela independência, os últimos anos de Mugabe no poder foram marcados pelas dificuldades económicas do país, com o seu regime a degenerar no autoritarismo e caos.

Morreu Robert Mugabe, que durante 37 anos governou o Zimbabwe. Tinha 95 anos e morreu em Singapura, segundo a Reuters, onde estava internado desde Abril.Mugabe foi o primeiro chefe do Executivo eleito depois da independência do Reino Unido, em 1980 – cargo que o próprio aboliu anos mais tarde, tornando-se Presidente. Foi afastado do poder em 2017, pressionado pelos militares.

A sua morte foi anunciada pelo Presidente Emmerson Mnangagwa na sua conta oficial do Twitter. “É com a maior tristeza que anuncio a morte do pai fundador e antigo presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe”, pode ler-se na mensagem publicada na rede social. Mugabe foi um “ícone da libertação” e um “pan-africanista que dedicou a sua vida à emancipação e empoderamento do seu povo”, descreve Mnangagwa. “A sua contribuição para a história da nossa Nação e continente nunca será esquecida.” 

Mnangagwa foi vice-Presidente do país quando Mugabe estava no poder, e sucedeu-lhe no âmbito das lutas internas no seio do partido dominante, a União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Patriótica (ZANU-PF).

Herói da luta pela independência, os últimos anos de Mugabe no poder foram marcados pelas dificuldades económicas do país, com o seu regime a degenerar no autoritarismo e caos. E foi o último dos da geração dos libertadores a sair do poder. 

Da libertação ao autoritarismo

Robert Gabriel Mugabe nasceu numa missão católica em Kutama, no que era então a Rodésia do Sul, a 21 de Fevereiro de 1924. Filho de um carpinteiro, foi educado em escolas missionárias católicas e formou-se como professor.

Estudou na Universidade de Fort Hare na África do Sul, onde conviveu com alguns dos futuros líderes históricos africanos como Julius Nyerere (Tanzânia) ou Kenneth Kaunda (Zâmbia). Foi depois para o Gana ensinar e regressou à Rodésia do Sul para se juntar ao movimento de libertação, que continua a ser um garante de legitimidade do regime até aos dias de hoje.

Nos anos 60 do século passado foi preso pela primeira vez liderar a luta contra a minoria branca que governava a Rodésia​. Sem julgamento, passou dez anos nas cadeias do regime colonial de Ian Smith de onde sai para Moçambique. Continua a liderar os ataques de guerrilha contra a Rodésia, desta vez a partir de Maputo.

Negociador experiente, conseguiu os acordos políticos necessários para dar a independência ao Zimbabwe, com as primeiras eleições (que o próprio viria a ganhar) a acontecer em 1980. Começa a acumular poder, afastando qualquer voz crítica, e nos anos 1990 escolhe como alvo os proprietários rurais brancos, lançando expropriações forçadas e violentas. Com a queda acentuada da produção agrícola, a crise económica não tardou a fazer sentir-se. Milhões de pessoas emigraram em poucos anos, e a inflação disparou tanto que a moeda local acabou por ser abandonada em 2008.

Com o passar do tempo, tornou-se uma figura que dividia não só o próprio país, mas todo o continente africano. Os últimos anos da sua governação culminaram com o seu afastamento, forçado pelos militares que não queriam que a odiada primeira-dama, Grace Mugabe, sucedesse ao marido. Mugabe viu os veteranos da “guerra da libertação”, onde forjou a sua legitimidade, liderarem manifestações contra si, mas resistiu a todos os apelos para que abandonasse o poder até ao limite.

Os seus últimos anos fora do poder foram passados entre internamentos hospitalares. O seu último acto público ocorreu há pouco mais de um ano, quando convocou uma conferência de imprensa para declarar de forma surpreendente apoio ao rival de Mnangagwa nas primeiras eleições presidenciais em que não participou. Nunca se conformou com a forma como partido e Exército o descartaram.

Público

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