As borboletas

Cultura

Há leituras que são abençoadas. Li uma notícia num jornal português que a aldeia algarvia do Barbelote, em Monchique, tem um habitante e está à venda por 790 mil euros, depois de ter sido comprada, em 2003, por um grupo de amigos que pretendia ali instalar um projeto turístico rural. É confrangedora acreditar nessa “desertificação” humana ou êxodo. O nome da aldeia Barbelote levou-me a pensar na borboleta e na sua metamorfose como o conjunto das transformações que ocorrem durante o frágil ciclo de vida das borboletas. São quatro. Soletrei mil vezes Bar-be-lo-te e bor-bo-le-ta dos bês. Escolhi a terceira fase, isto é, a da pupa em que a lagarta é lentamente transformada em borboleta. Quando a transformação está concluída, rompendo a cutícula da crisálida prontas para vo-ar. Como a natureza é bela! Logo pensei em dois filmes: O Segredo da Borboleta e Efeito Borboleta, ou melhor, Trailer - “The Butterfly Effect”.

Há presságio que diz com o bater de asas de uma borboleta doutro lado do mundo pode provocar um furacão na Indonésia. Essa metafora é uma forma de explicar a Teoria do Caos que todos os grandes matemáticos usam. Mau presságio para os algarvios! Nunca se pode ser esquecido o detalhe que podem fazer a diferença doutras metamorfoses. Mas a metamorfose da borboleta é bela. A borboleta sabe sugar o limpo e fino néctar das flores para sobreviver e guardar as armas sem procurar uma guerra nova. Coscuvilha-se que o crescimento do turismo na região algarvia não soube guardar as armas para defender a aldeia do Barbelote e nem tampouco se pode falar do regresso às bengaladas algarvias. É de aplaudir a lucidez do pensamento do Mahatma Gandhi quando afirmou que “Quero que as culturas de todas as terras sejam sopradas para dentro da minha casa, o mais livremente possível. Mas recuso-me a ser desapossado da minha por qualquer outra”. Ainda, este facto noticioso chamou-me atenção sobre duas tendências: o progresso da globalização e a disseminação da democracia. A globalização tem sido a mais polêmica, porque tem efeitos bons e maus e a democracia abriu espaço para as pessoas protestarem contra os maus efeitos.