Morreu Neno, o guarda-redes campeão cabo-verdiano do Benfica que brilhou em Guimarães e era conhecido como o Julio Iglesias das balizas
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Morreu Neno, o guarda-redes campeão cabo-verdiano do Benfica que brilhou em Guimarães e era conhecido como o Julio Iglesias das balizas

O cabo-verdiano Neno foi tricampeão pelo Benfica, ganhou a Supertaça no V. Guimarães onde ficou mais anos, ficou conhecido como guarda-redes e pelo espírito que incutia nas equipas pela boa disposição. Morreu aos 59 anos.

Era daqueles jogadores que todos recordavam com uma história. Havia sempre uma história, aquela história, até porque todos sabiam que também ele teria não uma mas dez histórias para recordar. Do companheirismo à boa disposição, daquele sorriso contagiante aos momentos em que agarrava nos microfones nos estágios para dar o seu toque de Julio Iglesias merecendo aplausos de pé dos companheiros, Neno deixou sempre uma marca por onde passou. O antigo guarda-redes morreu esta quinta-feira, vítima de doença súbita. Tinha 59 anos.

A informação foi avançada ao início da madrugada pelo Guimarães Digital, que deu conta que o ex-internacional português faleceu na sua casa esta noite, na pequena freguesia de Polvoreira, na cidade minhota.

Nascido na Praia, em Cabo Verde, Adelino Augusto da Graça Barbosa Barros (o verdadeiro nome que poucos conheciam por ter sido sempre o carismático Neno no mundo do futebol) começou a sua carreira mais a sério no Barreirense, onde terminou a formação e fez a estreia nos seniores ainda nos escalões secundários. Assinaria depois em 1983, com apenas 21 anos, com o Benfica, que o emprestou ao conjunto da Margem Sul e depois ao V. Guimarães antes de regressar para ficar na Luz duas épocas, a última das quais com o primeiro Campeonato.

 
Voltou a sair do clube encarnado no verão de 1987. Não que lhe faltasse qualidade, longe disso, mas porque a concorrência era verdadeiramente apertada, ao ponto de, em 1986/87, ter “apenas” à sua frente Bento e Silvino. Jogou uma época no V. Setúbal, esteve depois mais duas temporadas no V. Guimarães onde ganhou também uma Supertaça e voltou a assinar pelo Benfica em 1990, chegando com outro estatuto que lhe valeu a titularidade na baliza das águias. Foi nessa fase, até à grande revolução no plantel entre 1994 e 1995, que ganhou mais dois Campeonatos, num total de sete títulos pelo Benfica incluindo ainda três Taças e uma Supertaça. Acabaria a carreira em 1999, após mais quatro anos em Guimarães onde acabaria por permanecer.

Neno foi internacional por nove ocasiões entre 1989 e 1996, tendo feito um encontro de caráter oficial na qualificação para o Campeonato da Europa de Inglaterra e logo no Estádio da Luz, numa noite de chuva que foi abençoada com um chapéu fantástico de Rui Costa e que valeu o apuramento para aquela que seria então a terceira fase final de uma grande competição para Portugal. Aliás, a entrada do guarda-redes, a quatro minutos do final desse encontro, foi um dos momentos que maior ovação motivou nessa partida.


Depois de arrumar as luvas, Neno ainda voltou ao trabalho de campo durante vários anos, sempre no “seu” V. Guimarães, tornando-se mais tarde diretor das Relações Internacionais. Ainda hoje, em qualquer ação que existisse ou ligada à cidade de Guimarães, ou relacionada com o clube, ou apenas de convívio ou ações solidárias envolvendo o futebol e não só, o antigo guarda-redes, que era muito mais do que isso, estava lá. E aquele sorriso cativante era muitas vezes mais aguardado do que o dos próprios jogadores de agora nas ações onde ia.

“Eu gostava muito de cantar. Jogar à bola era uma coisa de que gostava muito, mas eu gostava mais de cantar. Agora, eu era um bom atleta porque eu era muito rápido, fazia muita coisa, mas gostava mesmo era de cantar. Roberto Carlos na altura, o Julio Iglesias não tinha aparecido ainda (…) Eu dizia ao próprio Julio: “Ó Julio, tu em 1962 tiveste um acidente e dedicaste-te à música. Se tivesses ficado no futebol, quem era o Julio Iglesias hoje era eu” [risos]. Ele teve um acidente e dedicou-se à música e em 1962 nasci eu. Portanto, estava destinado a mim. Mas pronto ele foi mais inteligente [risos]. Gostava dele pela forma como ele cantava. Pela voz e pelas músicas românticas que cantava. Gostava muito do Roberto Carlos também, mas o Julio entra muito mais, a forma como ele canta, a forma como se veste, enfim há várias coisas que fui vendo, principalmente a voz dele”, contCom ou numa entrevista ao Expresso no ano passado, explicando a admiração pelo seu grande ídolo.

SM/Com Observador

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