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PRESIDENCIAIS CAPÍTULO II: A facada da cúpula nas costas da base*
Ponto de Vista

PRESIDENCIAIS CAPÍTULO II: A facada da cúpula nas costas da base*

Sim, sabemos que a maldade voa e que a bondade coxeia, a primeira abunda na política e na vida no geral, enquanto a segunda rareia. É assim, embora o mundo seria diferente para melhor se fosse o contrário.

Na política, particularmente nos partidos políticos encontramos a entrega desinteressada, a paixão, a ingenuidade no bom sentido, em suma a militância na verdadeira aceção da palavra e na sua forma mais pura junto da base, enquanto que na cúpula, bastas vezes, reina o tacticismo, o calculismo, a intriga, a competição selvagem e a lógica de eliminação e soma zero.

Esta forma diversa de estar e viver o partido entre os dirigentes partidários e os militantes/simpatizantes leva em determinadas circunstâncias a desalinhamentos e dessintonias que prejudicam o interesse geral e comum.

Afigura-nos que é o que aconteceu no MpD no que se refere a candidatura do Carlos Veiga.

A base desde muito cedo deu sinais de que queria que o MpD apoiasse o Carlos Veiga nas eleições presidenciais.

Existiam outros pretendentes que em face do posicionamento da base do MpD acabaram por se recolherem a box, quiçá, descontentes sem, no entanto, taticamente, terem manifestado o desapontamento.

Desta forma, o Presidente do MpD, Ulisses Correia e Silva, e a Comissão Política Nacional que preside ficaram com a vida facilitada e decidiram de forma natural pelo apoio que já estava consensualizado junto da base ventoinha.

Porém, sabia-se que a ausência de resistência explicita a esta decisão do MpD nunca significou que neste quesito estava tudo bem.

Se dúvidas houvessem as eleições vieram dissipá-las. Pois, o que presenciamos durante a campanha foi os militantes a remar num sentido, em direção à vitória, e a cúpula não ao remo, mas, sim, como fonte de propulsão o motor por combustão que a todo o vapor encaminhava a embarcação contra os rochedos. Sim, digo a cúpula, referindo a ministros do governo suportado pelo MpD e altos dirigentes do mesmo.

Isso aconteceu porque a nível da cúpula existem várias agendas e quase sempre agendas particulares desencontradas com a do MpD.

Pois, para a agenda do MpD, creio eu, faria todo o sentido que toda a energia e trabalho confluíssem para a eleição do Veiga. Por razões várias que dispenso de aqui enumerar permitiria uma governação mais tranquila ao Ulisses Correia e Silva e, logo, melhores condições para a execução do programa do governo.

Essas agendas individuais onde está inclusa a sucessão do Ulisses Correia e Silva na liderança do MpD atropelaram o Veiga.  Pois, muito precocemente esta questão foi colocada em cima da mesa no MpD, perdura até hoje e não vale a pena escondê-la. Porém, aqui importa dizer aos que perfilam nesta corrida, aos contendores, que parem e que tenham mais racionalidade porque esta briga de galos está a prejudicar enormemente o sistema MpD.

Desta feita, existem evidências que demonstram que a derrota do Veiga foi induzida. Esta derrota tem o significado de uma grande facada no desígnio do partido e nas costas dos militantes do MpD.

O partido não pode tolerar mais situações desta natureza, pelo que ao Ulisses Correia e Silva, presidente do MpD, é exigido que seja líder e afaste do horizonte esta questão da sua sucessão que tem polarizado o partido a volta de dois dos seus vice-presidentes. Pois, é preciso colocar um ponto final nesta dinâmica catastrófica para o MpD em que senhores feudais estão com base no poder que estão nas suas mãos, diga-se de passagem, que devia ser usado em prol dos cabo-verdianos, a construírem os seus feudos para interesses pessoais de nível partidário.

Esperamos que assim seja antes que mais danos sejam causados.

P.S.: É fácil apontar o dedo por eventuais prejuízos causados no exercício da liberdade de expressão e se esquece, quiçá por interesse, de certas situações que de facto constituem graves ataques ao MpD.

*Artigo publicado pelo autor no facebook

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