A defesa nacional e as Forças Armadas encontram-se numa crise profunda que, dia a dia, parece ser mais complexa e já não se sabe bem por que razão como começou, nem como poderá acabar e quando, mas não é fomentando a divisão que se consegue prestigiar as nossas Forças Armadas.
De entre as cinco funções de soberania nacional (diplomacia, justiça, finanças, segurança interna e defesa nacional), todas elas suporte da identidade e da persecução dos objetivos nacionais permanentes, é provavelmente a Defesa Nacional (a par da Segurança Interna) aquela que, certamente por preconceito ideológico, menos tem merecido dos decisores políticos o cuidado necessário.
Ao longo dos últimos tempos, com o pseudo projeto de conceito estratégico, temos vindo a assistir a uma “guerra” entre os diversos ramos das Forças Armadas Cabo-verdianas, fomentada pela hierarquia militar e pelo poder politico.
Não consigo entender a posição do Ministério da Defesa ao excluir a Guarda Nacional (GN) do “conceito estratégico”, “promovendo” a Guarda Costeira (GC). O mais bizarro desta situação é que é um ex-CEMFA (Chefe de Estado Maior das Forças Armadas) a provocar essa divisão, esquecendo que as Forças Armadas são constituídas por diversos Ramos e que todos são necessários para a prossecução de uma politica coerente de defesa nacional.
Tenho vindo a alertar para esse facto e tenho sugerido, para debate, alterações à organização das Forças Armadas, sabendo que algumas delas são controversas, merecendo contraditório e discussão.
O interesse nacional não se compadece com guerras internas entre os diversos ramos das Forças Armadas e com a busca irresponsável de protagonismo em detrimento de outros. Essa situação só demonstra falta visão e desprestígia as FA.
Defendi, em artigos anteriores, uma organização assente em componentes (naval, terrestre e aérea), uma organização por funções operativas (ou por sistemas funcionais do campo de batalha) em vez da tradicional e cada vez mais anacrónica organização por Armas e Serviços.
Entendo que a opção por uma organização por componentes, muito próxima do que a lei prevê para a organização em estado de guerra, consubstancia-se como lógica, criadora de sinergias, complementaridade e integradora de meios, técnicas, táticas e procedimentos e caminha no sentido que preconizo.
Um dispositivo baseado neste pressuposto implica, a montante, uma estrutura única de planeamento e emprego dos recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis e, como tal, centralizado no Comando das Forças Armadas.
Estou de acordo e entendo e necessidade de discussão de uma organização diferente, eventualmente mais eficaz, das Forças Armadas, sabendo que o adiamento de reformas estruturais só beneficia quem as pretende fragilizar e tornar irrelevantes, tendência que se tem revelado praticamente constante nos últimos anos.
É, por isso, que não consigo perceber estas atitudes do poder político e militar de “comprar” uma guerra fraturante entre os diversos ramos das Forças Armadas Cabo-verdianas.
A defesa nacional e as Forças Armadas encontram-se numa crise profunda que, dia a dia, parece ser mais complexa e já não se sabe bem por que razão como começou, nem como poderá acabar e quando, mas não é fomentando a divisão que se consegue prestigiar as nossas Forças Armadas.
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