III CENA
Enquanto Mamãe faz renda, Mamãe Velha remenda uma saia, Joca entra com uma cantarola) –
"Ribeira Prata,
Larga-me da mão,
Tu não és a minha terra,
Para seres a minha cova…"
MAMÃE – Pronto, lá vem o Joca a andar no arame.
Mamãe prepara e dá-lhe uma xícara de café com sal sem que ele se aperceba. Ele começa a sonambular.
MAMÃE VELHA – Vai para o quarto deitar e descansar sossegado.
Joca vai para o quarto e dorme como um justo.
IV CENA
Mamãe Velha, Mamãe e Nhô Roberto estão na sala a conversar. Joca acorda e chama lá do quarto.
JOCA – Dêem-me mais um groguinha para compor a cabeça e destruir a ressaca…
MAMÃE – Tens coragem de beber mais depois daquele naufrágio, Joca?
NHÔ ROBERTO (entra no quarto onde Joca está deitado ainda) – Oh Joca, tens que poupar a vida, rapaz! A cachaça não acaba, mas acaba-nos, sim, com a vida, depois de nos afugentar a paz e a felicidade.
JOCA – Morte é certa, Nhô Roberto. Morre quem bebe, morre quem não bebe.
NHÔ ROBERTO – A morte é certa, sim, mas não é por isso que devemo-nos suicidar.
Mamãe Velha e Mamãe confidenciam-se, depois entram no quarto com um copo de aguardente e dão ao Joca. Ele vomita pouco tempo depois. Zangado, veste-se e sai sem dizer uma palavra.
V CENA
Dias depois.
MAMÃE – Mamãe, Joca mandou dizer para mandar gente assistir à corta na horta da Covoadinha.
MAMÃE VELHA – Chiquinho, prepara e vais com Pitra para casa de Joca. Vais lá passar uns tempos. Precisas de mudar de ares para ver se ganhas mais carne no corpo.
MAMÃE (dá um bilhete à Pitra) – Pitra, entrega este bilhete ao Joca para lhe avisar para não dar maus exemplos de paridor ao Chiquinho e que lhe ponha na escola para continuar os estudos.
VI CENA
Pitra e Chiquinho entram em casa do Joca. Chiquinho é recebido fogosamente pelo tio.
JOCA – Olha o Chiquinho!… tu é que vais comigo assistir à corta? (Para Guida) Guida arranja café para Chiquinho. Arranja-lhe um cafezinho bom, com farinha-de-pau e torresmos (Guida vai para a cozinha, Joca volta para Pitra) Pitra vai mudar a mula… (Para Guida) ela já bebeu, Guida? Arranja também café para Pitra. (Senta-se ao pé do Chiquinho) Chiquinho, como é que deixaste a nossa gente lá em casa? Ainda a Mamãe Velha me desonra muito?
CHIQUINHO – Está tudo bem, Tio Joca.
JOCA – Muito bem. (Lê o bilhete) Olha, tu vais para a aula do Sr. Martins. Eu sei que tu vais gostar. Muitos meninos, companheiros para brincadeiras no largo. Contanto que estudes. Lê este bilhete que o Pitra me trouxe para ver o teu adiantamento.
GUIDA (vem da cozinha, sai à rua e volta logo) – Padrinho, está aqui uma mulher que quer comprar açúcar e petróleo.
JOCA – A loja está fechada! Hoje não vendo, porque é dia de festa. Chegou Chiquinho… traz-me um seca suor. Chiquinho, tu ainda não usas… depois verás que isto não é mau. (Guida põe a mesa para Joca e Chiquinho. Pitra come em pé) Guida, depois vamos à casa da Bia Lai mostrar aos meninos o Chiquinho. Chiquinho, tu vais conhecer os teus parentes… teus primos.
CHIQUINHO – Obrigado, tio.
VII CENA
JOCA – Chiquinho, conta lá como foi o teu primeiro dia de aula com Sr. José Martins?
CHIQUINHO – Gostei muito, Tio Joca. O professor mandou toda a classe ler em voz alta o "João da Câmara". Corrigiu a Dick que estava a ler com uma voz muito fina. Disse-lhe que um homem deve ter voz de homem. Ele ordenou o Nasolino a dar seis palmatoriadas ao Maninho por não saber a lição que lhe tinha passado anteontem; os rapazes da terceira classe faziam-nos bioco, a troçar da nossa leitura; um garoto foi dar parte ao professor que um companheiro estava a tirar-lhe penicos nas pernas. O professor mandou o Nasolino aplicar mais quatro palmatoriadas. Nasolino apanhou um menino a furtar batata assada da bolsa de um aluno da Ribeira dos Calhaus. O ladrão foi chamado à presença do professor que lhe chamou "menino sem vergonha" e mandou aplicar-lhe doze palmatoriadas. O professor ralhou com Mano porque era a terceira vez que lhe mandava forrar o seu "João da Câmara". Mano lia muito alto e depressa, atropelando a pontuação. Ele dizia "encôsta" em vez de "encósta". O professor mandava-lhe repetir com ele: "en-cós-ta!" Nasolino tomou-me a lição individual e disse ao Sr. José que eu estava fraco em tabuada… o Sr. Martins passou-me para amanhã tabuada de multiplicar.
JOCA – Chiquinho, para ser um bom aluno tem que ter disciplina nos estudos. Vou-te fazer um horário para a distribuição do teu tempo depois da aula. Sabias que eu fui um bom aluno do Seminário? Aprendi a pronúncia com o cónego Coimbra. Não é para se gabar, mas como eu não havia para reconhecer e classificar as figuras da estilística. Os companheiros até me puseram o nome de "Joca Metonímia". Vamos lanchar, depois faço o teu horário.
CHIQUINHO – Tio Joca, eu sinto em ti um irmão mais velho. Por isso nunca posso concordar com a severidade com que Mamãe e Mamãe Velha te desonram.
JOCA – Não ligue, Chiquinho!
CHIQUINHO – Tio Joca, tenho um colega de S. Vicente na escola que fala o crioulo cheio de X. Também quando pegamos queda ele é sempre derrubado. Quando levanta com a cara franzida maneja a lâmina de barba e diz: "Dou-te um corte fixe"! Sabes, S. Vicente não tem comer… lá não tem milho, não tem feijão, não tem mandioca…
JOCA – S. Vicente não tem nada disto de facto, mas tem dinheiro para as comprar. Em S. Vicente há outras coisas que também não temos em S. Nicolau. Lá tem vapor, tem soldados, tem teatro…
CHIQUINHO – Então todo o que ele nos contou é verdade?
JOCA – O que é que ele vos contou?
CHIQUINHO – Que lá tinha tudo. Lojas cheias de coisas lindas. Soldados que faziam exercícios. Estrangeiros que desembarcavam dos vapores e voltavam para o bordo carregados de bolsinhas de sementinha.
JOCA – É como ele vos disse.
CHIQUINHO – Então amanhã vou falar com os meus colegas para lhe pedirmos desculpas.
JOCA – Isso mesmo, meu sobrinho.
CHIQUINHO – Seríamos injustos se não o fizemos. O menino chorou muito.
JOCA – Injustos e mauzinhos. Chiquinho, próxima semana vamos a um casamento que eu fui convidado na Ribeira da Prata.
CHIQUINHO – Eu tenho medo de ir Ribeira da Prata, tio.
JOCA – Por causa de quê?
CHIQUINHO – Contaram-me que aquela ribeira é povoada de feiticeiras.
JOCA – É tudo "estórias", Chiquinho. Eu, que já andei Ceca e Meneca, nas horas minguadas da noite, nunca encontrei coisa ruim.
CHIQUINHO – Então Nha Rosa Calita mente?!
JOCA – Não quer dizer que ela mente… ela conta "estória".
CHIQUINHO – Então eu vou… mas então por que é que Tio Joca, sempre que carrega de água… que apanha fusca, canta aquela música "Ribeira Prata, Larga-me da mão…"
JOCA – Por nada, Chiquinho. Nem eu sei por que canto.
CHIQUINHO – Eu tinha vontade de conhecer a rocha "escribida", mas também tinha medo das feiticeiras de lá.
JOCA – Então vais aproveitar porque a tua avó quer que tu voltes para Caleijão já na próxima semana.
CHIQUINHO – Mas eu quero ficar aqui mais uns dias com o tio Joca.
JOCA – Eu bem queria que tu ficasses mais. Ao menos, estando tu cá, entretenho-me a tomar-te as lições. Assim fico com a certeza de que ainda sei ler. Fui obrigado a enfurnar-me aqui. Antigamente sentia gosto em ler, tinha a impressão de que o futuro me pertencia. Gostava de vestir bem. Andava atrás das raparigas para namoros sem consequência. Hoje é isto: cheio de filhos e bebedor de aguardente.
Chiquinho dirige-se a ele e abraça-o com ternura.
VIII CENA
Em casa de Chiquinho, Tói Mulato entra e começa a chorar.
CHIQUINHO – Por que levaste, Tói?
TÓI MULTO – A avó deu-me dinheiro para comprar três litros de milho. Na volta fui salvar Nha Lalaga, que estava doente. Encontrei-a muito fraca, com os meninos em volta da cama, chorando de fome. Deixei um litro de milho e a avó açoitou-me.
CHIQUINHO – Devias ter dito o que fizeste com o milho; a tua dona não te açoitaria.
TÓI MULATO – Ela não acreditava.
CHIQUINHO – Se a tua mãe estivesse viva, não apanhavas assim.
MAMÃE VELHA (assanhada) – Eu não sei porque é que aquela criatura não deixa o anjinho de Cristo sossegado. Tói Mulato, vem ficar connosco por um tempo. Ao menos, assim, estás livre daquela víbora velha.
TÓI MULATO – Ela não pode dormir sozinha.
MAMÃE – Nha Totona é muito má.
MAMÃE VELHA – Quando ela era menina fazia pior.
MAMÃE – Tói Mulato é o menino mais direito de Caleijão.
CHIQUINHO – Quantos anos tem a tua dona, Tói Mulato?
TÓI MULATO – Não sei. Ela é velha como areia, rapaz… mas os seus braços conservam-se rijos para castigar de lato.
CHIQUINHO – Nha Totona é a única pessoa aqui que não nos deixa gadanhar nos cunhais da casa dela à procura de ovos para filhós e pardalinhos para assadas em brasa.
MAMÃE – Coitado de Antoninho de Nh’Ana Lanta… dizem que não encontrou lugar nos barcos de baleia que aqui estão. Está condenado a continuar a vida no rabo da enxada, ganhando três tostões por dia puxando nas hortas.
TÓI MULATO (para Chiquinho) – Oh rapaz, lá tem um grandão que é um mundo de navio!
CHIQUINHO – Foste a bordo?
TÓI MULATO – Não me deixaram. Eu bem queria ir, e pedi a um rapaz de bote que me perguntou se tinha lá algum parente. Como disse que não tinha lá ninguém e que só queria ir por curiosidade, ele perguntou-me se queria ir ver a minha avó e que o navio não era brincadeira de menino.
CHIQUINHO – Ficaste zangado?
TÓI MULATO – Fiquei. Mas ele ficou a rir.
CHIQUINHO – Dizem que os navios trazem no cocuruto dos mastros as almas dos capitães que morreram…
TÓI MULATO – Eu, quando for grande, serei capitão de navio. Quando eu morrer a minha alma ficará espiando do alto dos mastaréus.
CHIQUINHO – E depois? Continuarás sempre espiando dos mastros? Não poderás aguentar o frio.
TÓI MULATO – Não me importa o frio. Ficarei lá para ensinar o caminho aos outros.
CHIQUINHO – Eu prefiro embarcar numa estrela.
TÓI MULATO – O navio de purgueira que Nhô Chic’Ana me vai dar será chamado "Estrela da manhã".
CHIQUINHO – Pedi a Dinha Lua uma casa grande como o Morro Bissau.
TÓI MULATO – E eu uma noiva bonita para me casar quando for grande.
CHIQUINHO – Eu pedi uma varinha de condão para me dar toda a qualidade de coisas.
TÓI MULATO – E eu um navio grande como a barca "Wanderer" para eu navegar. Nhô João Joana disse que não é agulha que mostra o caminho, mas alma dos capitães que segreda ao homem do leme: "Para a direita, para a esquerda…"
CHIQUINHO – Tói, vamos visitar Chico Zepa. Ele voltou da América.
TÓI MULATO – Vamos.
Saem.
IX CENA
Algumas pessoas em casa de Chico Zepa que volta da América. Ele faz uma grande festa a Nhô Roberto. Fala muito alto e, de vez em quando dá uma gargalhada.
NHÔ ROBERTO (depois de um longo e apertado abraço) – Onde está o "avacote" que me prometeu?
CHICO ZEPA – Está a bordo…
NHÔ OBERTO – Com certeza? Olha que sempre faltaste no estreito ao que prometeste no largo...
CHICO ZEPA – Juro! Nha Guida, como está? E Nha Iria, Nhô Luís, toda aquela velhada?
NHÔ ROBERTO – Rebolando…
CHICO ZEPA – (para Nha Tudinha) Vi seu filho em "Provedence, Rhode Island". Está bom. Parece que vem em Outubro.
NHA TUDINHA – Obrigado, Chico… obrigado. Ele está de saúde? Não está muito magro?
CHICO ZEPA – Manuel? Ele está gordo, rijo e bonito! Altarão como ele é… se cá era bonitão… lá não preciso nem dizer.
NHÔ JOÃO JOANA – Ainda tem "light-ship" à entrada de "Betfete"?
CHICO ZEPA – Ainda. Mas agora Governo mandou pôr uma bóia de sino perto do "stream","you know…"
NHÔ JOÃO JOANA – Quando eu assistia por aquelas paragens, era preciso olho muito aberto. Mas nunca me aconteceu nada, porque o capitão Luís conhecia toda a costa como a palma das suas mãos.
CHICO ZEPA – Aquilo hoje está tudo mudado… há quanto tempo você esteve por lá, Nhô João?
NHÔ JOÃO JOANA – Há anos como areia, rapaz. Com certeza ainda não eras nascido…
CHICO ZEPA – "Oh! Gee"!
CHIQUINHO (depois de cumprimentar a todos) – Chico, notícias do meu pai?
CHICO ZEPA – De Nhô António Manuel? Ele está forte, rijo e valente. Pesado de dólar.
Numa algazarra e beber de grogue, finda a cena.
IX CENA
NHA ROSA – Desgraçado do Chico Zepa…
MAMÃE VELHA – O que aconteceu com ele?
NHA ROSA – Perdeu o barco. Fincou aí a abusar dos seus namoros com Antónia Bia… prendeu-se no Caleijão, e quando chegou à Preguiça já o seu navio, o "Wanderer" tinha montado a ponta da Vermelharia.
MAMÃE VELHA – E gora o que vai ser a vida dele? Ele que não gosta de rabo de enxada. Pegou a sorte e deixou "caprir" logo de seguida.
NHA ROSA – Eu não sei o que vai ser a vida dele. De jeito que é refilão. Soberba tem corpo roliço. Dizem que ele despreza os homens da enxada e que disse que não tem raça de negro.
CHIQUINHO – Mas ele disse que não vai ficar aqui. Que dá um salto em S. Vicente e embarca fugido em qualquer vapor. Ele disse que quem não saiu daqui não sabe o que é o mundo.
NHA ROSA – Também ele vai ter que aguentar novamente com as descomposturas da sua mãe.
MAMÃE – Eu me lembro um dia, ainda Chico não tinha embarcado, Zepa veio aqui em minha casa e disse: "Não sei a quem esse moço saiu... a mim não, que vou levando a vida consoante Deus é servido; ao pai também não, que era um burro de trabalho…"
NHA ROSA – Os outros rapazes fazem pouca farinha com ele. Sabem, ele tem muita lábia e sabe engodar as namoradas dos outros. E a quase todas foi pondo no peito.
TÓI MULATO – Vou estudar contigo hoje a noite…
CHIQUINHO – Porque não levas o meu livro como de costume?
TÓI MULATO – Não. Nós vamos estudar juntos porque o Sr. Carvalho disse que nós os dois temos que apanhar uma distinção. Se eu levar o teu livro como que tu estudas para o exame? Olha que segundo grau não é brincadeira.
CHIQUINHO – Não te lembras que o Sr. Carvalho vai nos dar aula extraordinária de Aritmética e História?
TÓI MULATO – Está bem. Então eu levo. Chiquinho, eu não tenho fato novo para vestir no dia do exame, na vila. Vou eu mesmo botar umas chapas nas minhas calças de cotim militar.
CHIQUINHO – Eu vou levar para Estância calção azul e blusa branca, que mamãe bordou os emblemas da fé, esperança e caridade.
Tói Mulato sai, despedindo-se de todos.
X CENA
Chiquinho preparado para sair de casa.
MAMÃE VELHA (em lágrimas) – Jesus, como o tempo se parece com pano de pente, mergulhado em pote de tinta! Parece que ainda ontem tive Chiquinho nas mãos, nu como a graça do Altíssimo o mandou para este mundo. Tão miúdo, não excedia duas mãos-travessas…
CHIQUINHO – Roguem por todos nós para passarmos ao exame.
MAMÃE VELHA – Pela paixão do Santo Filho do Senhor, que passou com a cruz às costas na Rua da Amargura, seja o caminho que vais andar hoje tão liso e direitinho como a consciência do justo, limpa do pecado do nosso primeiro pai!
MAMÃE – Vai com Deus meu filho. Que a Dinha Lua te ilumina a memória para fazeres uma boa prova.
XI CENA
CHIQUINHO – Tói Mulato, eu atrapalhei-me naquela conta da área… por isso que não apanhei distinção.
TÓI MULATO – Era fácil. Basta aplicar a fórmula e seguir a ordem.
CHIQUINHO – Como passamos na quarta classe em primeiro e segundo lugar, tu e eu, vamos pedir os nossos grandes para nos deixarem ir visitar Totone Menga Menga.
TÓI MULATO – Sim, eu peço a minha dona. Ela costuma dizer-me – quando não estava com o bico cosido – que Menga Menga é como o Rei Bandeira, que distribuía doces e frutas à meninência no seu palácio de pedra de cantaria…
CHIQUINHO – Não rapaz. Penso que Totone é um homem que quis virar feiticeiro, mas não conseguiu, por não ser capaz de comer inocentes. Como é muito bom, ficou a conhecer os segredos das feiticeiras, que nada podem com ele.
TÓI MULATO – Dizem que todas as noites em volta da casa de Totone há música que os anjos do Céu vêm tocar por mandado de Nossenhor. As bruxas ficam ao longe, cheias de raiva.
CHIQUINHO – Uma vez Totone recebeu a visita de uma mulher. Era uma feiticeira que queria chaleirar a casa do velho e ver se podia dar cabo dele. Totone conheceu-a muito bem.
TÓI MULATO – Totone conhece todo o mundo.
CHIQUINHO – Totone conheceu-a bem e pôs na sua cabeça amarrá-la. Chamou a mulher para o quintal, para ir espiar um galo de crista vermelha e branca que tinha lá.
TÓI MULATO – Se calhar era uma bruxa que Totone tinha pegado.
CHIQUINHO – Exato e qual. A mulher foi, contente de ver o quintal de Totone, esperando descobrir qualquer coisa. Totone disse-lhe: "Por favor você espie se aquela galinha tem ovo». A mulher foi espiar e Totone depressa voltou para dentro e num dizendo-fazendo virou de pernas para o ar o banco em que a bruxa tinha estado sentada. Quando Totone voltou para o quintal, disse: "Vamos para dentro..." Ela bem queria ir, mas não conseguia passar a soleira da porta porque, já se vê, tinha sido amarrada. Totone muito sério, mas rindo para dentro. Ela dançou, cantou, fez o diabo-a-quatro. Depois virou burro, mula, porco, cabra. Por fim, Totone, condoído, rezou umas orações e desamarrou-a. Ela virou figura de gente. Totone disse-lhe: "Para nunca mais se meter na minha vida."
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