AS BOLAS E OS BALÕES ASSINALADOS
Não embarco em quimeras
Macau terra de poetas
Macau terra de grutas
Macau terra de poesia pendurada pelas paredes húmidas
Macau terra de naufrágios
Não embarco em quimeras
Soa-me melhor: as bolas e os balões assinalados
Prefiro o que vejo, o que apalpo
Prefiro as bolas e os balões
São assinalados e já o foram
Prefiro as bolas e os balões saídas e saídos do ventre da vida
Assinalo
Embarco numa nau
Naufrago num mundo de poesia
Não embarco em quimeras
Naufrago num mar revolto
Salvo a minha amante
Perco a compilação da minha escrita
A tinta desfez-se
Desapareceu no mar profundo e assustador
Aquele mar revolto só poupou a mulher
Não embarco em quimeras
Embarco numa manhã de nevoeiro
MAR NOSSO
GENTIO LATIM
I
A minha língua é portuguesa
nascida filha do gentio latim
e proclamada no crioulo do mundo
a sua descendência excelente no linguajar oral
II
Busco em mim as minhas origens linguísticas
de como o meu espírito se moldou a este vocabulário
de seculares miscigenações
Busco em mim uma história que me conte o meu aprendizado tão universal
como os mares que se tocam ao cabo de tanta boa esperança
por se reencontrarem no suposto imaginário da separação
Mares que sulcam o meu espírito
trazem-me ventos dos quatro quadrantes
anunciando quem se transporta na evangelização peregrina
da multiplicação da espécie
III
Espécies de espécie de julgamento diferido na ordem do tempo
soltam suas amarras de suas origens
Cruzam-se em cruzadas de orgias de novas éticas étnicas
É o novo, é o antigo e o seu sentido inacabado do incerto
tocam-se no sentido sem medida da aventura desligada do destino
IV
Ligam-se tantos a um só
Este um só que traz a ligação da voz falada
comunicada entre muitos
Muitos sem cor descoloridos pelo sol
que se não fixa na mesma latitude do hemisfério natal
V
Nova cor com cor descoloridos
Novo mundo nascido
no linguajar tornado navegante de todos os mares
Mar único, mar nosso, mar ético
Mar expandido em vocalizos de gentio latim
que por se dizer é gentil
O ROSSIO NÃO É JÁ EM LISBOA
O ROSSIO É HEMISFÉRIO FORTE
O Rossio não é já em Lisboa
O Rossio, também, não é já de Tagus
nem é só a sul
O Rossio é hoje onde o ajuntamento se une pela oralidade
se fez nascer montanhas a Douro Norte
O Rossio é mais do que espaço
Mais do que tempo
É universalidade de um império oral
a comungar e repartir
a diferença de dissemelhantes sons
de igual linear
De variados ritmos
e de outras mais mudadas melodias
compassados aos mesmos distintos prazeres
por expandir oralizando
igual vocabulário em nada perdulário
O Rossio não é hemisfério norte
Nem sul!
O Rossio é Hemisfério Forte! É, sim!
O Rossio é onde estamos e para onde vamos
Levantados e deitados à Terra
Lançados e mergulhados à Água
Debandados e incendiados ao Fogo
E seja um dia volatilizados ao Ar!
É este o nosso Rossio
É aqui onde encontramos a concentração dos místicos espíritos mundanos
Sejam espíritos voantes pedestres ou remeiros
Confluem e identificam-se no absoluto universal
enxergando a originalidade individual
franqueada pela oralidade lidada em comunhão
O Rossio não é já em Lisboa
O Rossio, também, não é já de Tagus
nem é só a sul
nem é só a norte
O Rossio é Hemisfério Forte!
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