A ministra da Igualdade francesa, Elisabeth Moreno, nasceu em Cabo Verde e considera que este arquipélago ainda faz parte de si e que a língua portuguesa é a língua dos seus sonhos.
"Nasci em Cabo verde, um país com o qual tenho laços extremamente profundos, onde estão as minhas raízes e que faz parte de mim, mesmo de forma inconsciente. França, Cabo Verde, África e Europa fazem parte das minhas identidades", afirmou Elisabeth Moreno em entrevista à Agência Lusa.
Para a ministra, que chegou a França aos sete anos com os seus pais, viveu num dos bairros mais pobres de Paris e foi na escola pública francesa que encontrou o seu "refúgio", mas a língua portuguesa continua a fazer parte da sua identidade.
Com um percurso de mais de 30 anos no setor privado onde passou por várias empresas do ramo tecnológico como a Dell, Lenovo e Hewlett-Packard, Elisabeth Moreno aceitou este verão o convite do então recém-designado primeiro-ministro, Jean Castex, para integrar o Governo. Um desafio perante o qual não hesitou.
"Sempre me interessei pela ação pública, mas não conhecia de todo o mundo político. Era, pode dizer-se, uma espetadora participativa. Mas a ideia de agir, de servir o meu país e as maravilhosas causas que são os direitos das mulheres, da igualdade de oportunidades e a luta contra a discriminação fez-me dizer sim", declarou.
Em paralelo com a sua atividade profissional, Elisabeth Moreno desenvolveu uma atividade social intensa não só na comunidade cabo-verdiana, mas também no campo da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres nas empresas e no acesso à educação.
Como ministra, não nega que a existência da discriminação no acesso ao alojamento ou ao trabalho, mas considera que "a promessa republicana francesa de liberdade, emancipação e igualdade não é uma fábula".
"É uma realidade perfectível - na qual trabalhamos -, mas que funciona", sublinhou.
Elisabeth Moreno é a única mulher negra no Governo francês e, em resposta à Lusa, considera que isso lhe dá "uma responsabilidade suplementar".
"Mesmo que vivamos numa 'França plural', as pessoas que vêm de origens diferentes estão ainda insuficientemente representadas na política [...]. Esta realidade reforça desde logo a exigência para comigo mesma, já que tenho consciência da maneira como sou vista e as expectativas que posso suscitar", considerou.
No entanto, a ministra garante que a cor da sua pele "não é um horizonte inultrapassável" e que a República francesa vê apenas cidadãos.
"A República francesa transcende origens étnicas e sociais, orientações sexuais e credos. Ela vê em nós apenas cidadãos. Este é, a meu ver, o melhor caminho para a emancipação e para a igualdade. A minha cor de pele não é nem uma qualidade, nem um defeito, é um atributo", concluiu.
Com Lusa
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