
Fontes em Bissau garantem que a residência do presidente em exercício da Comissão Nacional de Eleições, Mpabi , foi cercada por vários homens armados com ligações a Umaro Sisso Embaló, numa ação de intimidação para o obrigar a declarar que as eleições de 23 de novembro são nulas, por, alegadamente, as atas e boletins de voto estarem danificados. A ação de intimidação terá ocorrido após o presidente da CNE ter anunciado uma conferência de imprensa para hoje. Entretanto, figuras da oposição continuam detidas na capital guineense.
Homens armados, identificados como “milícias de Sissoco” terão cercado a casa do presidente em exercício da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Mpabi Cabi após este ter anunciado a realização de uma conferência de imprensa a ter lugar nesta terça-feira, 02.
A intenção, segundo fontes em Bissau, é pressionar o presidente em exercício da CNA a declarar nulas as eleições de 23 de novembro, com a alegação de as atas e boletins de voto estarem danificados. A família de Mpabi Cabi também estará a ser coagida com ameaças de morte, caso o presidente da CNE não haja em conformidade com o exigido pelas “milícias de Sissoco”.
O anúncio da conferência de imprensa foi feito após a CNE ter recebido a delegação da CEDEAO, chefiada pelo presidente da Serra Leoa, Julius Maada Bio.
Figuras da oposição continuam detidas de forma “ilegal e arbitrária”
Figuras da oposição ao regime de Umaro Sissoco Embaló que, segundo as nossas, “continua a mandar à distância, através dos seus homens de mão do Alto Comendo Militar”, responsável pelo golpe de 26 de novembro, continuam presas, após terem sido detidas de “forma ilegal e arbitrária”.
A denúncia está a ser feita por várias organizações e personalidades políticas de Bissau, por familiares de Domingos Simões Pereira e pelo presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Bubacar Turé, que, em entrevista publicada pela Lusa, referiu que, na sequência do levantamento militar foram, inclusive, detidos cinco magistrados do Ministério Público e responsáveis da Comissão Nacional de Eleições.
Quem ainda se encontra detido é o presidente da Assembleia Nacional e líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, o deputado do mesmo partido, Octávio Lopes, e o membro da direção de campanha de Fernando Dias da Costa, Roberto Mbesba.
O próprio Fernando Dias da Costa terá conseguido escapar da detenção com a ajuda de jovens, mas, neste momento, encontra-se sob proteção e segurança da embaixada da Nigéria em Bissau.
“Não sabemos quais as motivações, mas presume-se que tem a ver com o papel nas operações de apuramento dos resultados eleitorais, porque nos termos da nossa legislação eleitoral, os magistrados do Ministério Público participam como observadores nas diferentes fases de operações de apuramento eleitoral, e na altura houve informações que algum desses magistrados terão impedido intenções de adulterar os resultados eleitorais”, explicou Bubacar Turé, considerando que “estas detenções acabam por confirmar esses rumores”.
Preocupação pela vida e integridade física dos detidos
Para além dos dirigentes políticos já referidos, o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos admite que possa haver um número indeterminado de outras figuras da oposição “ilegal e arbitrariamente detidas”, bem como cerca de trinta jovens que foram presos e “brutalmente espancados”.
Bubacar Turé disse, ainda, que a liga tem também conhecimento de mais de dez casos de invasões de domicílios de cidadãos sob o pretexto de buscas, que na sua perspetiva são ilegais, uma vez que não têm nenhum enquadramento judicial nem foram determinadas por magistrados.
“Estamos profundamente preocupados com a vida e a integridade física de todos os detidos, […] continuamos a exigir a libertação imediata e incondicional de todas essas pessoas e responsabilizamos as autoridades militares pela [sua] vida e integridade física”, disse ainda o presidente da liga.
Por fim, Bubacar Turé considerou que “a única maneira de salvar a Guiné-Bissau, de permitir o retorno da paz, da governabilidade e permitir o regresso à ordem constitucional, é a conclusão do processo eleitoral, que significa a publicação dos resultados eleitorais e a criação de condições de segurança que permitam a tomada de posse do novo Presidente da República”.
C/Lusa e fontes em Bissau
Foto: DR
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