Hoje, o seu canto ressoa no tempo, / Clássico vivo, memória, lamento. / Mesmo que esgotado em capa e papel, / Segue vivo e profundo como o céu de anil.
Nasceu das ilhas, da brisa e do chão,
Chiquinho, menino de alma e visão,
Filho da terra que canta e espera,
Cabo Verde em páginas, tempo e primavera.
No seio da casa, calor e ternura,
Entre vozes, batuques, riso e amargura,
Aprende a vida, o livro, o destino,
E sonha com mundos além do menino.
Vai a São Vicente, saber procurar,
Na lousa e no giz, o verbo sonhar.
Mas no fundo da alma, jamais se esquece
Da ilha-mãe, do chão que o aquece.
A vitalidade chama, a partida é semente,
A emigração, dor que se sente.
Porém há na saudade uma força escondida,
Um grito de povo, memória vivida.
Professor Baltasar, mestre do sentir,
Fez da palavra um modo de resistir.
A sua obra é espelho do tempo sofrido,
Das secas, das fomes, do povo ferido.
Encarecimento que vinham sem dó, sem aviso,
Roubavam a terra, o pão e o sorriso.
Deixavam também, gravado no peito,
O orgulho de um povo de sangue perfeito.
Chiquinho é a herança, é o grito ancestral,
É alma das ilhas, verdade vital.
É trama de vida, luta e memória,
Inscrita na pele da nossa história.
Baltasar escreveu o que o povo calava,
Deu voz à dor que o mundo ignorava.
E mesmo que o livro já não se ache à mão,
Vive em cada cabo-verdiano coração.
Hoje, o seu canto ressoa no tempo,
Clássico vivo, memória, lamento.
Mesmo que esgotado em capa e papel,
Segue vivo e profundo como o céu de anil.
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