Governo vai romper com a Icelandair
Economia

Governo vai romper com a Icelandair

O Governo vai abrir um processo para reverter a favor do Estado os 51%da Loftleidr Icelandic na Cabo Verde Airlines. O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, foi ontem ao Jornal de domingo na TCV, deixar claro que não está contente com o parceiro estratégico islandês e pretende avançar com o divórcio.


Ante o fiasco que foi essa privatização, este era um cenário previsível, mas que o Governo nunca quis admitir. Agora, atingido o limite da tolerância, o Executivo já equaciona romper de vez com a Loftleidr Icelandic, revertendo os 51% que o grupo islandês detém na Cabo Verde Airlines.

Foi o próprio primeiro-ministro quem informou sobre o princípio do fim de um divórcio anunciado. Ontem, no Jornal de Domingo da TCV, Ulisses Correia e Silva disse, pela primeira vez de forma aberta e descomplexada, que o governo tem dúvidas sobre se a Loftleidir Icelandic será o parceiro ideal para garantir a sustentabilidade das operações da companhia aérea nacional.

"O governo vai encetar um processo para reverter a privatização dos 51% do capital que está na posse da Loftleidir Icelandic", anunciou o primeiro-ministro, acrescentado ainda que o Governo não vai mais injectar capital na CVA. Segundo as suas plavarsa, o Governo não está a "perspectivar, num futuro próximo, a injecção de capital por parte do parceiro estratégico, de forma a garantir a perenização e continuidade das operações da companhia".

Para além disso, Correia e Silva reconheceu que há "algum incumprimento de alguns acordos" assinados em Março pelo accionista maioritário da empresa, mas rejeita a ideia de que o negócio com a Loftleidr Icelandic "foi um erro".

Seja como for, fica claro que as relações entre o Governo e o grupo islandês estão péssimas, motivada por quebra de confiança de parte a parte. A gota que fez transbordar esse copo exibido como "solução" para a companhia de bandeira nacional terá sido os acontecimentos da passada sexta-feira, 18, quando a CVA queria retomar os voos comerciais - 15 meses depois - e acabou sendo impedida pela ASA, supostamente por causa do não pagamento de uma taxa de segurança de passageiros de 180 contos.

Ora, mesmo tendo pago esse valor duas horas depois do arramque previsto do voo (9h15) o avião da CVA continuou em terra, acabando essa aguardada retoma por ser cancelada. Tudo perante a omissão total do Governo que permitiu que a ASA, supostamente por 180 contos, impedisse um voo crucial para a companhia, para os cabo-verdianos e para o turismo. Portanto, o cancelamento desse voo trouxe muito mais prejuízo, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista descredibilização da companhia e do país aos olhos do mundo.

Fontes de Santiago Magazine garante, por isso mesmo, que não foi a ASA quem rejeitou o voo da CVA, mas sim o próprio Governo que terá desautorizado essa viagem, com receio de que o grupo islandês voltasse a reter o Boeing em Lisboa para chantagear o Executivo e obter mais injecção de capital.

Seja como for, a verdade é que a aliança entre a Loftleidr Icelandic está no fim. Mas o CEO da companhia parece acreditar que vai continuar tudo bem. Numa carta publicada esta manhã, 21, num grupo interno na internet, Erlandur Svavarsson, disse que as vendas estão cada vez maiores (sobretudo para Boston e Paris) e mostra confiança na retoma da CVA a partir do dia 28 de Junho. "Temos todas as condições para a Cabo Verde Airlines emergir mais forte do que nunca", escreveu Svavarsson, não deixando também de comentar o caso de sexta-feira.

"O desapontamento em saber que os nossos passageiros não foram permitidos subir a bordo foi profundo. A injustiça da situação foi devastadora", criticou.

Em Março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).

A CVA concentrou então a actividade nos voos internacionais a partir do ‘hub’ do Sal, abandonando os voos domésticos. Quinze meses depois de uma paragem imposta pela pandemia, a operadora aérea de bandeira nacional tinha programado a retoma dos voos internacionais a partir de sexta-feira, 18, com uma ligação entre Sal e Lisboa, mas ao fim de várias horas de espera e informações contraditórias, o voo foi cancelado.

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