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Linguista discorda da ideia de que as variantes do crioulo dificultam a padronização da Língua Cabo-verdiana
Cultura

Linguista discorda da ideia de que as variantes do crioulo dificultam a padronização da Língua Cabo-verdiana

A linguista e professora universitária, Karina Moreira, disse esta quinta-feira, 10, que quando se fala da padronização da ‘língua crioula’ há muitas questões levantadas que se pode dizer que são falsas, como por exemplo, a questão das variantes.

“Todas as línguas no mundo têm variantes. Não é porque uma língua tem muitas variantes que deixa de ter uma norma”, defendeu a linguista em declarações à imprensa após o acto de entrega da petição para a mudança da política linguística cabo-verdiana ao primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, no Palácio do Governo. 

Na sua argumentação, Karina Moreira exemplificou que o português também tem variantes, do norte, no centro, do sul, mas que, mesmo assim, têm uma norma, que serve  essencialmente para definir como escrever.

“E as variantes que temos do crioulo são mais iguais entre elas do que diferentes, tanto é que todos nós nos entendemos, se cada um falar na sua variante. Então isto não é um impedimento”, acrescentou.

Em relação à referida petição, que já conta com mais de 200 subscritores, esta porta-voz dos promotores da petição para a mudança da política linguística cabo-verdiana explica que é uma iniciativa que saiu de um grupo de linguistas que estudam a língua crioula e também o ensino do português em Cabo Verde.

“Contamos com a subscrição de muitas pessoas que estudam o ensino do português mundo fora e também ensino do crioulo noutras paragens.  Já tínhamos entregue a petição antes das eleições de Abril para os candidatos e agora queremos reforçar junto dos novos órgãos eleitos para voltar a trazer o assunto”, disse.

A ponte essencial, ressaltou, é dar à língua cabo-verdiana o estatuto que lhe confere a nossa Constituição.

Karina Moreira relembrou que o documento explana que toda a língua presente no território tem de ter o mesmo estatuto, por isso, entendem que “se o português é a língua oficial o crioulo também deve ser”.

“Pedimos também a presença da língua cabo-verdiana no sistema do ensino porque há muitos estudos no campo da psicolinguística e da neurolinguística que mostram as vantagens de se iniciar os estudos na língua materna no processo de ensino e aprendizagem das crianças”, argumentou.

Outro pedido dos promotores da iniciativa, que tencionam fazer com que mais pessoas subscrevam  e adiram ao projecto, é um “investimento concreto” para a produção na Língua Cabo-verdiana, para que se promova a produção escrita e científica na língua materna dos cabo-verdianos.

“No geral estamos a pedir que se faça uma lei clara que defina a nossa política linguística. Temos duas línguas no País, sabemos qual a situação de cada uma delas, o estatuto que têm, então queremos que se definam as regras claras que nos farão saber valorizar cada uma delas”, pontuou.

Karina Moreira disse ainda que a situação que há neste momento no País “não é a ideal”.

“Como não há o ensino do crioulo, não explicitamos os conhecimentos na nossa língua materna e isto prejudica tanto o processo de ensino e aprendizagem, como outras vertentes da nossa vida no dia-a-dia”, avisou.

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