O aumento da depredação humana da ave rabo junco nas ilhas do Sal e da Boa Vista poderá estar associado à pandemia da covid-19, que originou a diminuição de visita de turistas nestas duas ilhas.
O professor da Universidade de Barcelona (Espanha), Jacob Gonzalez-Solis, que tem trabalhado com várias organizações não-governamentais na conservação de aves marinhas, disse que este ano registou um elevado número de depredação humana da ave rabo junco, de forma “muito mais expressiva” do que antes.
“Suspeita-se que a diminuição de visita de turistas devido a pandemia da covid-19, de dinheiro e a falta de trabalho, poderão ter desembocado na depredação desta espécie de ave marinha”, disse.
As duas ilhas possuem uma população expressiva do animal e a ilha do Sal é o lugar de reprodução “mais importante” desta espécie de ave marinha de toda a África Ocidental, referiu o professor, para quem o aumento da depredação poderá também piorar os problemas de captura de tartaruga na próxima temporada de desova, que se avizinha.
“Estamos um pouco assustados e se não voltar o turismo, a captura de tartaruga, depois de um ano da covid-19, em que muitas pessoas não têm nenhum tipo de rendimento, pode afectar também a captura de tartaruga”, disse Jacob Gonzalez-Solis, salientando que a depredação é para retirar a carne que é utilizada para alimentação.
Este disse que as pessoas apanham as aves e retiram as penas no local, observando que na ilha do Sal, por exemplo, a organização não-governamental, que trabalha no projecto de preservação desta espécie, encontrou um saco de pena de rabo de junco que foi depredado, tendo os depredadores levado para a casa somente a carne, desconhecendo se ela é comercializada ou apenas para consumo próprio.
Com relação a ave gongon, Jacob Gonzalez-Solis disse que este ano foi “bastante complicado” devido à “grande captura” desta espécie pelos gatos selvagens, tendo sido contabilizado até este momento um total de 11 gongons capturados pelos gatos, um número elevado para uma população estimada em cerca de 300 casais, a nível da ilha.
A proliferação de gatos que capturam gongons e outras espécies de aves, lagartixa e tudo que encontram no campo está a afectar a biodiversidade, observando que os gongons mortos estavam na fase de incubação e de reprodução.
Outra questão relacionada com esta espécie é a electrificação de Chã das Caldeiras, um dos locais de reprodução, defendendo que as autoridades, para evitar uma iluminação pública de lugar que provoca a poluição luminosa para o céu, devem ter isso em atenção, porque, explicou, o aumento da quantidade de luz afecta negativamente o gongon que, de forma silenciosa, vai abandonar o lugar de reprodução.
No quadro da colaboração que a Universidade de Barcelona tem mantido com o Projecto Vitó, vai aumentar a vinda do número de estudantes universitários de Barcelona para realização de trabalhos de campo com aves marinhas.
Jacob Gonzalez-Solis disse que em Novembro de 2020 a universidade tinha enviado dois estudantes e que neste momento encontra-se no Ilhéu de Cima uma estudante de nacionalidade alemã a realizar trabalho de campo.
Durante o Verão, continuou, chegarão mais quatro estudantes para desenvolver trabalhos no Ilhéu de Cima e na ilha Brava.
Segundo o mesmo, a ideia é, pela primeira vez, realizar um trabalho de seguimento da população de cagarra na ilha Brava, com a colocação de uma equipa de três a quatro pessoas para fazer monitorização desta espécie, que está a reproduzir na Brava, mas também para conhecer o movimento marinho e saber onde procuram os alimentos.
Jacob Gonzalez-Solis disse que a Fundação Mava, principal financiador do projecto de preservação de aves marinhas, termina no próximo ano e que é momento de fortalecer a rede de parques naturais e de áreas marinhas protegidas.
Mas também, prosseguiu, para que as autoridades governamentais procurem mais recursos para as áreas protegidas e fortalecer os parques naturais de forma que os técnicos possam dar continuidade à monitorização e fiscalização das áreas marinhas quando o projecto terminar.
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