Coordenador da Campanha "Menos Álcool, Mais Vida", afirma que o abuso do álcool não diminuiu na sociedade cabo-verdiana, pelo que sugere a redução das taxas de álcool na condução, hoje a 0,8g/l e que a seu ver “são muito altas”.
O coordenador da campanha Manuel Faustino até salienta isso mesmo - os "ganhos importantes" conseguidos na prevenção do uso abusivo de álcool no último ano – , mas admitiu que o consumo não diminuiu. Levando em conta um estudo do INE sobre o tema feito em 2015, significa que cada cabo-verdiano continua a ingerir em média 20,16 litros de álcool puro por ano, sendo 6,1 de aguardente (grogue), 5,1 de vinho e 3,5 de cerveja.
"A grande preocupação inicial era fazer com que um problema que vinha e vem matando muita gente fosse tratado publicamente. Isso já se conseguiu e hoje falar dos males do uso abusivo do álcool tornou-se normal. É um grande ganho, mas manifestamente insuficiente", disse Manuel Faustino.
O coordenador da campanha falava esta terça-feira aos jornalistas, na cidade da Praia, no âmbito de um encontro de parceiros para fazer um ponto de situação da campanha, lançada em 2016, e abordar as medidas apara este ano.
A campanha "Menos Álcool, Mais Vida", decorre desde Novembro de 2016, com o alto patrocínio do Presidente da República e o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS), e mobiliza mais de 60 entidades, entre departamentos estatais, autarquias, organizações não-governamentais, universidades, escolas, entidades desportivas, sindicatos e congregações religiosas.
Além da visibilidade dada ao problema do consumo abusivo do álcool, Manuel Faustino apontou como "ganhos importantes" a proibição de uso de álcool nas festas escolares e nas cantinas das Forças Armadas, onde, segundo disse, "se vendiam muitas, muitas bebidas alcoólicas".
"Dizer que o consumo reduziu, temos de ser muito claros e dizer que não", disse, sublinhando que este tipo de campanhas só tem reflexos a médio ou longo prazo.
No mesmo sentido, o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, destacou o facto de se ter conseguido introduzir na agenda política e social o combate ao uso abusivo do álcool.
"Naturalmente, numa campanha destas, os resultados não podem ser imediatos, serão a prazo", disse.
Em 2018, a campanha vai reforçar a sua presença na comunicação social e tentar alargar o âmbito de intervenção das actuais duas regiões piloto - Santiago Norte e São Vicente - para todo o território nacional.
Manuel Faustino apontou ainda como meta a aplicação prática da Declaração do Tarrafal, documento aprovado em Outubro e que reúne um conjunto de propostas em matéria de preços, fiscalização, distribuição e produção de bebidas alcoólicas.
A Comissão de Coordenação de Álcool e Outras Drogas está a preparar legislação actualizada nesta matéria, processo no qual a campanha está a colaborar, tendo apresentado várias propostas.
"É fundamental legislar sobre as taxas de álcool na condução. Temos taxas muito altas (0,8g/l)", disse Manuel Faustino, defendendo a aplicação de uma taxa 0 para os condutores de transportes públicos.
O responsável da campanha quer também banir ou restringir muito a publicidade a bebidas alcoólicas.
As famílias cabo-verdianas mais do que duplicaram, entre 2002 e 2015, as despesas com bebidas alcoólicas, que representam 4% do orçamento familiar.
Em 2002, as despesas com bebidas alcoólicas representavam 1,8% do orçamento das famílias cabo-verdianas, tendo, em 2015, esse valor subido para os 4%, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde (INECV).
Nos agregados familiares com despesas de consumo de álcool (38,7% das famílias cabo-verdianas), cada pessoa gastou em média, por ano, mais de 7.000$00 em bebidas alcoólicas, sendo a ilha da Boa Vista a que apresenta maior gasto médio por pessoa, mais de 14 contos, e Santiago a menor mas quase a chegar aos sete contos.
Os dados revelam ainda que estas famílias gastaram mais em bebidas alcoólicas (4% do orçamento) do que em ensino (2,1%) e saúde (2,7%).
Ainda de acordo com os mesmos números, cada cabo-verdiano consumiu em média 20,16 litros de álcool puro por ano, sendo 6,1 de aguardente (grogue), 5,1 de vinho e 3,5 de cerveja. Este valor não inclui as bebidas ingeridas a acompanhar refeições.
Com Lusa
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