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Tensão na Inforpress. Jornalistas criticam viagem de director de informação a Marrocos “para ver Mundial de clubes”
Sociedade

Tensão na Inforpress. Jornalistas criticam viagem de director de informação a Marrocos “para ver Mundial de clubes”

A deslocação do director de informação da Inforpress a Marrocos está a indignar os jornalistas da agência pública de notícias, gerando um mal-estar na redação. É que, segundo dizem, Hélio Robalo terá enganado a redação de que iria participar num evento a convite da Federação Atlântica das Agências de Notícias Africanas (FAAPA), quando “na verdade foi assistir aos jogos do mundial de clubes”, que decorreram naquele país magrebino de 1 a 11 deste mês, “tudo à custa da Inforpress”. O administrador-único, José Vaz Furtado, prefere não falar sobre o assunto, mas facultou documentos que confirmam o convite da FAAPA... para a cobertura da Copa do mundo de clubes.

“Bom dia caros colegas,  Sirvo-me deste email para informar que, a convite da FAAPA enquanto Director de Informação, estarei a participar, de 1 a 12 de Fevereiro, num programa de trabalho promovido por esta rede de agências de notícias. Durante a minha ausência, a jornalista Carmen Martins assumirá as funções de Directora de Informação substituta. Por outro lado, estarei também disponível  para tratar outros assuntos se assim entenderem”, escreveu Hélio Robalo aos jornalistas da Inforpress às vésperas da sua viagem.

Uma mensagem que não terá descido para alguns jornalistas, que estranharam, desde logo, o conteúdo da informação, a começar pela coincidência com a realização do Mundial de Clubes naquele país do magrebe, bem como pelo tempo de duração do tal evento da FAAPA. 

“Tudo muito estranho. Um evento da FAAPA a acontecer no mesmo país e na mesma data que a realização do Mundial de Clubes. Nisto começamos a investigar e viemos a saber juntamente de nossos colegas de outros países africanos que houve um convite para os diretores das agências de seus países e mais um jornalistas para acompanharem os bastidores e fazer também cobertura jornalística do Mundial de Clubes. Hélio Robalo, em duas semanas, mandou apenas dois textos, passando mais tempo a postar nas redes sociais fotos dele deitado na cama do hotel, vídeos em estádios de futebol e etc.”, conta em anonimato, por medo de represálias, um jornalista integrante do corpo redatorial da Inforpress.

Entretanto, mais um texto haveria de ser publicado na tarde de segunda-feira, 13, desta feita para anunciar, só no final desse evento, que a Federação Marroquina de Futebol tinha convidado 160 representantes de mídias africanas para conhecerem estruturas desportivas do país.

Santiago Magazine ouviu mais um jornalista da Inforpress, que também em anonimato, manifestou “grande revolta” com mais episódio de gestão danosa na Inforpress e tristeza pelo facto de que quem tem competência nada estar a fazer para pôr fim às “infantilidades, abusos e desnortes desta gestão”.

“É triste quando a Inforpress não mandou uma equipa para cobrir o Torneio da União das Federações Oeste Africanas (UFOA), em seniores  feminino, que aconteceu recentemente na ilha do Sal, por falta de verbas, mas há dinheiro para duas semanas de ajudas de custo para o director ir passear no Marrocos”, queixou, indicando ainda que a redação da Inforpress na cidade da Praia está a funcionar com apenas um condutor, uma vez que o outro está de férias, mas que, “ao contrário do que se faz sempre, não se contratou ninguém para cobrir estas férias, com a justificativa de falta de verbas, obrigando os jornalistas a se desenrascar nas reportagens com boleias e serviço de táxi, enquanto que a outra está com o administrador único que, inclusive, dorme com ela à porta de casa”.

O caso da viagem do director de informação, Hélio Robalo, adensou ainda mais o clima de tensão latente na empresa e a onda de desconfiança entre a redação e a administração. Isto porque, a mensagem passada aos jornalistas era de Robalo iria participar num evento da FAAPA, a convite desta federação atlântica. Mas segundo documentos fornecidos pelos jornalistas, o convite veio da Federação Marroquina de Futebol, através do seu secretário-geral, Tarik Najem, que queria aproveitar a mediatização do Mundial de clubes para dar a conhecer “as modernas infra-estruturas desportivas, as potencialidades e capacidades de Marrocos” que vai acolher a CAN de 2025.

O programa para os 10 dias em Marrocos, efectivamente, apenas incluia deslocações aos estádios onde decorreram os jogos do Mundial, em Rabat, Tanger, Agadir, Marrakesh, Fez e Casablanca, e ainda os horários dos cocktails, almoços e jantares oferecidos pela organização.

E como mais uma prova de que terão sido enganados, os nossos interlocutores facultaram ao Santiago Magazine cópia de e-mails trocados entre o próprio director de Informação e o responsável pelos bilhetes dos jogos. “Eu sou Yousra Oukhouya, responsável pelos ingressos para a cobertura do Mundial de Clubes de 31 de Janeiro a 12 de Fevereiro 2023. Por esta via, entro em contacto consigo para marcar o seu bilhete de viagem. Para tal, vou precisar das seguintes informações: cidade da partida e data de chegada (antes de 31 de Janeiro)”, lê-se no e-mail endereçado a Robalo.

Administração em silêncio

O director de informação da Inforpress, Hélio Robalo, ainda não regressou da viagem que terminaria no dia 11, pelo que não pudemos ouvir a sua versão. Entretanto, o administrador-único da agência não quis comentar este assunto, que, para ele, “é um não-assunto”, eventualmente porque, como José Vaz Furtado, sabe Santiago Magazine, terá comentado com seus amigos, que se trata de mais uma tentativa de um pequeno grupo para o atacar avulsamente com falsas informações, acreditando, por isso, estar a ser perseguido por pessoal descontente porque deixaram os cargos que antes detinham.

Entretanto, Furtado, para provar que houve sim um convite da FAAPA, nos apresentou cópia de um e-mail enviado pelo secretário-geral daquela federação, Mohamed Anis, a solicitar, com urgência a indicação de um jornalista para “assegurar a cobertura da copa do mundo de clubes”, o que confirma que houve esse convite da Federação Atlântica das Agências de Notícias.

A nota, com data de 26 de Janeiro (quatro dias antes do certame), e que sublinha o carácter de urgência do pedido, solicita “o envio rapidamente das coordenadas (nome, e-mail, telefone…) do jornalista, acompanhado de um fotografia e cópia do passaporte”, acrescentado Mohamed Anis que “os organizadores garantirão ao jornalista todos os encargos com bilhete de passagem, alojamento, alimentação e transporte durante a estada no Marrocos”. Por este e-mail fica claro que a Inforpress apenas atribuiu a Hélio Robalo a ajuda de custo a que tem direito, ou seja, um terço.

As ondas de choque na Inforpress estão impossíveis de camuflar, apesar do trabalho notório da administração a nível da melhoria das infra-estruturas (obras em curso). As relações entre a administração e a redação (nem todos os jornalistas, seguramente) estão azedas e o clima é de cortar à faca. José Vaz Furtado terá comentado com seus amigos e pessoas das suas relações que o problema reside num grupo de três jornalistas que querem manchar a sua gestão. E quase sempre aponta Geremias Furtado (presidente da AJOC) como o cabecilha, por ter sido afastado do cargo de director de informação e da coordenação das redes sociais da Inforpress.

Os jornalistas, esses, insistem em como o administrador-único da agência gere a empresa como seu feudo, sem respeitar ninguém, que é como quem diz, os jornalistas.

Velha rixa

De recordar que em Março de 2022 a então diretora de informação da Inforpress, Maria de Jesus Barros, pediu demissão do cargo por, alegadamente, sofrer ingerência nos assuntos da redação, por parte do administrador único, José Vaz Furtado, este que negou na altura e até terá ganho a disputa junto da ARC, voltou em janeiro deste ano a ser acusado pelos jornalistas desse órgão público de comunicação social, de se intrometer em assuntos que dizem respeito à redacção e de estar a fazer uma gestão pouco “ortodoxa” da Inforpress, "com recursos a amiguismos e compadrios".

Entre os descontentes está o presidente da Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC), Geremias Furtado, que, inclusive, já apresentou uma queixa na Agência Reguladora da Comunicação (ARC) e uma outra por perseguição e assédio laboral por parte de José Vaz Furtado à Inspecção-geral do Trabalho.

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