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Oposição não pode travestir-se em sociedade civil, nem substituí-la
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Oposição não pode travestir-se em sociedade civil, nem substituí-la

O PAICV, desde que foi relegado para a oposição, tem tentado volatilizar as fronteiras da sala da sessão plenária, expandindo-as para outros terrenos, numa vã tentativa de conseguir em outros foras e por outras vias o que tem perdido nos debates no parlamento.

Foi assim quando, numa primeira fase, apresentou várias e infundadas denúncias junto da Procuradoria-geral da República, numa atitude imatura da judicialização da política. Continuou nesta senda, incitando a greves e, mais recentemente, promovendo manifestações e colocando os seus peões em organizações da sociedade civil no país e na Diáspora, com o fito de fomentar a instabilidade social, enquanto captura para proveito próprio importantes instrumentos de intermediação com a sociedade.

Ao PAICV interessa criar ruídos para confundir as pessoas, para impedir a compreensão dos ganhos que o governo de Ulisses Correia e Silva vem conseguindo e para criar a percepção de caos na sociedade. É neste sentido que também tem utilizado a sua tão oleada máquina de propaganda política, envolvendo os seus militantes e activistas para levar a cabo uma forte comunicação nas redes sociais, produzindo e amplificando fake news, alimentando os mais incautos com falsas notícias.

Tem apostado todas as suas cartas na corrosão da imagem do governo e do seu líder com o objectivo último de regressar ao governo já nas próximas eleições legislativas.

Ao PAICV, como a qualquer outro partido político, assiste o direito de fazer oposição nos termos que bem entender, desde que dentro dos limites constitucionais. Porém, é lamentável assistir a um partido do arco do poder, que já assumiu, por várias vezes, responsabilidades governativas, a banalizar-se, a desqualificar-se, quase tornando-se num partido antissistema, com comportamentos a roçar aos dos pequenos partidos contestatários que pululam em outras paragens, travestindo-se em sociedade civil e arrogando o direito de substitui-la.

O PAICV deve entender que todo o mundo já percebeu a sua estratégia e que já ficou claro que tem sido o promotor das manifestações e que estas não são resultados da insatisfação do povo para com a governação, como pretende fazer crer, mas sim do descontentamento do PAICV e dos seus militantes com a sua nova condição. Pois, não têm sabido estar na oposição, assumir e cumprir com o papel que lhes cabem e para o qual foram relegados pelo povo no estrito uso de direitos que lhe cabe na Constituição da Repúblicade, valendo-se de instrumentos democráticos, isto é, pela força do voto.

O PAICV não pode pretender pela via da insurreição inverter e perverter os resultados das eleições ou forçar a cogovernação com o MpD. Pois, o povo escolheu o MpD e Ulisses Correia e Silva para governar e Janira Hopffer Almada e o PAICV para serem oposição até 2021, altura em que cada uma das forças políticas e as respectivas lideranças voltarão a ser avaliadas na urna.

Até lá que o PAICV deixe o governo trabalhar, pois, há muito a fazer para corrigir as pesadas e complexas heranças que deixou ao país e que, sorrateiramente, vem tentando fazer crer que não são da sua autoria e nem da sua responsabilidade.

Dada a natureza dos problemas criados e deixados pela governação do PAICV exigia-se-lhe que tivesse uma atitude colaborante na solução dos mesmos, mas não podendo ajudar o mínimo que se lhe pede é que não atrapalhe.

Uma boa oposição não passa por ser mansa ou politicamente correcta. Tem tão-somente de ser uma boa oposição, isto é, tem de pautar-se pelos ditames constitucionais e democráticos, colocar os supremos interesses do país acima dos seus, bater pelos seus ideais com convicção, seriedade e elevação e posicionar-se como alternativa credível.

 

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SOBRE O AUTOR

Emanuel Barbosa