Colunista

Colunista

O Estado de Santiago

• Por José Jorge Costa Pina
• 26 de Jul de 2022

De forma sucinta e direto ao ponto digo o seguinte sobre o estado de Santiago (que acredito ser também de algumas ilhas aqui ao sul) em vários setores essenciais de seu desenvolvimento de demandas ingentes da sua sociedade e potencialidades.

Situação por setor de desenvolvimento:

1.       Infrastruturas e serviços de desenvolvimento

a)       Em Santiago as démarches falhadas com UNIDO resultou em não edificação do parque industrial nos anos 90. Ficámos até hoje sem o parque industrial que deve ter condições essenciais que atraem e fixam as industrias e permitiram o tão necessário desenvolvimento industrial nas cidades e regiões de todo o mundo, o crescimento económico, as exportações e o emprego. Ainda hoje Praia, S.Catarina e Santa Cruz, regiões com maior taxa de desemprego no país e de mais população a nível das regiões do país, esperam com urgência o que S.Vicente obteve sozinho já nos idos anos 90!

b)      Não obstante promessa da China, os departamentos do Governo negam démarches para a materialização da instalação do Centro de Convenções que o Premier prometera, há tempos, que o último FIC seria ali acolhido. É mais uma infraestrutura económica relevante, que manca uma vez mais a nossa capital, de condições existentes em todas as capitais do mundo (incluindo na sub-região africana aqui o lado) e que permitiria atividades de alto rendimento para vários setores da economia e para a minimização do alto desemprego na Praia/Santiago!

c)       Para Santiago foi muito bem indicado por alguns decisores políticos do país a implementação dos epicentros dos TICS, agronegócio e praça financeira. Com excepção do parque tecnológico (hub tecnológico) que avança bem (faltando, a meu ver, a preparação de pessoal técnico local - tem que ajudar a qualificação e emprego na ilha – e equipamento atempado para que o sistema venha a funcionar bem e contribuir para minimizar a crise de emprego decente na Praia/Santiago), os dois outros epicentros não têm planos de implementação como tem sido feito para os epicentros aéreo e marítimo aí em barlavento!

d)      É notável a insatisfação em relação ás infraestruturas desportivas, rodoviárias, marítimas, dos transportes e portos, e da saúde. No capítulo desportivo assinalo os constrangimentos ocorridos no estádio nacional e consequente desqualificação FIFA (a relva, e já agora, a cobertura da bancada leste, e o alto centro de rendimento em falha na imediação), no estádio da várzea (onde falta tudo, incluindo cobertura das bancadas, qualificação dos balneários e das bancadas, placa eletrónica dos jogos, publicidade estática rudimentar…), faltas de qualificação de estádios em boa parte da região desportiva do Santiago Norte e na Ribeira Grande.

e)      Na saúde, essencialmente, espera-se pelo estudo que deve incluir as áreas de tratamento obrigatórias do anunciado hospital central de raíz há muito reclamado para Santiago. O estudo deve, de imediato,obviar a preparação do pessoal médico para as áreas eleitas pois, que eu saiba, são necessários mais de 7 anos para se formar médicos!

f)        No setor rodoviário, a maior demanda situa-se na infraestruturação de vias de penetração de vales e regiões inacessíveis, do anel de Santiago e da via rápida Praia –Tarrafal (nas jornadas para implementação do polo turístico de Tarrafal essa via e o aeródromo de Tarrafal foram as mais reivindicadas!);

g)       Na Praia a congestão do tráfego rodoviário á já uma realidade nalgumas vias da cidade, faltando soluções urgentes como vias subterrâneas, viaduto ou vias em resultado de demolições.

h)      No domínio das infraestruturas marítimas e portuárias é notável a omissão de anúncios para sua implantação em Santiago, ilha de excelência de potencialidades do setor: de assinalar as faltas de portos mistos para Santiago norte (Tarrafal e Santa Cruz), pequenos cais e arrastadores de pescas para restantes comunidades piscatórias de Santiago, estaleiros para reparação e construção de embarcações de pescas no Rincon e no futuro complexo de pescas de S.Martinho (que inclui estaleiro, cais, mercado primário de pescado e instalações de frio) em resultado da necessária e urgente deslocalização do complexo de pescas hoje na secção de cabotagem marítima do Porto da Praia), um «upgraded» terminal de cabotagem no porto da Praia que inclui mais rampas ró-ro, melhor e funcional gare de passageiros, melhoramento do piso do cais e terminal de carga de cabotagem, marinas em Tarrafal Santa Cruz, Praia e Cidade Velha, instalações da maricultura nas consideradas, pelo estudo chines, melhores enseadas do país para o efeito e construção e upgrades das estruturas de administração/autoridade marítima na Praia e no Tarrafal para Santigo norte…

i)        Em relação a educação foi uma deceção não ter-se instalado no novo campus da UNI-CV (a China que o construiu, tem varias universidades marítimas como as de Shangai e Dalian), a faculdade do mar e de cursos de engenharias, multimédias, artes e agro-negócio, cuja administração de cursos faria justiça ás necessidades urgentes de formação para emprego de santiaguense e gente do sul, em setores de grande demanda de quadros a nível internacional e para o desenvolvimento regional de Santiago;

j)        No domínio de transportes falta um aeroporto adequado para a capital em termos de extensão da pista, mais balcões de check-in e de despacho de passageiros á chegada, mais placas de estacionamento de aviões, nova esteira de cargas e sala de espera á chegada! Ademais assinala-se a precariedade de prestações de serviços de transportes aéreos marítimos para a Praia / Santiago;

k)       Em boa parte de serviços, falta melhorias infrastrutuarais (serviços marítimos, saúde, cultura… mas também da qualificação de pessoal para a boa prestação/atendimentos junto de usuários;

l)        Na agricultura. Padecemos de regeneração de propriedades degradadas e de plantio de coqueiros, mangueiras (na Cidade Velha por exemplo) e de outras culturas já envelhecidas e adoentadas, dinamização urgente, em curso, da agua dessalinizada, a manutenção e equipamento das barragens para a irrigação efetiva das propriedades a montante e a jusante das barragens.

2.       Na Cultura

Há um imenso vazio em Santiago e na Praia para servir, particularmente nos meses de Fevereiro e Agosto, os interesses e ocupações dos turistas e emigrantes de visita á ilha! Praticamente não existem produtos turísticos, roteiros e acessibilidades qualificados e sua sinalização adequada. Há inúmeras festas municipais, de romarias e festivais que devem ser qualificados, moldados e publicitados para servir a todos! Há falta na capital e aonde se aplica, o museu de arte contemporânea, sessões regulares de teatro, concertos e danças de qualidade em espaços qualificados para tal (o tal edifício – Fórum Cultural da Praia no parte 5 de Julio - proposto por mim), a reposição do centro de artesanato e de design da Praia e da feira anual de artesanato que foi descontinuado, o todo mundo canta e demais «hapenings» que os players de entretenimentos possam ser incentivados a levar a cabo!

3.       No domínio da segurança continua a não haver:

-O trabalho aturado de identificação de bolsas de pobreza e de situações de exclusão e implementação de medidas socioeconómicas, nomeadamente das condições das habitações dos bairros e promoção do emprego para minimização das revoltas e propensão para criminalidade juvenil e outras que causam a insegurança;

-Presença de  estruturas policiais adequadas, para, na hora certa, e em lugares relevantes de criminalidade e atos ilícitos, prevenir e combater os que causam insegurança.

4.       Ordenamento do território e urbanização

Continuamos a ter cidades com elevado índece e más consequências do mau ordenamento da construção e expansão urbanas, nalgumas cidades da ilha. Há falta do ordenamento costeiro e omissão de intervenções dos departamentos competentes que permetiu a selvajaria, a má prática e ilicitudes na construção nas frentes e orlas marítimas na cidade da Praia e amiúde nalgumas cidades de Santiago. As cidades continuam a expandir-se pelas costas e linhas de agua impróprias para o bom assentamento e a não pintura de casas penduradas e configuradas por alguns metros quadrados de latões e blocos cinzentos tornam a cintura da Praia e parte importante das cidades de Santiago norte sul, espaços de imensa feiura e insanos para a adequada qualidade de muita gente mais pobre da nossa ilha.

5.       Turismo e negócios

Tendo sido qualificada por especialistas e operadores nacionais e estrangeiros  de turismo como José Mascarenhas e operador madeirense como a ilha com mais potencialidades, em C.Verde, para  turismo, ai ilha continua em segundo plano no que respeita a infraestruturação básica para o desenvolvimento turístico e aquela, em relação á qual, os governantes negam ir trazer os investidores que iniciaram ou anunciaram obras estruturante nos domínios hoteleiros, complexos turísticos e resorts como o de Santa Fé Resorts e Sambala Village (em S.Francisco), Hilton, Djeu, Vitória Bay, Santiago Resorts e muitos outros na Praia. Há insuficiente qualificação de acessibilidades, roteiros e produtos turísticos numa ilha onde há praias de mar, montanhas, artesanato (embora enfraquecido), genuinidade e feitos das povoações do interior, património, história na Cidade Velha, cultura, dinâmica genuína de interculturalidade e de crescimento da capital. Não há outro ponto do país com maior potencial turístico e, no entanto, não qualificado[I/TS-JCP1]  e inexplorado!

Recomendações.

Muito poucas pois, elas estão intrínsecas no diagnóstico essencial atrás apresentado. No entanto destacaria a necessidade urgente, prioritária, de no debate do Estado da Nação e consequente acompanhamento e combate para implementação os nossos deputados, governantes, ONG e forças vivas, façam por parar a indiferença e desconstrução de Santiago que julgamos está a ocorrer em relação a Santiago e, essencialmente, lutarmos para:

- A implementação dos epicentros dos clusters/plataformas dos TICS, agronegócio e praça financeira; serão essenciais para garantir o crescimento agora imobilizado, a competitividade e o emprego para santiaguenses e não só!;

- A negociação nos cadernos de encargos, com a concessionária Vinch, para a justa, urgente, prioritária e urgente implementação das melhorias propostas acima para o aeroporto da Praia;

- Combater para a ligação do ramal ao ponto de enchimento do gás natural no Porto da Praia, do gasoduto Nigeria – Marrocos que está abrangendo todos os países da sub-região exceto C.Verde. Seria essencial para baixar o custo e aumentar a regularidade do abastecimento do gás a C.Verde ao mesmo tempo que contornaríamos o factual e habitual discurso de secundarização de nosso pequeno Estado insular na integração africana!

- A implementação de base logística no Porto da Praia proposta por China e Brasil para a Africa Ocidental

- A instalação das infraestruturas e instituições adequadas para os subsetores marítimos, portuários, das pescas e da maricultura assinaladas e a autonomização das respetivas administrações;

- Melhorias e a incentivação para as referidas condições para o desenvolvimento turístico, negócios feiras e exposições internacionais e para o parque industrial para o desenvolvimento industrial nas nossas regiões de Santiago;

-Capacitação da escola agraria para ser o centro para a implementação do agronegócio e qualificação da UNI-CV para a formação para o mar, engenharias e demais áreas referidas anteriormente;

- Combate para a preparação atempada do pessoal para garantir o pleno e competente funcionamento do futuro hospital de raiz e do Hub Tecnológico, este preste a ser concluído em termos de infraestruturas.

- Construir uma visão para o desenvolvimento regional de Santiago para que os atores desse desenvolvimento possam, de forma competente, combater para a materialização dessa visão e assim garantirmos um desenvolvimento sustentável para Santiago, assim como muitos outros o fazem para as suas ilhas e com resultados a olhos vistos.

Ao trabalho!

Feito na Praia aos 26 de julho de 2022.

José Jorge Costa Pina – Mestre em Gestão do Transporte Maritimo e Presidente da Pró-Praia.