Chega o final de semana e o plano de um bom repouso fora da cidade desenha-se a distância de uma boa praia de águas cristalinas, churrascos apetitosos, crianças a brincarem, a esposa espalhando a formosura e celulite. O marido tem o corpo presente de olhos e espirito longe da família que está a volta dele, com uma luneta escura nos olhos fica observando as miúdas catorzinhas a jogarem volley na praia e a desparrarem a pulcritude das duas bolas que concebem a arquitetura dos seus rabos.
A tarde, ainda na cidade. Tudo para sair da rotina do final de semana na cidade. Certamente, têm feito rotinas de casal exemplar a ser seguido, uma família tipo daquelas de publicidade da yogurel. Para um bom ambiente de final de semana la fora têm algumas coisas a fazer. Há compromissos que têm de ser obedecidas e já cristalizadas durante algum tempo. A rotina engorda os casais! Ansiedade na sexta se resume na ida do marido para cumprir algumas obrigações. A procura de caixa de asas de galinha, encher o depósito de carro, tomar as crianças no jardim ou na escola. Quando chegar em casa tem de lavar os pés da esposa, ir ao ginásio, repetir as mesmas ginásticas dos dias anteriores, ainda virar a cara para observar as partes da moça que tem aumentado, a perna e a bunda, e a própria loucura quando posta o corpo esculturado nas redes sociais incitando a fara de íntimos gotos. Ainda que ela tem usado aquela aplicação que manipula as fotos em que poem orelhas de cães, fazem isso e negam ser chamadas de cachorras.
Sai do ginásio tem de trocar conversa com os amigos sobre os músculos e tabua bate na barriga que insiste em não sair. Na volta para casa, para se continuar a ser um bom cidadão e seguidor da moda, ele dá trocados a alguns mendigos na passadeira enquanto espera a luz verde do semáforo abrir, sobe o vidro escuro e vira para a estrada que dá acesso ao seu bairro em direção a sua casa.
Pensa na velhice e na possibilidade do seu corpo murchar e perder o brilho, tem certeza que o corpo vai mudar radicalmente e o seu órgão sexual irá cair como um rótulo sem cola que perdeu a cor, a rotina e a tinta no corpo onde se encontrava. No fundo tudo perde a tesão, e ele mesmo perderá a tesão, mas, vem logo à vida cortando o pensamento com o churrasco de sábado.
Chega a casa, a mulher cheira-lhe o pescoço, uma palmada na cocha, um carrinho na barriga e dá-lhe um beijo fingindo ser tão sentimental sabendo que está a procura de álcool e um cheiro de perfume vulgar de alguma beata de ginásio. Toma banho e tira o suor do corpo, janta, ajuda as crianças a terminarem de jantar, toma um licor que a esposa comprou porque viu na telenovela das nove e uns bolinhos que aprendeu a fazer através da receita retirada do youtube. Vai a varanda. Faz um frio na rua, ela regula o ar do interior da casa, manda empregada retirar todos os restos de comida no frigorífico para ser deitado fora ou queimada.
Retira quatro anéis de diamante de uma mão e quatro anéis de ouro noutra mão põe em cima da banquinha da varanda, calmamente vê a rua. Lá estava as crianças a observarem para ela. Com dentes em falta, camisas rasgadas na barriga, olhos negros, e com dedos dentro de nariz a procurarem algo que estavam a gostar, mas o buraco é profundo, era a fome que estavam a impelir para dentro, ninguém quer ouvir a voz da fome, incomoda.
Todos eles são rapazes de sete anos e por um instante ela pensou que esta a ver formigas gigantes com chifres, volta a ficar calma e segura. A varanda deles é segura. O marido pega-lhe nas mãos e declara que a ama. Ela responde que um homem ama só uma vez a uma mulher, numa voz calma entrando no choque daquela imagem de crianças formigas. Porquê isso agora, perguntou ela desconfiada.
-provavelmente, precisamos de um final de semana fora da cidade. Disse o marido sem justificar a pergunta da mulher.
O marido pensa no trabalho da próxima segunda-feira e na perna da nova secretaria que ele mandou contratar, também pensa na possibilidade de chantagem que a ultima secretaria poderia fazer contra ele tendo em conta que brigaram devido ao churrasco de final de semana com a sua família. Ele volta a concentrar no churrasco do final de semana, brinda com a esposa, e ela convida-o para ficarem mais um pouco na varanda protegido com as barras de aço. Naquele momento os vizinhos começaram a fazer barulhos e a proferirem palavrões, a queixarem da falta de bens, itens básicos, de coisas domésticas básicas, de Tíquis de educação, ficaram a queixar sobre o porquê de terem nascido com aquela sorte, o porquê que o diabo não os carregue de uma só vez? Acaba o barrulho e depois ouvem disparos, bombas, gritos, pedaços de corpos, pedaços de palavrões, pedaços de bonecas e de cadernos, de textos mal escritos, de gravatas italianas, restos das estradas, flaches de reuniões dos grandes gestores, festas de independência do país, imagens a branco e preto, os homens açoitados pela vida, as baleias emplastadas, homens cortados que choram e que perderam a voz. A morte daqueles que eles têm chamado de desdentados.
Calmamente na varanda eles observam tudo aquilo, até se fazer um silêncio completo e barrulhento, eles ficam sozinhos se observando e dando um txintxin recordando das pessoas que queixavam dos seus nascimentos.
-nascer é muito cumprido, molhado e um resto de bico enterrado, é preciso habituar com este mundo estranho, comenta o marido. Pelo menos na nossa varanda nada entra, a não ser o vento, morte, lamentos, de resto não entra nada sem permissão.
Na rua restou dois mendigos a bafurdarem o contentor ao pé da casa onde a empregada acabou de colocar os restos, eles na varanda e nada os incomodara, só são os restos procurando os restos.
A casa é protegida por aços e nada passara e nem a solidariedade para forra daquela proteção. O aço da varanda os impede, a própria ideia de ser recíproco anda pressa nos aços das varandas e das consciências.
Depois, os dois demonstram ternura e o marido fica entre dois mundos de olhos fechados. Pensando, pensando na esposa e na secretaria despedida. A chantagista. Acaba a ternura na varanda e o licor, vão deitar depois de terem verificado se todas as coisas estão em ordem para o final de semana fora da cidade.
A mulher antes de dormir pede uma trepada ao marido, e ele nega justificando que naquela hora não seria possível já não tinham vizinhos para ouvirem toda a felicidade deles numa boa trepada. Boa trepada é ter os vizinhos a ouvirem os gritos.
Na manha seguinte já tinham tudo confirmado. Vinho de primeira, carne de primeira, protetor solar, e outros géneros importantes para a fara de final de semana. Bem cedo o marido se levanta, lava a cara, lava a boca, troca de roupa, experimenta o automóvel, vai acordar a esposa, faz o café, prepara o banho da esposa, vai acorda-la pela última vez com um beijo tolo na boca, acorda as crianças, se lavam, se arrumam e saem para o interior da ilha de Santiago à procura do lugar para um bom ócio.
A mulher com o seu chapéu de Dakar de aba larga, óculos de grande marca vindo diretamente de Luanda, bom perfume de Bissau, tudo o que havia nela era africano, até o corpo achocolatada, lábios bem assegurados no batom, e uma veste bem leve traçada pelo corpo vindo diretamente de Marraquexe, o marido no volante preocupado com a rapariga que ele deixou a reivindicar da sua vez, preocupado no volante pensando cuidadosamente como retirar cada palavra da boca tendo em conta o clima e bom humor da esposa, ele não estava interessado a estraga-lo.
Observa as crianças para não fazerem vómitos enquanto estão a viajar. No posto de gasolina sai para encher o tanque e ao entrar no carro toca o telemóvel e é a ligação da secretaria despedida pedindo-lhe para passar a esposa que é a sua melhor amiga. Espantado com a reação da sua rapariga e amiga da família, entrega o telemóvel à esposa.
-ola amiga, espero que estejas bem. Olha, diga aos leitores deste conto quando terminarem de ler, para apagarem tudo, porque ser feliz dá trabalho. Assim acordou o marido depois de estar a dormir no volante do seu bmw e viu que nada do que acabaram de ler não passou de um sonho.
hahahahahhahaah
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