Como é que um primeiro-ministro recusa participar da homenagem do mais alto representante de Cabo Verde num país estrangeiro, estando ele em missão de oficial do Estado nesse país e na mesma cidade onde o evento estava a ser realizado? Como é que o Estado de Cabo Verde e a instituição Governo ficam nesta fotografia? Terá Ulisses Correia e Silva entendido esta homenagem como sendo um evento político? Se sim, está obrigado a explicar ao país que tipo de embaixador Carlos Veiga é? Embaixador político ou embaixador que faz política?
Tudo indica que o partido liderado por Ulisses Correia e Silva está a passar por momentos de intensa efervescência interna, tendo como pano de fundo as próximas eleições gerais de 2021.
O post do antigo deputado e coordenador ventoinha nos EUA, Cândido Rodrigues, há de ser apenas respingos que se escaparam da panela em alta pressão que o MpD ter-se-á transformado nos últimos tempos, quando se aproximam as próximas eleições gerais a ter lugar daqui a sensivelmente dois anos.
Os factos entre nós ocorridos apontam que poderá existir um pacto de cavalheiros - ou será cavalheirismos? - entre Ulisses Correia e Silva e o seu vice, no partido e no governo, Olavo Correia. Desde muito cedo o primeiro ministro eleito fez questão de se esconder dos holofotes mediáticos e políticos – não aparecia no parlamento e começou a aparecer por força da lei – empurrando para a ribalta o seu ministro das Finanças, mesmo antes de o ter promovido a vice-primeiro ministro.
Esta atitude política do atual presidente do MpD é algo inédito na política ocidental – que é onde os políticos domésticos costumam inspirar-se – devendo ser objeto de estudos por parte de investigadores e académicos de ciências sociais e políticas. Porque, que é estranho, é! E com sólidos rudimentos de incoerência e infantilidade, pouco recomendáveis em entidades com tamanha responsabilidade na governação de um país.
Uma ressalva: ninguém quer aqui chamar o primeiro-ministro de infantil, mas convenhamos que isto de ganhar eleições e entregar o posto a um terceiro para governar, não se vislumbra muito maduro, embora Ulisses Correia e Silva volta e meia deixa escapar umas maneiras de menino mimado… quem não se lembra das suas tiradas – o emprego não cai do céu… não sou administrador dos TACV… não tenho uma varinha mágica para resolver os problemas sociais… se dependesse da minha vontade a regionalização já era uma realidade há muito… não tenho nada a fazer contigo, referindo-se à líder do PAICV, Janira Hopffer Almada… ou demitiria imediatamente o presidente do Conselho de Administração, referindo-se a João Pereira Silva quando questionado pelo jornalista sobre a sua primeira medida em relação aos TACV, caso fosse eleito primeiro-ministro.
Cremos, pois, que o nosso chefe do Governo tem essa sina de ensaiar acrobacias de infantilidades nos seus discursos e nas suas posições enquanto homem público.
Certo dia ele havia afirmado não ser contra os embaixadores políticos, mas sim, contra os embaixadores que fazem política. Uma afirmação no mínimo bizarra! Sobretudo, porque até o dia de hoje ele não teve a sabedoria e a honradez - como de resto exigem as altas funções que desempenha no Estado - de explicar aos cabo-verdianos o que é que realmente este seu amor, ou desamor, aos embaixadores políticos, ou embaixadores que fazem política, significa.
São, com efeito, sinais que podem preocupar a nação, sim, particularmente no que diz respeito ao caráter do homem que terá sido eleito para conduzir os destinos do país e gerir os recursos da nação.
E este caso da homenagem do embaixador Carlos Veiga é sintomático, a apelar por uma particular atenção da nação sobre a sua personalidade, ciente de que as suas atitudes vinculam o futuro do país e condicionam a satisfação coletiva.
Vejamos: Cândido Rodrigues, que já foi deputado e dirigente do MpD, acusa o primeiro-ministro, publicamente, de ter dado ordens para impedir a participação de pessoas na homenagem do homem que é o representante máximo do Estado de Cabo Verde nos EUA, o embaixador Carlos Veiga. Segundo Rodrigues, não só não participou como também impediu outras pessoas de participar, inclusive membros da sua comitiva.
Ora, sendo verdade as acusações deste antigo dirigente do MpD, - até agora ninguém apareceu ainda a desmenti-lo - o chefe do Governo deve, pelo menos, duas explicações à nação cabo-verdiana:
1. Como é que um primeiro-ministro recusa participar da homenagem do mais alto representante de Cabo Verde num país estrangeiro, estando ele em missão de trabalho nesse país e na mesma cidade onde o evento estava a ser realizado? Como é que o Estado de Cabo Verde e a instituição Governo ficam nesta fotografia?
2. Estando Ulisses Correia e Silva em missão oficial do Estado de Cabo Verde, terá entendido esta homenagem como sendo um evento político? Se sim, devia explicar ao país que tipo de embaixador Carlos Veiga é? Embaixador político ou embaixador que faz política?
São questões pertinentes, cujas respostas concorrem para a preservação da saúde mental da nação. É que, cremos, as ambições individuais das personalidades políticas não podem vincular o Estado e as suas instituições.
Verdade ou mentira?… De todo o modo, está dado o alerta. A pressão é alta! E se a tampa voar…surpreendendo o país de cócoras?...
Comentários