Da autoria de Carlos Alberto de Sousa Mendes, Princezito, Manual di Mudjer é um livro de poemas e finason e será partilhado com o público esta sexta-feira, 6 de março, a partir das 17:30 horas, na Biblioteca Nacional. Estarão a falar do livro e do seu autor, a escritora e professora universitária, Mana Guta, e o professor de Cultura Cabo-verdiana, Eleutério Tavares.
Manual di Mudjer é um livro de Finason, que nos apresenta a fase madura do Poeta Princezito, sobejamente conhecido como músico e autor de Antigu Pensamentu (2015). A obra é uma homenagem à mulher cabo-verdiana, às mulheres de todas as raças, idades e ofícios.
Ao procurar estabelecer um protocolo de leitura, neste texto em que a musicalidade é o fio que costura a poesia, o leitor é surpreendido pela fluidez do ser e do estar artísticos, transmitidos num fazer literário que proporciona diversas nuances de prazer estético.
O leitor vai chorar e essa dor o fará feliz; ora sentirá revolta, ora soltará uma gargalhada sonante… será tomado de um silêncio que ensurdece; será invadido por um simples e desenfreado jogo de palavras… A beleza do som, da cor, dos movimentos, do sabor... uma diversidade de linguagens.
Desde Spiga (2008) já se conhecia oficialmente o autoproclamado Poeta. Mas a obra em referência fecha o ciclo protocolar de que o leitor e o estudioso precisavam para seguir a trilha artística de Carlos Alberto Sousa Mendes, seja pela fruição, seja pela crítica literária.
Manual di Mudjer regista no seu seio a imponência do Belo. E o Belo tem nele, obviamente, o pendor artístico que não se consegue separar do que é bonito, do que é autêntico. E, sobretudo, não se alcança separar tudo isto da grande convocação que o livro faz para a Cultura da Paz, para a obrigatoriedade de se fazer o bem e para o reconhecimento da mulher e do feminino como um igual e justo interlocutor.
O autor faz isso de forma exímia, quando permite que as protagonistas ocupem o lugar da fala. A incrível fruição estética vem do telúrico, o tecido básico para uma tessitura magistral, que convoca o cânone a dialogar com o local global, esteticamente potente, veiculado na língua de berço.
Carlos Alberto Sousa Mendes, Princezito, é um músico, compositor e intérprete cabo-verdiano, nascido em 1971, na Vila do Tarrafal, ilha de Santiago. Escritor e ativista cultural, que interliga todas estas áreas à pesquisa de resistência, preservação e divulgação do património imaterial de Cabo Verde.
A sua postura de intervenção na cultura congrega o registo, a fixação e o recurso à memória e ancestralidade, o que lhe permite aliar o conhecimento, enquanto palestrante e formador, a uma intervenção política para o combate às desigualdades e indícios de neocolonialismo.
Para além de Spiga (2008), Antigu Pensamentu (2015), Manual di Mudjer e várias obras musicais já gravadas, Princezito foi co-autor ou precursor de projetos como Ayan, Festival do Milho, Mano a Mano, Gala Harmonia, Oru Femia e tantos outros.
Suas marcas são o raciocínio rápido, uma invejável capacidade de oratória, fina ironia, o (bom) humor sofisticado. Parece estar destinado a uma procura constante pelo conhecimento formal e ancestral, movido por um inerente senso de justiça e uma alma insatisfeita - não obstante a sua aparência calma e o seu semblante sereno.
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