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Ministério Público alega "especial complexidade" do processo para alargar prisão de Amadeu por mais quatro meses
Sociedade

Ministério Público alega "especial complexidade" do processo para alargar prisão de Amadeu por mais quatro meses

O Tribunal da Relação do Barlavento (TRB) deferiu esta quarta-feira, 14, o requerimento do Ministério Público (MP) e declarou "especial complexidade" do processo que envolve o advogado Amadeu Oliveira, e eleva prisão preventiva para 18 meses.

O advogado cumpre prisão preventiva desde o dia 18 de Julho de 2021 e o anúncio do deferimento do pedido do MP de especial complexidade do processo, que alarga em mais quatro meses a prisão preventiva, foi dado a conhecer esta quarta-feira, após a notificação das partes, já que a juiz-relatora desta decisão do TRB, Circe Neves, que preside o tribunal colectivo, comunicou que fará chegar na quinta-feira, 15, uma cópia deste documento à comunicação social.

Tanto quanto apurou a Inforpress, na sua decisão, entre outros, o TRB justificou que se mostra “real e latente” o perigo de o arguido, estando em liberdade, “postergar a acção da justiça fugindo para o estrangeiro” com a “mesma facilidade” com que “concebeu e executou”, como “tem assumido”, a fuga de Arlindo Teixeira, que “acompanhou pessoalmente em todas as etapas”, de Cabo Verde até ao destino.

Daí manter Amadeu Oliveira em prisão preventiva, pois o prazo, antes da declaração de especial complexidade, expirava no próximo domingo, 18.

Por outro lado, durante a sessão da tarde de hoje a juiz-presidente mostrou-se agastada com o atraso e a circunstância, que disse serem “estranhas”, de a Assembleia Nacional se pronunciar sobre o pedido de autorização de dois deputados para deporem na qualidade de testemunhas no processo que envolve o advogado Amadeu Oliveira.

“Há muito que enviamos o ofício a solicitar a autorização da Comissão Permanente da Assembleia Nacional, temos um tempo para concluir o julgamento, e achamos isto muito estranho, sendo inclusive duas testemunhas apontadas pela defesa do arguido”, declarou a juiz-presidente, que prometeu ainda “entrar em contacto” com as autoridades competentes a ver o que se está a passar.

Em causa está a autorização aos deputados António Monteiro e Démis Lobo para deporem, como testemunhas abonatórias, no julgamento que se iniciou no passado dia 29 de Agosto, o que só pode ser feito mediante autorização da Comissão Permanente da Assembleia Nacional.

Em relação à sessão de hoje, o Ministério Público iniciou a reprodução e exame da prova audiovisual, que, durante cerca de duas horas, basicamente se resumiu à audição e visualização de notícias veiculadas na rádio e televisão públicas com declarações do arguido, entre os meses de Junho e Julho de 2021, mas também por um canal na rede Facebook, Adilson Time, para além de áudios enviados pela Assembleia Nacional.

O julgamento de Amadeu Oliveira prossegue na sexta-feira, 16, ainda com a reprodução e exame de mais prova audiovisual, a partir das 09:00.

O advogado Amadeu Oliveira está acusado de um crime de atentado contra o Estado de Direito, um crime de coacção ou perturbação do funcionamento de Órgão Constitucional e dois crimes de ofensa a pessoa colectiva.

Foi detido no dia 18 de Julho de 2021 e, dois dias após a detenção, o Tribunal da Relação do Barlavento, sediado em São Vicente, aplicou a prisão preventiva ao então deputado nacional eleito nas listas da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) pelo círculo eleitoral de São Vicente.

No dia 14 de Fevereiro, como resultado de uma Audiência Preliminar Contraditória, Amadeu Oliveira foi pronunciado nos crimes que vinha acusado e reconduzido à Cadeia Central de São Vicente onde continua em prisão preventiva.

Em 29 de Julho, a Assembleia Nacional aprovou, por maioria, em voto secreto, a suspensão de mandato do deputado, pedida em três processos distintos pela Procuradoria-Geral da República (PGR), para o poder levar a julgamento.

Em causa estão várias acusações que fez contra os juízes do Supremo Tribunal de Justiça e a fuga do País do condenado inicialmente a 11 anos de prisão por homicídio – pena depois revista para nove anos – Arlindo Teixeira, em Junho do ano passado, com destino a Lisboa, tendo depois seguido para França, onde está há vários anos emigrado.

Arlindo Teixeira era constituinte de Amadeu Oliveira, forte contestatário do sistema de Justiça cabo-verdiano, num processo que este considerou ser “fraudulento”, “manipulado” e com “falsificação de provas”.

Amadeu Oliveira assumiu publicamente, no parlamento, que planeou e concretizou a fuga do condenado, de quem era advogado de defesa, num caso que lhe valeu várias críticas públicas.

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