Estilista Angélica Timas: Nunca é tarde para começar
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Estilista Angélica Timas: Nunca é tarde para começar

Apresentou o seu primeiro desfile de moda aos 40 anos, a um público que lhe era muito íntimo: amigos e familiares mais próximos. Hoje, sete anos depois, já exibiu as suas coleções em semanas da moda nos Estados Unidos da América e em Portugal e acumula vários prémios internacionais. Dona de uma marca de roupa feminina e uma das mais conceituadas estilistas cabo-verdianas, Angélica Timas é a verdadeira prova de que nunca é tarde para começar.

Angélica Timas nasceu na cidade da Praia, mas ainda bebé foi levada pelos pais para Portugal, onde residiu até os 14 anos. Mudou-se para os Estados Unidos, país onde viria a manifestar a sua grande paixão pela moda. Apesar de ainda criança sentir que tinha “uma inclinação para artes e design” Angélica sonhava em ser modelo e desfilar nas grandes passarelas internacionais. Sem sequer imaginar que o mundo da moda viria um dia dar-lhe as boas-vindas como estilista e design de moda.

“Comecei com a modelagem, mas naquela época o mercado da moda não era tão aberto para negros como é hoje em dia. Na verdade, a carreira de modelo para nós negros naquela altura era quase impossível. Foi por isso que acabei por desistir e seguir outro rumo”, frisa. Em 1992, Angélica resolveu fazer uma formação em Fashion Design no Newbury College, com a ambição de ser designer de moda. Comprou uma máquina de costura, tecidos e começou a costurar.

Mas, novamente, resolveu deixar para trás o seu sonho de adolescência, assim que entrou para uma universidade. Angélica é Desenvolvedora de Software – profissão que exerce até hoje –, fez dois mestrados, sendo que um em Estudos Profissionais de Informática e outro em Ciências de Computação. Até que, a meio de um doutoramento, ela decidiu que chegara a hora de retomar a carreira da moda.

“Não foi planejada. Passei por um momento muito difícil na minha vida quando eu me divorciei. Um dia encontrei todos os meus esboços de desenho e fiquei relembrando de tudo o que eu havia feito ao longo dos anos, do que faltava ainda por fazer, dos meus sonhos de adolescência. Senti que faltava algo na minha vida e que havia um espaço vazio que precisava ser preenchido”, recorda.

A nostalgia de um período de vida distante, fez renascer em Angélica o gosto pelo desenho e pelo corte e costura. “Foi aí que resolvi me concentrar num hobbie para manter a minha mente ocupada e longe de tudo o que estava a acontecer. Comecei então a costurar a partir dos meus próprios desenhos”, conta a design de moda, que além de aproveitar os seus antigos croquis e começou a fazer novos esboços.

Nascia então a estilista Angélica Timas

De hobbie à profissão, após confecionar várias peças de vestuários, em 2014 realizou o seu primeiro desfile de moda. Apresentou aos familiares e amigos próximos a sua própria marca de roupa, a “Angélica Timas”, “Fiz um pequeno evento de forma experimental, para ver se era viável e, ao mesmo tempo, analisar a reação.  O resultado foi bastante positivo”, recorda. Era o empurrão que ela precisava para apostar na continuidade da marca.

No mesmo ano do lançamento da “Angélica Timas”, em outubro de 2014, a estilista e design de moda foi convidada para fazer uma apresentação das suas peças femininas na festa de lançamento da revista Aspire Magazine, juntamente com outros dois designers.

Logo no ano seguinte, em 2015, fez a sua primeira presença numa passarela aberta ao público. Levou duas coleções (outono/inverno 2015 e primavera/verão 2016) à semana da moda da Styleweek Northeast, região nordeste dos EUA. E nunca mais parou.

Hoje, em 2021, soma vários prémios internacionais: Venceu por três anos consecutivos (2017, 2017 e 2018) o Boston Fashion Awards como Estilista do Ano, sendo que em 2019 foi uma das nomeadas. Em 2017 esteve entre os nomeados na categoria Moda da Gala Somos Cabo Verde - Os melhores do Ano, em 2018 ganhou o prémio de melhor estilista internacional no Black Fashion Week Lisboa e no ano passado venceu o Boston Arts Academy Fashion Honoree Award.

Seu trabalho já foi destaque em uma série de publicações nacionais e internacionais, como a Vogue UK, Galmour UK e Glamour Itália, Runway Magazine, Switch Magazine Itália e Dopeness Magazine. Além disso, várias celebridades internacionais já vestiram a sua marca.

“Tive a sorte de poder apresentar a minha coleção internacionalmente, o que me levou às páginas de renomadas revistas de moda”, orgulha-se Angélica, que também é membro e presidente do Conselho do Fashion Group International – Bostons, e membro do Conselho Consultivo do Departamento de Moda da Boston Arts Academy.

Todo esse reconhecimento faz com que Angélica queira produzir sempre mais: “essas premiações significam a validação do meu trabalho. Dão muito mais gás para querer fazer mais e a melhorar a cada coleção”.

E ser referência: “o objetivo de todo estilista é ter uma marca bem-sucedida que vende internacionalmente. Porém é necessário apoio financeiro e estrutura para sustentar um plano de internacionalização. Quem sabe um dia chego lá”.

Roupas modernas, exclusivas e versáteis

Enquanto isso, Angélica busca trilhar um caminho de sucesso com a aposta forte na contemporaneidade, exclusividade, simplicidade, minimalismo e versatilidade.

“Angélica Timas” é uma marca pronta a vestir e que oferece à sua clientela coleções limitadas de peças luxuosas. Cada peça é única e feita à mão, em pequenas quantidades, dando um toque verdadeiramente exclusivo e individual. “Eu crio principalmente para a mulher versátil, que dita tendências, ousada, que gosta do minimalismo, mas que também é muito elegante e chique”, descreve a estilista.

Praticidade é outro ponto de destaque. As peças da grife são versáteis e atemporais ao mesmo tempo que seguem as tendências de uma moda, que que vai muito além da forma com que a palavra tem sido empregada em nossa sociedade.

A sua moda prioriza o conforto e a elegância. As roupas da marca trazem fluidez, cortes assimétricos e modelagem diferenciada, proporcionando maior maleabilidade e facilidade ao vestir pessoas. “A roupa deve se ajustar ao corpo elegantemente”, sublinha.

Vem aí a nova coleção!

A cada temporada, Angélica surpreende com coleções de parar o fôlego. Seu último lançamento foi a coleção primavera/verão 2020…

Mas a pandemia forçou-lhe a dar uma pausa e desde então não colocou nada no mercado. Mas vem aí novidade: Angélica acaba de preparar um novo croqui para a Coleção Primavera/Verão 2022, cujo lançamento deverá acontecer em Cabo Verde de forma digital, através de imagens e de um documentário. Contudo, não avança nenhuma data para o desfile: “possivelmente no início de verão, mas ainda não posso divulgar os detalhes. Fiquem atentos! Por enquanto é segredo”.

Angélica conta que passou por maus bocados durante a pandemia, o que a levou a dar uma pausa nas criações. “Acho que a raça humana não previa algo de tamanha proporção. Foi muito difícil ajustar-me pessoalmente e profissionalmente. No início, fiquei dois meses confinada em casa. Fui de mil a zero em questão de dias. A pandemia roubou-me a minha capacidade mental e emocional, afetando a minha criatividade”, lamenta.

E a situação agravou-se com a perda de um ente querido: “passei por um mau momento durante a pandemia e com a falecimento do meu pai as coisas pioraram. Não criei nada nesse período, porque estive ocupada em a cuidar do meu estado emocional. Eu precisava primeiramente cuidar de mim para depois focar no meu trabalho relativamente à moda. E foi o que eu fiz. Só depois de sentir-me bem é que comecei a rabiscar novamente”.

Mas, se os hábitos sociais moldam a moda, a pandemia também teve impacto no setor com resgate de tendências e criações digitais. No entender da Angélica, a pandemia abriu uma porta para novos conceitos e novas oportunidades de expandir categoricamente o trabalho dos estilistas. “As roupas de lazer, casuais e desportivas, cresceram exponencialmente durante a pandemia.

Além disso, os eventos virtuais e trabalhos digitais ganharam espaço e podem vir a ser o futuro da moda. “Os desfiles de moda que antes eram exclusivos agora estão online para qualquer pessoa aceder. E não é só isso. O custo de produção ficou muito mais económico, a moda tornou-se financeiramente mais atingível e abrange também um público maior”, enfatiza.

Ser resiliente e fazer com muita paixão

Sobre a moda em Cabo Verde, Angélica considera que existe um grande potencial, fundamentando com profissionais da área que têm feito sucesso no exterior. Porém, acentua, “primeiro é necessário que a moda seja aceite e reconhecida como uma forma de arte no nosso país”.

Por isso este conselho aos jovens que almejam seguir a carreira: “muita determinação, força de vontade, visão, sacrifícios, trabalhar com afinco e nunca desistir de realizar o próprio sonho. A resiliência é um fator importante para continuar. Mesmo recebendo um não, mesmo que forem criticados, é fundamental saber usar tudo isso para melhorar e tentar de novo”.

E, acima de tudo, “faça com muita paixão”!

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