Somos todos crioulos, defendeu hoje o antigo ministro da Cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio Sousa, no Folio, em Óbidos, onde apresentou o seu último livro, em que manifesta a crioulização de todos os povos do mundo.
“O que o manifesto vem dizer é que somos todos crioulos, porque na verdade, antropologicamente, está provado que temos raízes múltiplas desde há milhares de anos”, disse o escritor e pensador à agência Lusa, no final da apresentação do seu mais recente livro “Manifesto a Crioulização”.
Naquela que é a sua 13.ª obra literária, o escritor reflete sobre o conceito de “crioulização” enquanto processo de afirmação e de identidade dos povos que ao longo dos tempos “foram entrando num processo de segregação total, com cada uma fechar-se no seu território”.
“Ainda assim há a possibilidade de nós criarmos um estado mental de relação”, defendeu o antigo ministro da Cultura de Cabo Verde que, no manifesto, defende a evolução para um estádio em que “se encare o planeta como casa da humanidade”.
Para Mário Lúcio Sousa, “termos como tolerância, integração ou assimilação, foram tentados e estão gastos”, pelo que hoje humanidade precisa é de encarar que “as questões identitárias são questões conceptuais” que podem ser “debeladas com afetos para conseguirmos ter uma sociedade mais saudável”.
No livro, editado pela Imprensa da Universidade de Coimbra, Mário Lúcio Sousa, lembra que não existe uma, mas sim “várias línguas crioulas” e que a expressão 'crioulo' “une uma grande quantidade de culturas”.
Ou seja, "a crioulização é, assim, um velho exemplo da história das relações humanas, em termos do seu processo de afirmação e de identidade de indivíduo e do grupo”.
Para o grupo que hoje assistiu, na Casa da Música, em Óbidos, à apresentação do seu livro, Mário Lúcio Sousa reservou uma mostra de outros dos seus talentos.
Foi a cantar “Hino à Criação”, em crioulo, que iniciou a interação com os ouvintes do Folio, dos quais se despediu também a cantar, destes vez “Sodade”, o tema celebrizado por Cesária Évora.
Cantor, compositor, escritor e pensador, Mário Lúcio Sousa é natural do Tarrafal, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, e é o escritor mais premiado do país, internacionalmente.
É ainda uma referência na música de Cabo Verde, de que chegou a ser embaixador cultural e, entre 2011 e 2016, ministro da Cultura e das Artes.
O Folio - Festival Literário Internacional de Óbidos decorre até ao dia 24, reunindo na vila 175 autores e escritores que participam em mais de 160 atividades, entre as quais 16 mesas de autor e debates, 23 concertos e 12 exposições.
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